São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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CHINA

Com veto a manifestações, partido começa seu 16º Congresso em Pequim que deve marcar saída de Jiang da liderança

PC renova líderes e quer atrair capitalistas

DA REDAÇÃO

Preparando-se para um Congresso histórico que deverá instalar uma nova geração de líderes, o Partido Comunista chinês prometeu ontem atualizar-se para não se deixar superar pela sociedade chinesa, cada vez mais capitalista. ""A China ingressou numa nova fase de desenvolvimento, na qual vamos construir uma sociedade próspera", disse Ji Bingxuan, porta-voz do 16º Congresso Nacional do Partido Comunista, que começa hoje em Pequim.
Dentro do clima de sigilo e forte segurança, Ji não forneceu detalhes das mudanças planejadas. A expectativa é que o presidente Jiang Zemin, 76, entregue o título de líder partidário a seu vice, Hu Jintao, 59. Mas indicou que um dos temas fundamentais do Congresso será a campanha de Jiang para atrair empresários para o partido e modificar seus estatutos para que eles possam exercer um papel formal na instituição.
Jiang foi escolhido para liderar o PC em 1989 pelo então líder Deng Xiaoping, que havia lançado as reformas de mercado em 1979.
A campanha do presidente visa conservar a relevância do partido que ainda se auto-intitula ""a vanguarda da classe trabalhadora" e manter o controle dele sobre uma sociedade na qual as reformas vêm provocando transformações espantosas. Algumas pessoas na China enriqueceram, mas muitas ainda enfrentam turbulências e incerteza, na medida em que o setor industrial estatal enxuga postos de trabalho para manter-se ou tornar-se competitivo.
Ji defendeu a decisão de dar as boas-vindas aos empreendedores, dizendo que, em lugar de enfraquecer o zelo revolucionário do PC, eles o fortalecerão. "Trabalhadores, camponeses, intelectuais, nossos homens e mulheres de uniforme -eles ainda constituem a espinha dorsal do Partido Comunista. Mas (a abertura aos empreendedores) irá aumentar ainda mais a influência e a coesão do partido em toda a sociedade."
Os preparativos para o Congresso incluíram maior segurança na capital e veto a qualquer manifestação de rua. De acordo com funcionários de quatro hotéis consultados, os hotéis de Pequim receberam ordens para não aceitar hóspedes tibetanos nem muçulmanos uigures do turbulento nordeste do país.
Mesmo assim, ativistas aproveitaram o evento para lançar um apelo por mudanças políticas. Em carta aberta divulgada nesta semana, um grupo de 192 dissidentes internos exortou os delegados do Congresso a libertar os prisioneiros políticos e ampliar as eleições diretas. "As melhoras no desenvolvimento econômico não podem cobrir os problemas cada vez mais evidentes de profundo perigo social", disseram.

Leituras vermelhas
A imprensa estatal vem evitando mencionar assuntos ligados à segurança ou a conflitos ideológicos, optando, em lugar disso, por cobrir de elogios o partido e os preparativos para o evento. A agência oficial de notícias Xinhua relatou a disseminação pela capital de uma "febre de leituras vermelhas", dizendo que o público vem comprando publicações comunistas em grande número. Os cinemas estão exibindo filmes comunistas. "Estudantes universitários adoram estudar a história do partido", entusiasmou-se o jornal "Diário da Juventude".
O porta-voz Ji enfatizou o que descreveu como as qualidades "democráticas socialistas" do evento. Disse que os delegados foram escolhidos por membros do partido por meio de eleições competitivas, com voto secreto. Também falou vagamente sobre planos para uma "restruturação política", embora tenha manifestado desprezo em relação aos sistemas ocidentais. "De forma alguma vamos simplesmente copiar o sistema político do Ocidente. Vamos focalizar o fortalecimento do sistema democrático socialista."


Com agências internacionais



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