São Paulo, Domingo, 08 de Agosto de 1999
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MULTIMÍDIA
Libération
de Paris

Orgãos de mídia russos reclamam de censura

JEAN-PIERRE THIBAUDAT
em Moscou

Quando um jornal russo afirma que a censura o está estrangulando, é inquietante. Quando todo um grupo de mídia nacional -rádio, televisão, jornais- convoca uma coletiva de imprensa, como fez na semana passada o grupo Media-Most, para denunciar as pressões da administração presidencial, é preocupante, mesmo que o protesto exprima o ponto de vista de um só grupo.
Mas, quando 14 diretores de Redação de jornais pertencentes a grupos diferentes -logo, representando tendências distintas- enviam uma carta aberta ao presidente Boris Ieltsin, como fizeram na semana retrasada, dizendo que a liberdade de expressão está ameaçada na Rússia e que o país vive uma situação anormal no que diz respeito à imprensa, o problema passa a ser de Estado.
Da mesma forma que na Europa, onde as democracias já são maduras, na Rússia, com sua democracia ainda incipiente, a proximidade de eleições sempre é um bom barômetro com o qual medir a liberdade e a independência da imprensa.
A Rússia terá eleições legislativas em dezembro deste ano e eleição presidencial no verão de 2000.
É nesse contexto que se confrontam dois grupos. Um deles é liderado por Vladimir Gusinski, na direção do holding Media-Most, que controla a emissora privada NTV, a rádio Echo de Moscou, o semanário "Itogui", o jornal "Segodnia" e outros.
O outro é chefiado por Boris Berezovski -é o grupo Logovaz, que controla parcialmente a emissora pública ORT, o semanário "Ogoniok" e o jornal "Nezavissimaia Gazeta", além de 15% do semanário "Kommersant".
Gusinski apoia a possível candidatura do atual prefeito de Moscou, Iuri Lujkov, nas próximas eleições presidenciais. Berezovski defende a família Ieltsin.
O chefe da administração presidencial, Alexander Volochine, desempenha um papel de peso na disputa. Ele acusa a NTV de utilizar informações para extorquir dinheiro e afirma que a emissora privada recebeu substancial ajuda financeira do Estado.
Vale notar que a estatal do gás, Gazprom, tem 49% das ações da NTV e que o governo realiza manobras com vistas a retomar o controle da Gazprom, para controlar a NTV.
Os 14 diretores de Redação escreveram ao presidente: "Políticos de alto escalão exercem pressões sobre a mídia e os jornalistas. Para isso, utilizam-se de sua influência e até mesmo do nome do presidente russo, e isso em período de pré-campanha eleitoral".
O primeiro dos políticos de alto escalão é Volochine, agindo em nome próprio. Ontem seu assessor Serguei Zverev anunciou sua demissão, acusando Volochine de ser "uma presença nociva ao país e funesta para o presidente".
O apelo ao presidente Ieltsin lançado pelos 14 jornais é com certeza uma maneira de marginalizar Volochine -mas será que alguém acredita que o presidente ignorava os atos de seu chefe de administração? Será que um presidente que não sabe o que faz seu chefe de administração ainda pode servir de garantia? Na época de Stálin, dizia-se que ele não sabia o que estava acontecendo, que a culpa era de seus assessores. Ieltsin ainda não respondeu à carta aberta.


Tradução de Clara Allain



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