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MULTIMÍDIA
Libération
de Paris
Orgãos de mídia russos reclamam de censura
JEAN-PIERRE THIBAUDAT
em Moscou
Quando um jornal russo afirma
que a censura o está estrangulando, é inquietante. Quando todo
um grupo de mídia nacional
-rádio, televisão, jornais- convoca uma coletiva de imprensa,
como fez na semana passada o
grupo Media-Most, para denunciar as pressões da administração
presidencial, é preocupante, mesmo que o protesto exprima o
ponto de vista de um só grupo.
Mas, quando 14 diretores de Redação de jornais pertencentes a
grupos diferentes -logo, representando tendências distintas-
enviam uma carta aberta ao presidente Boris Ieltsin, como fizeram
na semana retrasada, dizendo que
a liberdade de expressão está
ameaçada na Rússia e que o país
vive uma situação anormal no
que diz respeito à imprensa, o
problema passa a ser de Estado.
Da mesma forma que na Europa, onde as democracias já são
maduras, na Rússia, com sua democracia ainda incipiente, a proximidade de eleições sempre é um
bom barômetro com o qual medir a liberdade e a independência
da imprensa.
A Rússia terá eleições legislativas em dezembro deste ano e eleição presidencial no verão de 2000.
É nesse contexto que se confrontam dois grupos. Um deles é
liderado por Vladimir Gusinski,
na direção do holding Media-Most, que controla a emissora
privada NTV, a rádio Echo de
Moscou, o semanário "Itogui", o
jornal "Segodnia" e outros.
O outro é chefiado por Boris Berezovski -é o grupo Logovaz,
que controla parcialmente a
emissora pública ORT, o semanário "Ogoniok" e o jornal "Nezavissimaia Gazeta", além de 15%
do semanário "Kommersant".
Gusinski apoia a possível candidatura do atual prefeito de Moscou, Iuri Lujkov, nas próximas
eleições presidenciais. Berezovski
defende a família Ieltsin.
O chefe da administração presidencial, Alexander Volochine, desempenha um papel de peso na
disputa. Ele acusa a NTV de utilizar informações para extorquir
dinheiro e afirma que a emissora
privada recebeu substancial ajuda
financeira do Estado.
Vale notar que a estatal do gás,
Gazprom, tem 49% das ações da
NTV e que o governo realiza manobras com vistas a retomar o
controle da Gazprom, para controlar a NTV.
Os 14 diretores de Redação escreveram ao presidente: "Políticos de alto escalão exercem pressões sobre a mídia e os jornalistas.
Para isso, utilizam-se de sua influência e até mesmo do nome do
presidente russo, e isso em período de pré-campanha eleitoral".
O primeiro dos políticos de alto
escalão é Volochine, agindo em
nome próprio. Ontem seu assessor Serguei Zverev anunciou sua
demissão, acusando Volochine
de ser "uma presença nociva ao
país e funesta para o presidente".
O apelo ao presidente Ieltsin
lançado pelos 14 jornais é com
certeza uma maneira de marginalizar Volochine -mas será que
alguém acredita que o presidente
ignorava os atos de seu chefe de
administração? Será que um presidente que não sabe o que faz seu
chefe de administração ainda pode servir de garantia? Na época de
Stálin, dizia-se que ele não sabia o
que estava acontecendo, que a
culpa era de seus assessores. Ieltsin ainda não respondeu à carta
aberta.
Tradução de Clara Allain
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