São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2001

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SEGURANÇA

Governo diz que NY está em alerta máximo; bombeiros reforçam patrulhamento de ruas

Medo nos EUA

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Nova York voltou a viver um clima de pânico na tarde de ontem, parecido com o que experimentou na manhã de 11 de setembro, quando dois aviões atingiram as torres do World Trade Center, embora em menor escala.
Tão logo o telão da Bolsa eletrônica Nasdaq, na Times Square, anunciou os primeiros ataques dos Estados Unidos, as pessoas correram para os telefones públicos.
Queriam se certificar de que os parentes estavam bem. Foi o que fez o professor Neil Handman, 58, que veio de Washington para visitar a cidade no fim de semana. "Nós esperávamos alguma reação e apoiamos o ataque", disse à Folha. "Mas nem que eu minta para mim mesmo vou me sentir seguro de novo em Nova York."
Já o paquistanês Amarjit Singh, 48, disse que teme por sua sorte. "É uma tragédia dupla para mim", falou à Folha. "Só quero ter certeza de que meus amigos e parentes que ficaram lá estão bem". O taxista, que mora nos EUA há 11 anos, planeja deixar a cidade. "Foi a gota d"água."
"Vim para cá fugir da guerra", disse Singh. "Cada vez que eu pago por um aluguel superfaturado, por uma refeição superfaturada nesta cidade, pensava que estava pagando por minha liberdade, a segurança de minha família e a certeza de que a vida pode ser boa. Tudo isso acabou."
Perto dos escombros do World Trade Center, o aposentado Derome Bratvold soube pela reportagem da Folha o que tinha acontecido. "Adoraria dizer o que penso, mas francamente não confio em mais ninguém", falou. "E isso é muito, muito triste."

Mais segurança
Segundo o governo federal, a cidade está em estado de alerta máximo. Forças especiais de segurança e homens do Corpo de Bombeiros já estão fazendo o reforço da segurança nas ruas de Nova York, especialmente no sul da ilha de Manhattan, onde ficava o complexo de prédios do World Trade Center.
O prefeito Rudolph Giuliani exortou a população a voltar a ter vida normal. "Nova York não está sendo bombardeada", afirmou. Mas confirmou que, apesar de muitas medidas de segurança já terem sido tomadas, outras tantas virão nos próximos dias.
"Aumentaremos a segurança como maneira de evitar um contra-ataque terrorista", disse o prefeito. "Nada, porém, que vá fazer com que a cidade pare de funcionar como sempre." O primeiro passo desta escalada foi implementado ontem mesmo.
Desde a manhã de domingo, soldados da Guarda Nacional foram deslocados para os dois aeroportos da cidade, o JFK International e o La Guardia. A força está agindo principalmente na área de embarque e nas barreiras de segurança e raio-x.
O efetivo foi convocado pelo presidente George W. Bush e vale para o país todo. Só no Estado de Nova York, 19 aeroportos receberam a Guarda Nacional, assim como o de Newark, na vizinha Nova Jersey, considerado um dos de segurança mais falha.
Além disso, um efetivo extraordinário de policiais foi colocado nas ruas de Nova York desde sábado, quando começou o fim-de-semana prolongado. Hoje, o país comemora o Dia de Cristóvão Colombo.
Até a conclusão desta edição, o tradicional desfile da Quinta Avenida estava confirmado para acontecer, embora com policiamento extra.
Prédios chamados "sensíveis" e locais de grande concentração de pessoas estão sendo especialmente vigiados desde a manhã de ontem e barreiras policiais foram colocadas nas portas destes lugares, informou a Prefeitura. "São edifícios federais e marcos da cidade", disse Rudolph Giuliani.
Indagado se os nova-iorquinos deveriam passar a andar com documentos de identificação, prática que não é exigida pela lei estadual, o prefeito disse que sim. E avisou que a população deve reagir com tranquilidade a eventuais evacuações de prédios. "As ameaças falsas devem aumentar", disse Rudolph Giuliani.

Apoio
Segundo pesquisa realizada antes do ataque de ontem pelo Instituto de Pesquisas da Universidade de Quipinniac, a maioria dos nova-iorquinos apoiava uma ação militar dos Estados Unidos.
Cerca de 80% dos ouvidos eram a favor do ataque, enquanto 11% foram contra.
No entanto, cerca de 23% dos pesquisados temem que o ataque norte-americano vá motivar mais atentados terroristas no país como resposta, enquanto 64% acreditam que novos atentados viriam de qualquer maneira.
O instituto de pesquisas da universidade nova-iorquina, principal referência nas eleições da cidade, ouviu 1.262 eleitores registrados no Estado de Nova York. A margem de erro é de mais ou menos 2,8 pontos percentuais.

Fim do resgate
Ontem ainda, a última equipe da Agência Federal de Controle de Emergência (Fema, na sigla em inglês) foi retirada dos escombros do World Trade Center. Isso significa que a operação no local deixou de ser oficialmente de resgate de sobreviventes e passou a ser de busca de restos humanos.
Os 62 membros da Fema voltaram para sua base, na Califórnia, logo pela manhã.
"O local agora está sob total controle da polícia e do corpo de bombeiros de Nova York", disse a assessora da Fema, Anne-Marie Jensen.
Segundo os últimos números divulgados pela prefeitura, há 4,979 pessoas desaparecidas e 393 corpos encontrados, 335 dos quais já identificados.

Emmy
Pela primeira vez desde sua criação, há 53 anos, o Emmy não será entregue nos EUA. Os vencedores do principal prêmio da TV norte-americana seriam conhecidos ontem, em Los Angeles (na foto, entrada do Shrine Auditorium) e Nova York, em cerimônias transmitidas ao vivo, inclusive para o Brasil, pelo canal pago Sony. Marcada para 16 de setembro, a festa já havia sido adiada após os atentados terroristas do dia 11. A premiação foi cancelada por causa do ataque ao Afeganistão. O site do Emmy na internet é www.emmys.tv



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