|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Árabes vêem enfoque errado e temem guerra
NEIL MacFARQUHAR
DO "THE NEW YORK TIMES", EM BEIRUTE
Por trás de uma fachada de aparente calma, com Damasco incapaz de dar uma resposta militar à
maior incursão aérea israelense
em território sírio nos últimos 30
anos, o mundo árabe ainda está
em choque diante da possibilidade de ter início um terceiro grande conflito no Oriente Médio.
A região já está traumatizada
pela ferida aberta em que se transformaram os choques israelo-palestinos e a ocupação americana
no Iraque, à beira do caos.
"Temos uma crise de grandes
proporções com o Iraque, uma
crise de grandes proporções no
processo de paz -não precisamos de uma terceira", disse o
chanceler da Jordânia, Marwan
Muasher. "Tudo isso veio apenas
acrescentar mais um fator complicador, ampliando o conflito."
Em primeiro lugar, após três
anos de ataques retaliatórios, analistas árabes disseram que o governo Sharon estava ficando sem
alvos dentro dos territórios palestinos para responder ao mais recente atentado suicida, que matou 19 em Haifa no sábado.
Em segundo lugar, os EUA declararam guerra ao terror, e sua
invasão do Iraque tornou mais
viável a idéia de atravessar fronteiras para atacar qualquer inimigo. Em terceiro, na medida em
que os palestinos não parecem capazes de impedir os atentados terroristas de grupos como Jihad Islâmico e Hamas, lançar um ataque contra um alvo na Síria foi
visto como uma tentativa de pressionar o mundo árabe em geral a
desempenhar esse papel.
Em última análise, porém, resta
a percepção generalizada de que
Israel e, por extensão, os EUA,
com sua campanha antiterrorismo e acusações voltadas contra
diversas capitais árabes, estão ignorando a questão mais ampla e
mais antiga: a de que é preciso pôr
fim aos mais de 36 anos de ocupação israelense de terras árabes.
"Precisamos atacar o problema
pela base", disse uma ministra do
gabinete sírio, Buthaina Shaaban.
"Em lugar de deixar o mundo
ocupado com o Hamas ou o Jihad
Islâmico, precisamos começar a
falar da ocupação israelense de
territórios árabes."
Embora o ataque aéreo tenha
aumentado a tensão ao longo da
fronteira libanesa-israelense, várias capitais árabes, conscientes
do poderio militar reunido por Israel e pelos EUA na região, preferiram dar destaque à diplomacia.
Foi excluída qualquer possibilidade de reação militar síria. Já em
sua última grande guerra com Israel, quando o atual premiê israelense, Ariel Sharon, liderou a invasão do Líbano, em 1982, a Síria
perdeu cerca de 79 caças MiG,
além de tanques e baterias de mísseis. Nas décadas seguintes, a
União Soviética, sua principal fornecedora militar, se desintegrou.
Os analistas acreditam que, se a
Síria responder, será por meios
indiretos, com o jovem presidente
Bashar Assad seguindo o seu pai
-usando uma de suas forças
"procuradoras", como o Hezbollah, no Líbano, ou, talvez, dificultando a vida dos EUA no Iraque.
O problema, para muitos analistas árabes, é que Israel envolve
seus ataques no manto da campanha contra o terror, retratando a
Síria, os palestinos, a Al Qaeda e
Osama bin Laden como irmãos
espirituais. "Desde o 11 de Setembro, Israel passou a poder apresentar tudo isso como parte da
campanha contra o terror", disse
Mustapha Hamarneh, diretor do
Centro de Estudos Estratégicos da
Universidade da Jordânia. "São
duas coisas distintas. A Al Qaeda é
uma coisa, a Cisjordânia e a faixa
de Gaza são outra."
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Para Assad, Síria se fortaleceu com o ataque Índice
|