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Aos 62, historiador britânico Tony Judt morre nos EUA
Ele sofria desde 2008 de doença neuromuscular progressiva que deixou seu corpo paralisado
Intelectual conhecido pelo livro "Pós-Guerra - Uma História da Europa desde 1945" se manteve ativo até o fim da vida
DE SÃO PAULO
O historiador britânico
Tony Judt, 62, autor de "Pós-Guerra - Uma História da Europa desde 1945", morreu na
última sexta-feira, segundo
nota divulgada ontem pela
Universidade de Nova York,
onde Judt lecionava.
O historiador -provavelmente o principal intelectual
social-democrata em atividade- lutava desde 2008 contra uma esclerose lateral
amiotrófica (ELA), doença
neuromuscular progressiva
que em poucos meses resultou na paralisia de seu corpo.
Conhecido como doença
de Lou Gehrig -em alusão ao
jogador de beisebol que morreu aos 37 anos da enfermidade-, o mal provoca a morte das células nervosas.
"A ELA constitui uma prisão progressiva sem condicional", escreveu ele, em janeiro, na "The New York Review of Books".
Judt respirava com a ajuda
de aparelhos, mas manteve-se ativo, publicando artigos e
livros que atacavam o pensamento conservador e a crescente desigualdade econômica na Europa e nos EUA.
Formado em instituições-símbolo da academia europeia -a Universidade de
Cambridge e a Escola Normal
Superior, em Paris-, Judt lecionou em universidades
americanas durante a maior
parte de sua carreira.
Nascido em Londres, de
família judia, foi partidário
da política israelense quando jovem. Mas ficou conhecido por críticas à política externa americana, ao futuro
da Europa e a Israel.
Em 2006, envolveu-se em
uma polêmica ao declarar
que "Israel é hoje ruim para
os judeus".
Nas palavras do "New
York Times", Judt falava
"verdades mal-educadas"
que despertavam tanto admiração quanto críticas de
outros intelectuais.
Judt morava em Manhattan, era casado e pai de dois
filhos, de 15 e 12 anos.
OBRAS
Sua carreira foi marcada
por opiniões contundentes e
críticas aos discursos políticos hegemônicos. Dois de
seus livros, lançados no Brasil em 2008, defendem ideias
polêmicas. Em o "Passado
Imperfeito" (Nova Fronteira), acusa intelectuais franceses do pós-Guerra de fazerem vista grossa às perseguições cometidas pelo comunismo.
Já em "Pós-Guerra" (ed.
Objetiva), Judt critica Israel
por esvaziar o significado do
Holocausto. Com quase 900
páginas, o livro faz um denso
panorama da história europeia contemporânea.
Seu livro "Reflexões Sobre
um Século Esquecido" foi
lançado em maio no Brasil.
"Ill Fares the Land", sua última obra, ainda é inédita em
português.
A DOENÇA
Em texto publicado no caderno Mais! em 10 de janeiro, o historiador descreve a
percepção progressiva da
doença no próprio corpo.
"O que é diferente na ELA
é, em primeiro lugar, que não
há perda de sensação (uma
bênção dúbia) e, em segundo, que não há dor."
"Em comparação com
quase todas as outras doenças graves ou mortais, ficamos à vontade para contemplar tranquilamente e com
mínimo desconforto o avanço catastrófico de nossa própria deterioração."
A tecnologia tem ajudado
as vítimas da doença, que
progride com rapidez diferente em cada paciente. O físico britânico Stephen Hawking, também portador da
ELA, consegue trabalhar e se
comunicar graças a softwares desenvolvidos no Vale do
Silício (EUA).
FOLHA.com
Leia o texto em que Tony
Judt fala sobre a doença
que o vitimou
folha.com.br/il779518
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