São Paulo, sábado, 08 de novembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / A PRIMEIRA ENTREVISTA

Obama defende plano para a classe média

Presidente eleito pede aprovação rápida de pacote de estímulo fiscal, mas evita falar em medidas e anunciar gabinete

Em sua primeira entrevista coletiva após ser escolhido, democrata é vago quanto a propostas, dizendo que país tem um presidente por vez
Scott Olson/Getty Images/France Presse
Com sua equipe de transição, Obama dá entrevista em Chicago; eleito evitou sobrepujar Bush

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

Em sua primeira entrevista como presidente eleito, Barack Obama defendeu a aprovação rápida do pacote de estímulo fiscal à classe média em preparação pelos democratas, disse que a crise financeira exige uma resposta global e afirmou que não preencherá as vagas de seu gabinete com pressa. Vago, repetiu que só há um presidente dos Estados Unidos por vez, e que a vez ainda não era dele.
"Eu não subestimo a enormidade do problema que temos à frente", disse Obama. "Algumas das escolhas que teremos de fazer serão difíceis, e não será rápido nem fácil sairmos do buraco em que estamos." Então, elencou os pontos principais do que espera fazer na área econômica, muitos dos quais repetições do que havia dito durante a campanha.
"Em primeiro lugar, precisamos de um plano para a classe média que invista em esforços imediatos para criar emprego e dê alívio às famílias que estão vendo seus contracheques encolherem e sua poupança desaparecer", disse Obama. Neste momento, a liderança democrata no Congresso luta para passar ainda neste ano um pacote de US$ 100 bilhões cuja base é o estímulo fiscal.
Se falhar ou se o presidente George W. Bush, que não vê o plano com bons olhos, vetá-lo, Obama disse que trabalhar pela aprovação seria uma de suas primeiras ações ao assumir o governo, em 20 de janeiro. "Vamos precisar de um pacote de estímulo que passe antes ou depois da posse", disse. "Prefiro vê-lo aprovado antes."
Depois, afirmou que sua equipe iria revisar a implantação do programa de resgate financeiro de US$ 700 bilhões pela atual gestão, para garantir que a meta de estabilizar os mercados financeiros esteja sendo cumprida sem ônus para o contribuinte nem recompensa para o comando das empresas ajudadas pelo governo.

Não ao G-20
Obama afirmou ainda que estava preocupado com o impacto da crise em outros setores da economia, como pequenos negócios, governos estaduais e municipais e a indústria automobilística. Estava acompanhado pelo seu vice, Joe Biden, e por 16 dos 17 membros do conselho econômico de transição, que se reuniu ontem pela primeira vez.
Seu primeiro encontro com a mídia como eleito acontece em meio à pior crise que o país atravessa em décadas. Ontem, foi anunciado que os EUA perderam 240 mil vagas em outubro, e a taxa de desemprego pulou de 6,1% para 6,5% . Até agora, no ano, houve corte de 1,2 milhão de vagas no país, quase a metade nos últimos meses.
"Nós também temos de nos lembrar que a crise financeira está se tornando cada vez mais global, o que requer uma resposta global", afirmou. Na semana que vem, convocados por Bush, líderes do mundo inteiro se reúnem em Washington para discutir a crise. Há planos não confirmados de que Obama se encontre com alguns, como o francês Nicolas Sarkozy.
Indagado pela Folha depois se o presidente eleito iria ou enviaria representantes à cúpula, Robert Gibbs, o assessor de imprensa de sua campanha, disse que não. Mencionaria a frase dita por Obama no começo de sua entrevista: "Os Estados Unidos têm apenas um governo e um presidente, e até 20 de janeiro do ano que vem esse governo é a atual administração", disse o presidente eleito.
Há pressão dos mercados para que o democrata anuncie logo detalhes de seu plano econômico -o que não ocorreu ontem- e os nomes-chave do setor para seu gabinete, como o do secretário de Tesouro, o que também descartou. "Quando houver um anúncio para fazer, faremos", disse Obama. "Quero agir com pressa calculada, mas quero enfatizar o "calculada"."
Indagado sobre a carta enviada pelo presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, parabenizando sua eleição, Obama saiu-se pela tangente, ao dizer que sua equipe "examinaria a carta", mas que ele considerava inaceitável Teerã buscar um programa nuclear bélico e apoiar grupos terroristas.

Mascote e Nancy Reagan
O encontro durou pouco mais de 16 minutos e passou a sensação de uma equipe que ainda não quer se comprometer com posições concretas. Obama passou mais tempo dizendo como será escolhido o cachorro de suas filhas na Casa Branca do que falando sobre futuros nomes de seu gabinete.
Ele disse que há dois pré-requisitos para a escolha do bicho de estimação que prometeu às meninas em seu discurso de vitória. Que não cause alergias, pois uma de suas filhas, Malia, é alérgica. E que venha de um abrigo de animais abandonados. "Obviamente vários cachorros de abrigo são vira-latas, como eu."
Obama fez piada com a ex-primeira-dama Nancy Reagan (1981-1989), quando questionado se havia consultado "ex-presidentes vivos". Citou Bill Clinton, e disse que não iria fazer uma das "sessões" de Nancy Reagan, que era inclinada ao esoterismo, para supostamente se comunicar com os mortos. À noite, divulgou ter ligado para pedir desculpas à ex-primeira-dama republicana.


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