São Paulo, sexta-feira, 08 de setembro de 2006

Próximo Texto | Índice

Blair deixa governo em no máximo 1 ano

Sob pressão da oposição interna no Partido Trabalhista, premiê entregará liderança antes das próximas eleições gerais

Ele deverá ser substituído na chefia do governo por Gordon Brown, ministro das Finanças, e também mentor do Novo Trabalhismo

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, cedeu à pressão de seu partido e anunciou ontem que pretende deixar o governo nos próximos 12 meses.
"Preferiria fazer isso à minha maneira, mas, como ficou óbvio pelo que meus colegas de gabinete indicaram nesta semana, a próxima conferência do partido [entre os dias 25 e 28 deste mês] será minha última como líder dos trabalhistas", afirmou Blair à BBC, durante visita a uma escola.
A indicação de que não estará mais à frente do Partido Trabalhista e do governo daqui a um ano veio após o pedido de demissão de oito vice-ministros, anteontem, e de uma carta assinada por 17 parlamentares pedindo uma data para sua saída.
No que pareceu uma manobra coordenada, pouco antes do anúncio de Blair seu maior antagonista e provável sucessor, o secretário de Finanças, Gordon Brown, deu entrevistas dizendo que apoia "qualquer decisão que o premiê tomar". Os dois haviam se reunido anteontem, num encontro que os jornais britânicos descreveram como um "beco sem saída".
Com os comentários de ontem, tanto Blair quanto Brown tentam passar a imagem de que a divisão interna dos trabalhistas, que prejudica ambos, está sendo controlada.

Data incerta
O primeiro-ministro se recusou a especificar a data em que pretende deixar o cargo, como queriam alguns de seus opositores entre os trabalhistas. "Acho que a definição da data cabe a mim e deve ser feita de maneira apropriada, de acordo com os interesses do país."
Blair também pediu desculpas ao povo britânico "pelo comportamento do Partido Trabalhista na última semana".
"Não podemos tratar o povo como observador irrelevante em decisões importantes como a escolha de quem é o primeiro-ministro", disse Blair.
Com a manutenção da maioria trabalhista na Câmara dos Comuns após a última eleição-geral, no ano passado, Blair foi indicado premiê pela terceira vez consecutiva. Mas escândalos internos (veja quadro abaixo) e o apoio à política externa dos EUA, reforçado no recente conflito entre Israel e Líbano, levaram o premiê à sua pior avaliação entre o eleitorado, segundo pesquisa recente.
A diferença de intenções de voto entre os trabalhistas e os conservadores hoje é a maior dos últimos 18 anos, com nove pontos percentuais de vantagem para a oposição. Os partidários de Brown crêem que a substituição na liderança do partido vai dissociar os trabalhistas das políticas de Blair a tempo de garantir uma nova vitória nas próximas eleições gerais, em maio de 2010.
No monarquia parlamentar britânica, o premiê, chefe de governo, não é eleito de forma direta pela população, como ocorre no presidencialismo.
O líder do partido de maior bancada na Câmara dos Comuns, uma das duas casas do Parlamento, é formalmente indicado como primeiro-ministro pela rainha, chefe de Estado. Por isso, o eventual substituto de Blair na liderança do Partido Trabalhista será também o próximo premiê.
Gordon Brown é, atualmente, o mais cotado para o cargo, mas aliados de Blair afirmam que a escolha do secretário de Finanças como novo líder trabalhista não está assegurada internamente no partido. Brown, como Blair, é um dos arquitetos do Novo Trabalhismo, que afastou o partido das políticas social-democratas tradicionais, e é tido como o responsável pelo crescimento econômico dos últimos anos.


Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.