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Ataques expõem novo tipo de violência nas escolas nos EUA
Das três ações ocorridas em seis dias, duas tinham atiradores adultos; década de 90 foi marcada por crimes de adolescentes alunos das próprias instituições
DANIELA LORETO
DA FOLHA ONLINE
A recente onda de ataques
em escolas nos EUA chama a
atenção por inserir um novo fator nesse tipo de crime: agora
adultos atacam crianças. É o
que apontam especialistas em
violência escolar. Em seis dias,
entre 27 de setembro e o último
dia 2, seis crianças morreram
em ataques contra escolas de
três Estados -Colorado, Wisconsin e Pensilvânia. Em dois,
os agressores eram adultos.
"Na última década, não houve registro de ataques de maior
repercussão cometidos por
adultos. Todos foram cometidos por adolescentes", disse à
reportagem, por telefone, Jane
Grady, 60, diretora-assistente
do Centro de Estudos e Prevenção à Violência da Universidade do Colorado. "Eram estudantes que enfrentavam problemas com outros alunos ou
professores. Ataques de adultos é algo novo. Não sabemos
ainda ao certo a motivação,
tampouco o significado."
Michael Sedler, especialista
em Serviço Social que atua há
15 anos em escolas dos EUA nas
áreas pedagógica e de saúde
mental, concorda. "O perfil típico dos agressores era o de
adolescentes solitários, influenciados por videogame ou
pela internet", diz.
Dois dos recentes ataques foram cometidos por adultos que,
aparentemente, "tinham distúrbios mentais, ouviam vozes
ou se sentiam deprimidos". "Os
casos ainda estão sendo investigados e nos ajudarão a saber
mais sobre esse tipo de ataque."
Onda de violência
No último dia 27, Duane
Morrison, 53, invadiu uma escola em Bailey, Colorado, fez
seis alunas reféns, matou uma
delas e, em seguida, se suicidou.
Segundo a polícia, todas foram
molestadas, e ao menos duas
sofreram abusos sexuais.
Dois dias depois, um estudante de 15 anos invadiu uma
escola rural no Wisconsin e disparou várias vezes contra o diretor, ferindo-o gravemente
antes de ser detido. Na última
segunda, novo ataque voltou a
chocar a opinião pública americana. O motorista de caminhão
Charles Roberts, 32, invadiu a
escola amish Wolf Rock, na
Pensilvânia, matou quatro alunas -uma quinta morreu mais
tarde- e se suicidou.
Segundo Sedler, "ataques em
série" são comuns. "Quando
um episódio acontece, outros
tendem a imitá-lo. Epidemias
de violência em escolas são comuns em várias culturas", diz.
Grady defende a mesma tese.
"Foi levantada a possibilidade
de que o ataque da Pensilvânia
tenha sido uma "imitação" do
ataque em Bailey, já que ambos
os casos tinham caráter sexual
e os dois agressores deram preferência a vítimas femininas."
Columbine
Segundo Grady, o ataque
contra a escola de Columbine
-quando dois alunos armados
mataram 13 colegas e se suicidaram, em 1999-, aumentou a
atenção dos estabelecimentos
de ensino e do governo a esse tipo de crime. "Após o ataque, foram liberados mais recursos
para prevenir a violência escolar. Infelizmente, com o passar
dos anos, muitas escolas mudaram o foco e deixaram de investir na segurança."
Foi após o massacre de Columbine que o centro de estudos do Colorado criou o programa "Safe Communities, Safe
School" (comunidade segura,
escola segura). "Desde os ataques, trabalhamos nas escolas
para desenvolver um sistema
de informação integrado entre
pessoas ligadas às áreas pedagógica, de saúde mental e hospitalar, para criar uma equipe
que possa detectar problemas
de antemão", diz Grady.
As informações repassadas
são mantidas em sigilo. "A idéia
não é criar paranóia nas escolas, mas de fato ajudar os adolescentes que possam estar enfrentando problemas."
Sedler defende o aviso sobre
pessoas "suspeitas". "Quando
há receio a respeito do comportamento de um indivíduo, isso
deve ser relatado às autoridades", afirma o especialista. Ele
cita o caso de Bailey. "Muitos
haviam percebido que a atitude
[do agressor] era estranha e assustadora, mas ninguém fez nada a respeito", diz, ponderando
que a educação é "a melhor forma de lutar contra a violência".
Para Grady, o fácil acesso a
armas é um dos principais motivos para que ataques desse tipo seja mais freqüentes nos
EUA. "A acessibilidade é um fator determinante."
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