São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2001

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O ALVO

Saudita culpa Bush, "o chefe dos infiéis", pelos atentados de 11 de setembro nos EUA

Bin Laden promete que a "América não viverá em paz"

DA REUTERS

O homem mais procurado do mundo, Osama bin Laden, responsabilizou o "infiel" presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, pelos ataques de 11 de setembro e disse que os EUA não viveriam em paz até que os palestinos pudessem fazer o mesmo.
Em um discurso gravado em vídeo e transmitido pelo canal de TV Al Jazeera pouco depois de forças ocidentais iniciarem um ataque ao Afeganistão, Bin Laden pediu que a península Arábica fosse livrada do "mal", renovando sua antiga exigência de que forças norte-americanas deixem a Arábia Saudita, berço do islamismo, onde ele nasceu.
Bin Laden, chamando Bush de "chefe dos infiéis", expressou seu apoio aos atentados suicidas de 11 de setembro em Nova York e Washington, que mataram cerca de 5.000 pessoas.
"Todo muçulmano deve se levantar para defender sua religião. O vento da fé está soprando, e o vento da mudança está soprando para remover o mal da península de Muhammad", disse Bin Laden em sua primeira aparição pública após os ataques.
"Quanto à América, digo a ela e a seu povo algumas palavras: juro por Allah, o Grande, que a América nunca mais sonhará e não viverá em paz até que a paz reine na Palestina e o exército de infiéis deixe a terra de Muhammad, a paz esteja com ele."
Em seu discurso à Al Jazeera, com sede em Qatar, Bin Laden foi filmado contra um pano de fundo rochoso e com um fuzil automático ao seu lado.
No videoteipe, transmitido apenas duas horas depois que os EUA e o Reino Unido começaram a atacar o Afeganistão, ele não assumiu a responsabilidade pelos ataques de 11 de setembro.
Ele já havia supostamente emitido declarações por meio de associados negando estar por trás dos atentados.

Apoio
Mas Bin Laden não foi ambíguo ao declarar seu apoio aos sequestradores que realizaram os ataques. Ele disse: "Deus abençoou um grupo de muçulmanos da vanguarda, a dianteira do islã, para destruírem a América. Que Deus os abençoe e os dê um lugar supremo no paraíso, porque Ele é o único que pode fazê-lo."
Bin Laden, vestido com um casado camuflado, um lenço e um turbante, parecia cansado e olhou para o chão durante a maior parte de seu discurso, aparentemente não escrito previamente.
Ele demonstrou satisfação pelas mortes de norte-americanos em 11 de setembro, dizendo que os EUA mereciam o que haviam sofrido. Bin Laden também disse que o mundo, agora, estava dividido entre "o campo dos fiéis e o campo dos infiéis".
"O que a América enfrenta hoje é uma porção muito pequena do que enfrentamos há décadas. Nossa nação islâmica tem sentido a mesma coisa há mais de 80 anos, a humilhação e a desgraça, seus filhos são mortos e seu sangue é derramado, suas santidades, dessacralizadas", disse Bin Laden.
Segundo a Al Jazeera, o videoteipe foi filmado "algum tempo" depois de 11 de setembro.
Mohammed Qassem Halimi, funcionário do Ministério das Relações Exteriores do Taleban, disse à Al Jazeera que o Taleban havia proibido Bin Laden de dar declarações públicas até que os EUA realizassem algum ataque.
"Agora, deixamos que ele expressasse o que estava em seu coração", disse Halimi.
Ayman Zawahiri, um dos principais membros da organização de Bin Laden, a Al Qaeda (a base), e líder do Jihad Islâmico egípcio, apareceu no videoteipe e exortou os muçulmanos a resistirem aos EUA, dizendo que o ataque ao Afeganistão era um ataque ao islã.
Zawahiri, que já foi julgado no Egito e preso por três anos por sua participação no assassinato do presidente Anwar Sadat, em 1981, também foi associado pelos EUA a alguns dos suspeitos pelos ataques de 11 de setembro.
Bin Laden dirigiu grande parte de seu fogo retórico a Israel. "Todos os dias vimos os tanques israelenses na Palestina, indo a Jenin, Ramallah, Beit Jalla e muitas outras partes da terra do islã, e não ouvimos ninguém levantando a voz ou reagindo", afirmou.
"Mas quando a espada caiu sobre a América depois de 80 anos, a hipocrisia levantou sua cabeça lamentando pelos assassinos que brincaram com o sangue, a honra e as santidades do islã."


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