São Paulo, domingo, 08 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ataques expõem novo tipo de violência nas escolas nos EUA

Das três ações ocorridas em seis dias, duas tinham atiradores adultos; década de 90 foi marcada por crimes de adolescentes alunos das próprias instituições

DANIELA LORETO
DA FOLHA ONLINE

A recente onda de ataques em escolas nos EUA chama a atenção por inserir um novo fator nesse tipo de crime: agora adultos atacam crianças. É o que apontam especialistas em violência escolar. Em seis dias, entre 27 de setembro e o último dia 2, seis crianças morreram em ataques contra escolas de três Estados -Colorado, Wisconsin e Pensilvânia. Em dois, os agressores eram adultos.
"Na última década, não houve registro de ataques de maior repercussão cometidos por adultos. Todos foram cometidos por adolescentes", disse à reportagem, por telefone, Jane Grady, 60, diretora-assistente do Centro de Estudos e Prevenção à Violência da Universidade do Colorado. "Eram estudantes que enfrentavam problemas com outros alunos ou professores. Ataques de adultos é algo novo. Não sabemos ainda ao certo a motivação, tampouco o significado."
Michael Sedler, especialista em Serviço Social que atua há 15 anos em escolas dos EUA nas áreas pedagógica e de saúde mental, concorda. "O perfil típico dos agressores era o de adolescentes solitários, influenciados por videogame ou pela internet", diz.
Dois dos recentes ataques foram cometidos por adultos que, aparentemente, "tinham distúrbios mentais, ouviam vozes ou se sentiam deprimidos". "Os casos ainda estão sendo investigados e nos ajudarão a saber mais sobre esse tipo de ataque."

Onda de violência
No último dia 27, Duane Morrison, 53, invadiu uma escola em Bailey, Colorado, fez seis alunas reféns, matou uma delas e, em seguida, se suicidou. Segundo a polícia, todas foram molestadas, e ao menos duas sofreram abusos sexuais.
Dois dias depois, um estudante de 15 anos invadiu uma escola rural no Wisconsin e disparou várias vezes contra o diretor, ferindo-o gravemente antes de ser detido. Na última segunda, novo ataque voltou a chocar a opinião pública americana. O motorista de caminhão Charles Roberts, 32, invadiu a escola amish Wolf Rock, na Pensilvânia, matou quatro alunas -uma quinta morreu mais tarde- e se suicidou.
Segundo Sedler, "ataques em série" são comuns. "Quando um episódio acontece, outros tendem a imitá-lo. Epidemias de violência em escolas são comuns em várias culturas", diz.
Grady defende a mesma tese. "Foi levantada a possibilidade de que o ataque da Pensilvânia tenha sido uma "imitação" do ataque em Bailey, já que ambos os casos tinham caráter sexual e os dois agressores deram preferência a vítimas femininas."

Columbine
Segundo Grady, o ataque contra a escola de Columbine -quando dois alunos armados mataram 13 colegas e se suicidaram, em 1999-, aumentou a atenção dos estabelecimentos de ensino e do governo a esse tipo de crime. "Após o ataque, foram liberados mais recursos para prevenir a violência escolar. Infelizmente, com o passar dos anos, muitas escolas mudaram o foco e deixaram de investir na segurança."
Foi após o massacre de Columbine que o centro de estudos do Colorado criou o programa "Safe Communities, Safe School" (comunidade segura, escola segura). "Desde os ataques, trabalhamos nas escolas para desenvolver um sistema de informação integrado entre pessoas ligadas às áreas pedagógica, de saúde mental e hospitalar, para criar uma equipe que possa detectar problemas de antemão", diz Grady.
As informações repassadas são mantidas em sigilo. "A idéia não é criar paranóia nas escolas, mas de fato ajudar os adolescentes que possam estar enfrentando problemas."
Sedler defende o aviso sobre pessoas "suspeitas". "Quando há receio a respeito do comportamento de um indivíduo, isso deve ser relatado às autoridades", afirma o especialista. Ele cita o caso de Bailey. "Muitos haviam percebido que a atitude [do agressor] era estranha e assustadora, mas ninguém fez nada a respeito", diz, ponderando que a educação é "a melhor forma de lutar contra a violência".
Para Grady, o fácil acesso a armas é um dos principais motivos para que ataques desse tipo seja mais freqüentes nos EUA. "A acessibilidade é um fator determinante."


Texto Anterior: Jornalista que criticou Putin é assassinada
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.