São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2000

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Frustração gera nova Intifada em territórios palestinos

DA REDAÇÃO

A Intifada de Al Aqsa, como vêm sendo chamados os distúrbios dos últimos dias entre israelenses e palestinos, eclodiu a partir de um evento específico, tal qual "a revolta das pedras", mas reflete anos de frustração.
O ressurgimento do levante popular palestino e o atual ciclo de violência integravam as previsões desastrosas do cenário herdado pelo fracasso das articulações de paz em Camp David (EUA), em julho. A nova Intifada já contabiliza ao menos 81 mortos -quase todos palestinos, à exceção de três pessoas, incluindo um civil judeu.
O levante popular iniciado em 1987 (após a morte de quatro palestinos) chegou ao fim em 1993, com o histórico aperto de mão de Iasser Arafat e Yitzhak Rabin.
O acordo de Oslo teve o mérito de impulsionar a "paz dos bravos", mas não abordou questões cruciais como Jerusalém, refugiados, colonos judeus e a fundação de um Estado independente -hoje, os palestinos controlam cerca de 40% da Cisjordânia.
Sete anos depois, com o fracasso de uma cúpula pela paz, realizada nos EUA, que pretendia anunciar um tratado definitivo, veio a Intifada (levante, em árabe) de Al Aqsa -nome de uma das principais mesquitas de Jerusalém.
O estopim da crise foi a visita de Ariel Sharon à Esplanada das Mesquitas, no dia 28. Chamado de Melech Levanon (rei do Líbano, em hebraico), Sharon comandou a invasão de 1982 -quando quase 20 mil pessoas foram mortas-, com o intuito de expulsar palestinos do território libanês.
Atual líder do partido direitista Likud (oposição), ele esteve envolvido no massacre de Sabra e Chatila (com mais de 2.000 mortos), em 1982, e é considerado um herói pelos colonos judeus, pois incentivou a expansão dos assentamentos a partir de maio de 1990, como ministro da Habitação.
"Exatamente como às vésperas da Intifada de 1987, Israel não está ouvindo o que os palestinos estão tentando dizer nesses dias violentos", diz a israelense Amira Hass, autora de "Bebendo o Mar em Gaza". "Para os cidadãos comuns, o processo de Oslo significa aprisionamento em encraves com controle interno limitado e rodeados por postos do Exército e prósperos assentamentos judaicos."
As pedras chegam fácil às mãos de jovens desempregados, vivendo em áreas com graves deficiências na infra-estrutura, em especial no abastecimento de água e no sistema de esgoto, e quase sem liberdade de movimento. Segundo o Escritório Palestino de Estatística, 73% da população da Cisjordânia, de Gaza e de Jerusalém Oriental tem menos de 35 anos.
A saúde econômica do Estado palestino será fundamental para garantir estabilidade à região. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, "o risco de uma degradação social minar as perspectivas de uma paz duradoura na região vai se tornar devastador se não criarem empregos urgentemente em grande escala". Em alguns campos de refugiados, a taxa de desemprego chega a 70%.
"Palestinos que participaram da Intifada de 87 agora ensinam a nova geração a combater a ocupação israelense e a extravasar seu descontentamento", afirma o cientista político Nawad Amari.
Policiais palestinos dispararam contra soldados israelenses nos choques, mas se evidenciou a inferioridade militar palestina no caso de uma guerra. Israel mostrou -e utilizou- mísseis antitanque e helicópteros.
Desta vez, destacou-se o envolvimento direto de cidadãos árabes de Israel (nove morreram), com participação inexpressiva no outro levante. Alvo de discriminações, os árabes formam cerca de 20% da população israelense. Muitos deles oram na mesquita de Al Aqsa -para palestinos de Gaza, isso é quase impossível.
Quanto ao fim da violência, não depende só de Arafat, diz Hass, que acompanhou os dois levantes em Gaza. "O Exército bombardeia os israelenses com o axioma de que ele tem controle total. Nessa visão, os palestinos não são nada além de robôs, e tudo o que Arafat tem de fazer é apertar o botão certo para desligá-los."
(PAULO DANIEL FARAH)



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