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Árabes criticam pronunciamento de Bush
DA REUTERS
O apelo de anteontem do presidente George W. Bush pela democracia não despertou entusiasmo no Oriente Médio, onde muitas pessoas se declararam consternadas por Washington estar
pregando liberdade aos árabes
enquanto ocupa o Iraque.
A invasão do Iraque e o apoio de
Washington a Israel em seu sangrento conflito com os palestinos
geraram irritação em muitos árabes e muçulmanos, já indignados
com a guerra americana contra o
terrorismo, vista por muitos como uma batalha contra o islã.
E o extenso discurso de Bush sobre política externa, no qual ele
desafiou o aliado Egito e inimigos
como o Irã e a Síria a adotarem a
democracia, alimentou a indignação dos árabes. "O discurso de
Bush é como um disco quebrado
e entediante que ninguém mais
quer ouvir", disse Moghazy al Badrawy, analista político do golfo
Pérsico. Ele quer democracia, e os
EUA estão ocupando o Iraque,
enquanto seu aliado Israel está
matando palestinos? Os árabes
simplesmente não aceitam isso."
Abdel-Monem Said, diretor do
Centro Al Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos, no Egito, declarou que a desonestidade que
muitos percebem em relação às
justificativas para a Guerra do Iraque também maculou a credibilidade americana. "A democracia
gira em torno da legalidade, do
domínio da lei e da legitimidade",
declarou Said. "Há uma questão
clara de duplicidade."
Mohammad al Bsairi, membro
do Parlamento do Kuait e porta-voz da Irmandade Muçulmana
no golfo Pérsico, disse que o apoio
cego de Washington a Israel era
uma afronta à democracia.
O principal líder religioso xiita
do Líbano, o xeque Mohammad
Hussein Fadlallah, descreveu com
desdém a conclamação feita por
Bush como uma tentativa de garantir que a região siga as ordens
dos EUA, não como uma forma
de melhorar a vida dos moradores do Oriente Médio. "A democracia do governo americano envolve preservar os interesses estratégicos do país no Oriente Médio, não preservar os interesses do
povo", disse ele em um sermão.
Em editorial, o principal diário
saudita, o "Al-Ryadh", disse que
era irônico que Bush agora se declarasse preocupado com o bem-estar dos árabes depois de os EUA
terem vetado quase todas as resoluções das Nações Unidas que poderiam beneficiá-lo. "Os EUA estão indo em direção completamente oposta à do futuro econômico e político dos árabes."
Alguns comentaristas disseram
que a avaliação de Bush sobre o
Oriente Médio, na qual ele elogiou muitos governos autoritários e criticou o Irã e a Síria, se baseava mais no apoio às políticas
americanas do que nas credenciais democráticas dos países.
"O espectro de liberdades no Irã
é muito mais amplo do que na
Arábia Saudita", disse o analista
egípcio Gamal A. G. Soltan.
Outros comentaristas árabes interpretaram o discurso como um
prelúdio para novas agressões ao
Oriente Médio sob a liderança dos
EUA, com o objetivo de justificar
a presença americana no Iraque a
despeito das baixas crescentes.
No entanto, alguns árabes receberam bem o discurso, dizendo
que ele poderia ser o primeiro
passo na direção da democracia.
"A democracia é uma exigência, e
acredito que os países do Oriente
Médio jamais a concederão aos
seus povos sem pressão internacional", disse Abdulrahman Nasser, um trabalhador saudita.
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