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REINO UNIDO
Decisão judicial permite, à revelia dos pais, que médicos não salvem criança de 11 meses que vive em estado vegetativo
Juiz dá a médicos direito sobre vida de bebê
JEREMY LOVELL
DA REUTERS, EM LONDRES
Os pais de um bebê prematuro
perderam ontem a batalha judicial para forçar médicos britânicos a manterem viva a pequena
Charlotte, de 11 meses, se ela parar
de respirar pela quarta vez.
O caso, que opõe contra o poder
dos médicos o direito do casal
Darren e Debbie Wyatt de lutar
pela vida de seu bebê surdo e moribundo, vem comovendo o Reino Unido.
Os médicos dizem que Charlotte tem qualidade de vida terrível,
que a menina "não sente nada exceto dor contínua", e pediram ao
juiz, no mês passado, que aprovasse a decisão da Alta Corte de
não reanimá-la se ela voltar a parar de respirar. O casal Wyatt argumentava que ela tinha uma
chance real de sobreviver e que os
médicos deveriam fazer todo o
possível para mantê-la viva.
"Cheguei a uma conclusão clara: não acredito que nenhum tratamento agressivo adicional para
prolongar a vida [de Charlotte]
seja do interesse dela", disse o juiz
Hedley à Alta Corte de Londres.
"O parecer dos médicos é que se
deve deixar que ela morra em paz
nos braços de seus pais, se for esse
o decorrer natural de seu caso, e
que ela deve receber todos os cuidados paliativos."
Charlotte nasceu de parto cesariano após 26 semanas de gravidez, pesando 458 gramas. Quase
um ano mais tarde, ainda pesa
apenas 5,6 quilos. Na maior parte
de seus três primeiros meses de
vida, precisou de ajuda de aparelhos para respirar. Sua respiração
já parou três vezes em razão de
suas condições cardíacas e pulmonares fracas, e ela é alimentada
através de um tubo. Especialistas
dizem que ela não poderá viver
além da primeira infância e que,
possivelmente, nunca poderá deixar o hospital.
"Ela consegue reagir ao contato
humano ou ao amor humano?",
perguntou o juiz. "Existe alguma
perspectiva real de suas faculdades sensórias se desenvolverem?"
O advogado dos pais de Charlotte declarou que eles não vão
apelar. "Eles me pediram para dizer que acham importante que este caso tenha sido discutido publicamente, já que, com isso, todos
tiveram a oportunidade de analisar as questões muito difíceis enfrentadas por eles e muitas outras
famílias", disse ele.
Uma porta-voz do hospital onde Charlotte está internada, no sul
da Inglaterra, afirmou que os médicos darão à menina os melhores
cuidados possíveis até o final.
A Associação Médica Britânica
disse que o juiz tomou a decisão
correta. "É raro que pais e médicos não concordem quanto a reanimar ou não um bebê gravemente doente, mas, quando não é possível chegar a um consenso, a única saída é que o caso vá ao tribunal", declarou Michael Wilks, do
comitê de ética da Associação.
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