São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2001

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AFEGANISTÃO

Grupo extremista islâmico promete lutar até a última gota de sangue contra EUA

Taleban vê "ato terrorista" e diz que Bin Laden sobreviveu

DA REDAÇÃO

O embaixador do Taleban em Islamabad (Paquistão), Abdul Salam Zaef, declarou na noite de ontem que Osama bin Laden, acusado de planejar os ataques de 11 de setembro aos Estados Unidos, e o mulá Mohammad Omar, líder do regime islâmico, sobreviveram aos ataques de ontem.
O embaixador do Taleban, milícia extremista islâmica que controla a maior parte do território do Afeganistão, disse que, "graças a Deus", ambos estavam vivos.
Em uma declaração divulgada pouco depois do início da ofensiva norte-americana e britânica ao Afeganistão, Zaef afirmou que seu país era "vítima da arrogância americana" e classificou os ataques de atos "terroristas" e "expansionistas".
"Esses ataques brutais são atos terroristas tão horrendos quanto quaisquer outros [atos terroristas" em qualquer outro lugar do mundo", disse Zaef.
O embaixador do Taleban disse ainda que "a América nunca atingirá seu objetivo político realizando ataques horrendos ao povo muçulmano do Afeganistão".
O Taleban, disse Zaef, "sempre escolheu o caminho do diálogo e da razão para resolver os problemas, mas a América sempre escolheu a abordagem militarista".
Segundo ele, "uma atitute brutal desse tipo unificará toda a nação afegã contra a agressão".
Zaef terminou sua declaração dizendo: "A nação afegã se levantará contra os novos colonialistas. Condenamos essa ação terrorista contra a nação do Afeganistão". Segundo a agência de notícias "AIP" (Afghan Islamic Press)", Zaef dissera mais cedo que o Taleban não podia "entregar Osama bin Laden" aos EUA.
"Esse é um ataque contra um país independente. Lutaremos até a última gota de sangue", afirmou o embaixador do Taleban, de acordo com a "AIP". "Os Estados Unidos serão considerados responsáveis pela matança de pobres cidadãos civis." Ainda segundo a "AIP", um porta-voz do Taleban, falando de Candahar (Afeganistão), disse que os ataques não haviam causado "danos significativos".

Proposta
Antes que Cabul e outras localidades afegãs começassem a ser bombardeadas, o Taleban havia ontem, mais uma vez, proposto submeter Bin Laden a um tribunal islâmico, alternativa rejeitada pelos EUA.
A proposta partiu de Zaef, que tem sido um dos único porta-vozes de seu país nas últimas semanas.
Segundo o embaixador do Taleban, haveriam razões suficientes para submeter Bin Laden a julgamento, caso os Estados Unidos fornecessem provas definitivas sobre seu envolvimento nos atos terroristas de 11 de setembro.
"O primeiro passo que [o Taleban" deve dar é entregar Bin Laden e seus auxiliares", respondeu um porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan. "Estamos no momento de ação e não de palavras", acrescentou.
Segundo o porta-voz, o presidente Bush não mudou de opinião com relação às quatro exigências formuladas após os atentados de Washington e Nova York, entre elas a de que o Taleban entregasse Bin Laden e fechasse os campos de treinamento da Al Qaeda, organização terrorista por ele criada e mantida. Essas exigências, reiterou, não são negociáveis.

Jornalista inglesa
Com o início dos bombardeios contra o Afeganistão, que contaram com participação militar britânica, era incerta a intenção do Taleban de libertar hoje, conforme prometera no sábado, a jornalista inglesa Yvonne Ridley, do jornal dominical "Sunday Express".
Eram contraditórias as informações sobre a jornalista de 43 anos, presa em 28 de setembro por ter entrado de forma ilegal no Afeganistão e por supostamente desenvolver "espionagem".
A agência oficial afegã citou ontem de manhã o Ministério da Informação, ao afirmar que Ridley já tinha sido libertada. Mas o embaixador do Taleban no Afeganistão disse que ela ainda estava presa em Cabul.
Além da jornalista, outros oito estrangeiros estão presos no país. Dois norte-americanos, dois australianos e quatro alemães são acusados pelo Taleban de terem tentado difundir o cristianismo no Afeganistão. De acordo com o regime, a difusão de outra religião no país, que não seja a islâmica, é um crime e deve ser punida com a pena de morte.
Mas, anteontem, o Taleban ofereceu a libertação dos oito estrangeiros em troca de os Estados Unidos não atacarem o país. Os norte-americanos não aceitaram.


Com agências internacionais



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