São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2000

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ORIENTE MÉDIO
Premiê de Israel cobra fim da violência; grupo islâmico Hezbollah sequestra três soldados israelenses
Barak dá ultimato de 48 horas para Arafat

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O premiê israelense, Ehud Barak, deu ontem um ultimato ao presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat. Segundo o premiê, Arafat tem 48 horas para pôr fim aos enfrentamentos entre palestinos e soldados israelenses, que se repetiram ontem em várias regiões.
Barak anunciou que, se a violência não for controlada nesse prazo, considerará o processo de paz terminado e autorizará os militares israelenses a usar de todos os meios para pôr fim aos conflitos.
"Se não houver uma mudança nos padrões de violência nos próximos dois dias, consideraremos isso como uma cessação do processo de paz e ordenaremos ao Exército e às forças de segurança que utilizem todos os meios para interromper a violência."
O ministro da Informação palestino, Iasser Abed Rabbo, disse que a população não cederá a ameaças. "Se o processo de paz morrer, será por Barak."
A guerrilha extremista islâmica Hezbollah sequestrou ontem três soldados israelenses durante confrontos na fronteira de Israel com o Líbano, abrindo um foco de tensão que pode se estender além das fronteiras de Israel.
Barak disse que os governos do Líbano e da Síria (país que tem influência sobre o Líbano) têm responsabilidade pelo sequestro e que tomará medidas enérgicas para resgatar os soldados e garantir a segurança no norte do país.
O sequestro dos soldados israelenses ocorreu após centenas de refugiados palestinos no sul do Líbano entrarem em confronto com soldados israelenses num posto militar na fronteira.
Gritando slogans contra Israel, eles jogaram pedras contra os soldados, que atiraram contra a multidão. Dois palestinos morreram e vários foram feridos.
Segundo Israel, os soldados reagiram quando os manifestantes tentaram derrubar uma cerca que divide os dois países. Há 350 mil refugiados palestinos no Líbano.
Em represália à morte dos palestinos, os guerrilheiros do Hezbollah lançaram morteiros e mísseis Katyusha contra as forças israelenses nos postos de fronteira.
Israel respondeu com artilharia e ataques aéreos contra bases guerrilheiras nas montanhas no sul do Líbano. O Hezbollah disse que sete civis ficaram feridos.
Foi o primeiro incidente grave na região desde que Israel retirou as suas tropas do sul do Líbano em maio, pondo fim a 22 anos de ocupação. Unidades especiais do Exército israelense foram enviadas para a fronteira e colocadas em estado de alerta.
O primeiro-ministro israelense ameaçou tomar "medidas enérgicas" caso o Líbano e a Síria não coloquem "um fim imediato às atividades hostis na fronteira com Israel". Em mensagem enviada aos dois países, Israel pediu que eles "exerçam autoridade" sobre todas as organizações que atuam na fronteira com Israel.
"O papel da Síria é acabar imediatamente com essa agressão, caso contrário ela será alvo de nossa resposta", disse o vice-ministro da Defesa, Ephraim Sneh.
O ministro sírio de Relações Exteriores, Farouq Al Shara, respondeu: "As reivindicações e a ação do Hezbollah são legítimas".
Em comunicado divulgado em Beirute, capital do Líbano, o Hezbollah disse que capturou os soldados israelenses numa emboscada na região de Chebaa, perto da fronteira. O grupo diz que atirou contra a patrulha, matando vários soldados e capturando três. Israel não confirmou as mortes.
"Sequestramos os soldados como parte de nossa promessa de liberar todos os prisioneiros libaneses (em cárceres israelenses), recuperar cada porção de nossa terra ocupada e apoiar a nova Intifada (levante popular) palestina", diz o comunicado.
O Exército israelense disse que fará tudo o que for necessário para "trazer os soldados para casa sãos e salvos".
O ministro israelense interino das Relações Exteriores, Shlomo Ben Ami, fez um apelo aos Estados Unidos para que pressionem o Líbano e a Síria a restabelecer a ordem na fronteira.
O presidente Bill Clinton cancelou uma viagem interna que faria nos EUA para acompanhar os acontecimentos no Oriente Médio e tentar impedir uma escalada na violência.
Também ocorreram conflitos na Cisjordânia e na faixa de Gaza, onde um palestino morreu, elevando para 81 o número de pessoas mortas em decorrência dos conflitos dos últimos dias.

Resolução da ONU
Com a abstenção dos EUA, o Conselho de Segurança da ONU aprovou ontem uma resolução que condena "o uso excessivo de força" por parte de Israel nos conflitos. O órgão também pediu "uma investigação rápida e objetiva".
Durante a madrugada de sexta-feira para sábado, Israel retirou policiais que guardavam a Tumba de José, na cidade de Nablus, utilizada como seminário por estudantes israelenses, e transferiu a segurança do local temporariamente para forças palestinas.
A tumba foi atacada por palestinos, que colocaram fogo em caixas de munição deixadas no local e hastearam a bandeira palestina. O local, onde um dos patriarcas da Bíblia foi supostamente enterrado, é sagrado para os judeus. Arafat ordenou sua reconstrução.



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