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São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2003

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Árabes vêem enfoque errado e temem guerra

NEIL MacFARQUHAR
DO "THE NEW YORK TIMES", EM BEIRUTE

Por trás de uma fachada de aparente calma, com Damasco incapaz de dar uma resposta militar à maior incursão aérea israelense em território sírio nos últimos 30 anos, o mundo árabe ainda está em choque diante da possibilidade de ter início um terceiro grande conflito no Oriente Médio.
A região já está traumatizada pela ferida aberta em que se transformaram os choques israelo-palestinos e a ocupação americana no Iraque, à beira do caos.
"Temos uma crise de grandes proporções com o Iraque, uma crise de grandes proporções no processo de paz -não precisamos de uma terceira", disse o chanceler da Jordânia, Marwan Muasher. "Tudo isso veio apenas acrescentar mais um fator complicador, ampliando o conflito."
Em primeiro lugar, após três anos de ataques retaliatórios, analistas árabes disseram que o governo Sharon estava ficando sem alvos dentro dos territórios palestinos para responder ao mais recente atentado suicida, que matou 19 em Haifa no sábado.
Em segundo lugar, os EUA declararam guerra ao terror, e sua invasão do Iraque tornou mais viável a idéia de atravessar fronteiras para atacar qualquer inimigo. Em terceiro, na medida em que os palestinos não parecem capazes de impedir os atentados terroristas de grupos como Jihad Islâmico e Hamas, lançar um ataque contra um alvo na Síria foi visto como uma tentativa de pressionar o mundo árabe em geral a desempenhar esse papel.
Em última análise, porém, resta a percepção generalizada de que Israel e, por extensão, os EUA, com sua campanha antiterrorismo e acusações voltadas contra diversas capitais árabes, estão ignorando a questão mais ampla e mais antiga: a de que é preciso pôr fim aos mais de 36 anos de ocupação israelense de terras árabes.
"Precisamos atacar o problema pela base", disse uma ministra do gabinete sírio, Buthaina Shaaban. "Em lugar de deixar o mundo ocupado com o Hamas ou o Jihad Islâmico, precisamos começar a falar da ocupação israelense de territórios árabes."
Embora o ataque aéreo tenha aumentado a tensão ao longo da fronteira libanesa-israelense, várias capitais árabes, conscientes do poderio militar reunido por Israel e pelos EUA na região, preferiram dar destaque à diplomacia.
Foi excluída qualquer possibilidade de reação militar síria. Já em sua última grande guerra com Israel, quando o atual premiê israelense, Ariel Sharon, liderou a invasão do Líbano, em 1982, a Síria perdeu cerca de 79 caças MiG, além de tanques e baterias de mísseis. Nas décadas seguintes, a União Soviética, sua principal fornecedora militar, se desintegrou.
Os analistas acreditam que, se a Síria responder, será por meios indiretos, com o jovem presidente Bashar Assad seguindo o seu pai -usando uma de suas forças "procuradoras", como o Hezbollah, no Líbano, ou, talvez, dificultando a vida dos EUA no Iraque.
O problema, para muitos analistas árabes, é que Israel envolve seus ataques no manto da campanha contra o terror, retratando a Síria, os palestinos, a Al Qaeda e Osama bin Laden como irmãos espirituais. "Desde o 11 de Setembro, Israel passou a poder apresentar tudo isso como parte da campanha contra o terror", disse Mustapha Hamarneh, diretor do Centro de Estudos Estratégicos da Universidade da Jordânia. "São duas coisas distintas. A Al Qaeda é uma coisa, a Cisjordânia e a faixa de Gaza são outra."


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