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Blair deixa governo em no máximo 1 ano
Sob pressão da oposição interna no Partido Trabalhista, premiê entregará liderança antes das próximas eleições gerais
Ele deverá ser substituído na chefia do governo por Gordon Brown, ministro das Finanças, e também mentor do Novo Trabalhismo
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES
O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, cedeu à pressão
de seu partido e anunciou ontem que pretende deixar o governo nos próximos 12 meses.
"Preferiria fazer isso à minha
maneira, mas, como ficou óbvio
pelo que meus colegas de gabinete indicaram nesta semana, a
próxima conferência do partido [entre os dias 25 e 28 deste
mês] será minha última como
líder dos trabalhistas", afirmou
Blair à BBC, durante visita a
uma escola.
A indicação de que não estará
mais à frente do Partido Trabalhista e do governo daqui a um
ano veio após o pedido de demissão de oito vice-ministros,
anteontem, e de uma carta assinada por 17 parlamentares pedindo uma data para sua saída.
No que pareceu uma manobra coordenada, pouco antes
do anúncio de Blair seu maior
antagonista e provável sucessor, o secretário de Finanças,
Gordon Brown, deu entrevistas
dizendo que apoia "qualquer
decisão que o premiê tomar".
Os dois haviam se reunido anteontem, num encontro que os
jornais britânicos descreveram
como um "beco sem saída".
Com os comentários de ontem, tanto Blair quanto Brown
tentam passar a imagem de que
a divisão interna dos trabalhistas, que prejudica ambos, está
sendo controlada.
Data incerta
O primeiro-ministro se recusou a especificar a data em que
pretende deixar o cargo, como
queriam alguns de seus opositores entre os trabalhistas.
"Acho que a definição da data
cabe a mim e deve ser feita de
maneira apropriada, de acordo
com os interesses do país."
Blair também pediu desculpas ao povo britânico "pelo
comportamento do Partido
Trabalhista na última semana".
"Não podemos tratar o povo
como observador irrelevante
em decisões importantes como
a escolha de quem é o primeiro-ministro", disse Blair.
Com a manutenção da maioria trabalhista na Câmara dos
Comuns após a última eleição-geral, no ano passado, Blair foi
indicado premiê pela terceira
vez consecutiva. Mas escândalos internos (veja quadro abaixo) e o apoio à política externa
dos EUA, reforçado no recente
conflito entre Israel e Líbano,
levaram o premiê à sua pior
avaliação entre o eleitorado, segundo pesquisa recente.
A diferença de intenções de
voto entre os trabalhistas e os
conservadores hoje é a maior
dos últimos 18 anos, com nove
pontos percentuais de vantagem para a oposição. Os partidários de Brown crêem que a
substituição na liderança do
partido vai dissociar os trabalhistas das políticas de Blair a
tempo de garantir uma nova vitória nas próximas eleições gerais, em maio de 2010.
No monarquia parlamentar
britânica, o premiê, chefe de
governo, não é eleito de forma
direta pela população, como
ocorre no presidencialismo.
O líder do partido de maior
bancada na Câmara dos Comuns, uma das duas casas do
Parlamento, é formalmente indicado como primeiro-ministro pela rainha, chefe de Estado. Por isso, o eventual substituto de Blair na liderança do
Partido Trabalhista será também o próximo premiê.
Gordon Brown é, atualmente, o mais cotado para o cargo,
mas aliados de Blair afirmam
que a escolha do secretário de
Finanças como novo líder trabalhista não está assegurada internamente no partido. Brown,
como Blair, é um dos arquitetos
do Novo Trabalhismo, que
afastou o partido das políticas
social-democratas tradicionais, e é tido como o responsável pelo crescimento econômico dos últimos anos.
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