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entrevista
"Zelaya se deslumbrou com Chávez"
DA ENVIADA A TEGUCIGALPA
Uma das posições mais duras de dentro do governo interino de Honduras vem de
uma mulher, a vice-chanceler Martha Alvarado. Conselheira do presidente golpista,
Roberto Micheletti, a diplomata e deputada pelo Partido Liberal -o mesmo de Zelaya- diz que trabalhou e
deu apoio ao presidente deposto até que ele "se deslumbrou" com Hugo Chávez,
presidente da Venezuela, e
tentou implantar políticas
semelhantes no país.
(AF)
FOLHA - Por que retirar Zelaya
da Presidência?
MARTHA ALVARADO - O que fizemos nos salvou de um experimento social ao estilo da
Venezuela, ao qual meus filhos e meus netos estariam
expostos. Não quero para
meus filhos uma situação errática como a que Chávez
instalou na Venezuela.
Eu sou liberal, do partido
de Zelaya. Eu segui Zelaya
dentro de uma ideologia liberal de respeito às pessoas, de
respeito à democracia, de
respeito às instituições. Zelaya, no meio do caminho, se
deslumbrou com Chávez.
Não gosto de alguém que
diz uma coisa antes de chegar ao poder e, quando chega
lá, seu compromisso começa
a ser mais com Chávez que
com seu próprio partido.
FOLHA - Por que não resolver a
questão no Congresso?
ALVARADO - Zelaya não respeitou as leis, não respeitou a
Corte Suprema. Fez tudo isso rodeado por um grupo que
buscava fazer uma Constituinte, coisa que é proibida.
O pecado mortal foi que o
homem foi tirado do país.
Por que se fez, não sei, eu não
estava lá quando fizeram.
Pode ser porque as prisões
aqui são ruins e ele estaria
exposto a ser morto. Em sua
casa, cercada como está a
embaixada, iria causar confusão pública. E se os militares o levassem a um lugar seguro, diriam que o raptaram.
FOLHA - Por que é contra a volta
dele para uma transição?
ALVARADO - A força política
de Zelaya não é hondurenha,
sua força política é Chávez.
Nós não o queremos no poder nem por um dia, porque
tem muito dinheiro.
Queremos que a comunidade internacional desista
do processo de reinstalar Zelaya e veja outra alternativa,
que é o processo eleitoral, no
qual todas as ideologias estão
representadas e o grupo de
Zelaya tem dois candidatos.
FOLHA - A senhora é a radical do
governo?
ALVARADO - Digo o que penso. Se isso é ser radical, assim
sou. Sou uma apaixonada,
pareço brasileira.
FOLHA - O que diz ao Brasil e aos
brasileiros?
ALVARADO - Que é um país
lindo. E que não se metam
em Honduras.
FOLHA - Mas já estão na crise.
ALVARADO - Sim, se meteram... Que pena, que saiam,
então.
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