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Frustração gera nova Intifada em territórios palestinos
DA REDAÇÃO
A Intifada de Al Aqsa, como
vêm sendo chamados os distúrbios dos últimos dias entre israelenses e palestinos, eclodiu a partir de um evento específico, tal
qual "a revolta das pedras", mas
reflete anos de frustração.
O ressurgimento do levante popular palestino e o atual ciclo de
violência integravam as previsões
desastrosas do cenário herdado
pelo fracasso das articulações de
paz em Camp David (EUA), em
julho. A nova Intifada já contabiliza ao menos 81 mortos -quase
todos palestinos, à exceção de três
pessoas, incluindo um civil judeu.
O levante popular iniciado em
1987 (após a morte de quatro palestinos) chegou ao fim em 1993,
com o histórico aperto de mão de
Iasser Arafat e Yitzhak Rabin.
O acordo de Oslo teve o mérito
de impulsionar a "paz dos bravos", mas não abordou questões
cruciais como Jerusalém, refugiados, colonos judeus e a fundação
de um Estado independente
-hoje, os palestinos controlam
cerca de 40% da Cisjordânia.
Sete anos depois, com o fracasso
de uma cúpula pela paz, realizada
nos EUA, que pretendia anunciar
um tratado definitivo, veio a Intifada (levante, em árabe) de Al Aqsa -nome de uma das principais
mesquitas de Jerusalém.
O estopim da crise foi a visita de
Ariel Sharon à Esplanada das
Mesquitas, no dia 28. Chamado
de Melech Levanon (rei do Líbano, em hebraico), Sharon comandou a invasão de 1982 -quando
quase 20 mil pessoas foram mortas-, com o intuito de expulsar
palestinos do território libanês.
Atual líder do partido direitista
Likud (oposição), ele esteve envolvido no massacre de Sabra e
Chatila (com mais de 2.000 mortos), em 1982, e é considerado um
herói pelos colonos judeus, pois
incentivou a expansão dos assentamentos a partir de maio de 1990,
como ministro da Habitação.
"Exatamente como às vésperas
da Intifada de 1987, Israel não está
ouvindo o que os palestinos estão
tentando dizer nesses dias violentos", diz a israelense Amira Hass,
autora de "Bebendo o Mar em
Gaza". "Para os cidadãos comuns,
o processo de Oslo significa aprisionamento em encraves com
controle interno limitado e rodeados por postos do Exército e prósperos assentamentos judaicos."
As pedras chegam fácil às mãos
de jovens desempregados, vivendo em áreas com graves deficiências na infra-estrutura, em especial no abastecimento de água e
no sistema de esgoto, e quase sem
liberdade de movimento. Segundo o Escritório Palestino de Estatística, 73% da população da Cisjordânia, de Gaza e de Jerusalém
Oriental tem menos de 35 anos.
A saúde econômica do Estado
palestino será fundamental para
garantir estabilidade à região. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, "o risco de uma
degradação social minar as perspectivas de uma paz duradoura
na região vai se tornar devastador
se não criarem empregos urgentemente em grande escala". Em
alguns campos de refugiados, a
taxa de desemprego chega a 70%.
"Palestinos que participaram da
Intifada de 87 agora ensinam a
nova geração a combater a ocupação israelense e a extravasar seu
descontentamento", afirma o
cientista político Nawad Amari.
Policiais palestinos dispararam
contra soldados israelenses nos
choques, mas se evidenciou a inferioridade militar palestina no
caso de uma guerra. Israel mostrou -e utilizou- mísseis antitanque e helicópteros.
Desta vez, destacou-se o envolvimento direto de cidadãos árabes de Israel (nove morreram),
com participação inexpressiva no
outro levante. Alvo de discriminações, os árabes formam cerca
de 20% da população israelense.
Muitos deles oram na mesquita
de Al Aqsa -para palestinos de
Gaza, isso é quase impossível.
Quanto ao fim da violência, não
depende só de Arafat, diz Hass,
que acompanhou os dois levantes
em Gaza. "O Exército bombardeia os israelenses com o axioma
de que ele tem controle total. Nessa visão, os palestinos não são nada além de robôs, e tudo o que
Arafat tem de fazer é apertar o botão certo para desligá-los."
(PAULO DANIEL FARAH)
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