São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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COLÔMBIA

Gilberto Orejuela estava prestes a sair da prisão; "é terrível", diz governo

Juíza libera chefe do cartel de Cali

DA REDAÇÃO

O narcotraficante colombiano Gilberto Rodríguez Orejuela, chefe do antigo cartel de Cali, estava ontem prestes a ser colocado em liberdade após cumprir apenas sete dos 15 anos de prisão a que havia sido condenado, apesar dos protestos internos e externos.
A rádio RCN, que chegou a divulgar sua saída da prisão, disse depois que ele ainda teria de passar por "exames médicos e psiquiátricos". Até as 17h (19h em Brasília) ele permanecia preso.
O anúncio de sua libertação gerou revolta no governo colombiano, que acusou a Justiça de corrupção e iniciou uma batalha legal para tentar mantê-lo preso. As ações do governo levaram a Suprema Corte do país a denunciar uma tentativa de interferência na Justiça por parte do Executivo.
Gilberto Rodríguez Orejuela e seu irmão Miguel, inimigos do cartel de Medellín, liderado por Pablo Escobar (morto em 1992), chegaram a controlar 80% do comércio mundial de cocaína. A prisão dos dois, em 1995, foi considerada uma das maiores vitórias do país no combate ao narcotráfico.
"É terrível, terrível, terrível. Este é um momento de pesar, de dor para a imagem da nação, para o sistema de Justiça da Colômbia", afirmou o ministro da Justiça e do Interior, Fernando Londoño.
O governo dos EUA, que financia o Plano Colômbia de combate ao narcotráfico, com mais de US$ 1,3 bilhão, lamentou a soltura do ex-chefe do cartel de Cali, mas disse que a ajuda americana ao país será mantida.
"Lamentamos muito a decisão, mas entendemos que é uma questão jurídica dentro do país e que o governo fez todo o possível para tentar evitar a libertação", afirmou Francisco Fernández, conselheiro político da Embaixada dos EUA em Bogotá.
Os EUA pediram em 1997 a extradição dos irmãos Rodríguez Orejuela, mas ela foi negada pela Justiça colombiana por causa do processo contra eles em andamento no país.
A libertação de Gilberto Rodríguez Orejuela foi ordenada pela juíza Luz Angela Moncada, que concedeu, de madrugada, um habeas corpus por "prolongamento ilegal da privação de liberdade".
Na sexta-feira passada, um outro juiz havia autorizado a libertação de Gilberto e de Miguel, ambos detidos na penitenciária de segurança máxima de Cómbita, na cidade de Tunja (a 160 km de Bogotá), por bom comportamento e por terem cumprido um programa de estudos na prisão.
Miguel não foi libertado ontem por ter uma outra condenação por corromper um juiz.
O presidente Álvaro Uribe, que assumiu há três meses prometendo linha dura contra o narcotráfico e contra os grupos armados ilegais, pediu à Justiça que procurasse acusações pendentes contra eles para mantê-los presos. Para Uribe, a "dignidade nacional" está em questão. Ele disse que prefere ser chamado de "arbitrário" a ser considerado "frouxo".
As atitudes levaram a Suprema Corte a acusar, na terça-feira, o governo de pressionar a Justiça e de violar a separação dos Poderes.
O fim do cartel de Cali, com a prisão dos irmãos Rodríguez Orejuela, não serviu para reduzir o comércio da cocaína. Os grandes cartéis, com ações ostensivas e líderes mundialmente famosos, deram lugar a "minicartéis", dispersos e anônimos, cujo combate é mais difícil. Além disso, guerrilheiros de esquerda e paramilitares de direita, que sustentam uma guerra civil com quatro décadas de duração, estão envolvidos com o tráfico, por meio do qual financiam suas ações armadas.


Com agências internacionais


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