São Paulo, terça, 8 de setembro de 1998

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Protesto em Moscou reúne símbolo da Igreja Ortodoxa e ícones da Revolução Russa de 1917
Lênin, Stálin e Jesus dividem cartazes

France Presse
Padre ortodoxo carrega retrato de Lênin e um crucifixo em ato realizado no centro de Moscou, ontem


do enviado especial a Moscou

Retratos de Lênin e Stálin, ícones da era soviética, e imagens religiosas e cruzes da Igreja Ortodoxa Russa espelham a "santa aliança" entre saudosos da URSS e fiéis da idéia de uma Rússia "messiânica".
O ponto comum entre esses ex-inimigos é o desejo nacionalista de rever a capital russa, Moscou, como epicentro de um império e a desconfiança em relação ao Ocidente.
A "santa aliança" se formou com a desintegração da URSS.
As manifestações anti-Ieltsin passaram a ser povoadas por comunistas ortodoxos que revêem o seu ateísmo e cristãos tolerantes com o "pecado do materialismo".
Ontem, Moscou assistiu a mais uma manifestação que aproximou os inimigos do passado.
Cerca de 500 pessoas se reuniram em frente à Duma, no centro da capital russa, para pedir a renúncia do presidente do país, Boris Ieltsin, e o fim do "entreguismo e da traição" do atual regime.
Os militantes mais exaltados também disparam contra Guennadi Ziuganov, o líder neocomunista que aceitou incorporar a economia de mercado em sua cartilha ideológica.
Chamam Ziuganov, professor de matemática transformado em um dos ideólogos do desaparecido Partido Comunista da União Soviética, de traidor de Vladimir Lênin, o líder da Revolução Russa de 1917, e do sucessor Josef Stálin, que governou o país entre 1924 e 1953.
Extrema direita
Os comunistas ortodoxos, reunidos em grupelhos com pouca expressão eleitoral, também não se incomodam com o fato de dividir comícios com outros inimigos do passado.
A extrema direita russa, pulverizada em diversas facções internas, aproveita a corrente anti-Ieltsin para atirar contra a "influência maléfica" dos países do Ocidente e destilar slogans anti-semitas.
Entre os principais líderes da extrema direita russa está Alexander Barkashov, comandante de um grupo paramilitar. Seus comandados, famosos pelas roupas pretas, acham o ultranacionalista Vladimir Jirinovski "um judeu, um palhaço".
A liderança da Igreja Ortodoxa Russa busca manter distância dos grupos religiosos extremistas. Cultiva relações amistosas com o presidente Boris Ieltsin, um ex-comunista que passou a ir, esporadicamente, a missas, em outra reviravolta da Rússia pós-soviética.



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