São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2001

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Ação expõe divergências no governo

DE WASHINGTON

Como em todas as decisões assinadas por George W. Bush desde que assumiu o governo, em janeiro, a autorização para que militares atacassem o Afeganistão provocou especulações divergentes sobre atritos dentro do governo e várias versões sobre quem seria a "mente oculta" por trás do presidente.
A julgar pela maioria das matérias divulgadas nos dias seguintes aos atentados terroristas de 11 de setembro passado, o "moderado" secretário de Estado, Colin Powell, estaria isolado numa administração formada majoritariamente por defensores de um ataque fulminante não só contra o Afeganistão como também contra o Iraque, o Irã e a Síria.
Entre os "belicosos" estariam o vice-presidente, Dick Cheney, a assessora para assuntos de segurança nacional, Condollezza Rice, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e o subsecretário da Defesa, Paul Wolfowitz - o último chegou a sugerir a "eliminação de Estados" como retaliação.
Mas fatos divulgados nos últimos dias indicam a existência de um complicado mosaico e mostram uma influência mais forte de posições moderadas sobre o governo do que se imaginava.
Depois de sugerir que Cheney estaria rivalizando de forma crítica com Powell dentro da administração, o "The New York Times" indicou ontem que o vice não só concordou com Powell sobre a necessidade de formar uma forte coalizão, incluindo países árabes, como foi encarregado de convencer Rumsfeld a viajar para Oriente Médio e Ásia Central para reforçar os esforços diplomáticos.
Dois assessores de Rumsfeld confirmaram à Folha as pressões de Cheney sobre o secretário. Lembraram que o vice construiu na última década uma relação de amizade com líderes árabes não só durante a Guerra do Golfo (1991), quando ele próprio era secretário da Defesa, mas também por meio dos contratos petrolíferos.
É verdade que, como chefe de Rumsfeld e de Wolfowitz durante a Guerra do Golfo, Cheney é respeitado e ouvido por ambos. Mas isso não significa que o vice concorde com declarações como a de Wolfowitz, que ele considerou um "desastre".
Isso não significa que Cheney tenha uma boa relação com Powell, com quem também conviveu na Guerra do Golfo. Os dois são as mais poderosas figuras dentro de um governo que, para alguns, tem um presidente intelectualmente vulnerável.
Nos últimos dois dias, Cheney, Rumsfeld e Powell decidiram juntos com Bush os ataque ao Afeganistão. O consenso nos EUA é que, se há um grande conflito dentro do governo, ele será manifestado quando e se o país decidir ampliar seus ataques a outros países. Se isso ocorrer, é possível que Cheney e Powell manifestem a mesma opinião. (MA)



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