São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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EUA planejam promover abertura política na região

DA REUTERS

Os Estados Unidos, em mais uma frente de sua guerra ao terrorismo, anunciaram na semana passada planos para intensificar a promoção da democracia no mundo islâmico.
Richard Haass, diretor do Escritório de Planejamento de Políticas do Departamento de Estado, descreveu a nova política do país num discurso ao Council on Foreign Relations (um dos principais think-tanks americanos de política externa) que, segundo seus assessores, foi a mais abrangente visão do pensamento de Washington sobre o assunto.
Haass disse que o governo dos EUA não imporá uma fórmula rígida para mudanças políticas, mas que trabalhará individualmente com os países islâmicos para moldar seus próprios sistemas de representatividade em detrimento das atuais estruturas autoritárias.
Enquanto prometeu que os EUA serão "mais engajados do que nunca no apoio a tendências democráticas no mundo muçulmano", Haass buscou não alarmar líderes que possam se sentir ameaçados pela nova postura, ressaltando que as mudanças viriam de forma gradual.
Haass reconheceu que os EUA erraram ao não priorizar mais cedo o apoio à democracia na região.
"Muitas vezes, os EUA evitaram se envolver em assuntos internos de países porque seus objetivos eram garantir o fluxo de petróleo, conter a expansão da União Soviética, do Iraque e do Irã, tratar do conflito árabe-israelense, resistir ao comunismo na Ásia oriental ou assegurar a instalação de bases para nossas Forças Armadas", disse ele.
Como resultado disso, prosseguiu, "perdemos uma oportunidade de ajudar esses países [islâmicos" a se tornarem mais estáveis, prósperos, pacíficos e adaptados aos problemas de um mundo globalizado".
Um dos mecanismos que ele descreveu com o intuito de promover a democracia será um programa, a ser anunciado nos próximos meses pelo secretário de Estado, Colin Powell, que aumentará a ajuda a Estados árabes para além do atual US$ 1 bilhão por ano e que estimulará o desenvolvimento em três áreas críticas: educação, economia e reforma política.
Haass disse que a lógica da promoção da democracia no mundo islâmico é boa tanto para os EUA quanto para os países que serão afetados.
"Países com falta de oportunidades e estagnação econômica, sistemas políticos fechados e explosão demográfica estimulam a alienação de seus cidadãos", afirmou. "Como aprendemos de forma dura, sociedades assim podem ser campos férteis para extremistas e terroristas que buscam atacar os EUA pelo apoio que damos aos regimes sob os quais eles vivem", disse Haass, evocando os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
Ele disse que, enquanto a democracia pode ser estimulada do exterior, ela é "mais bem construída de dentro" e que, se os EUA tentarem impor a mudança de sistema, o resultado não será democrático nem durável.

Exemplos
Haass citou a Autoridade Nacional Palestina, o Iraque e o Irã como exemplos de locais onde pode haver mais democracia.
Ele não mencionou, entretanto, a Arábia Saudita, maior produtor de petróleo e país de origem de 15 dos 19 sequestradores dos aviões usados no 11 de setembro. O país é um dos principais aliados dos EUA na região.
Haass, que visitou Egito, Paquistão, Arábia Saudita e outros Estados do golfo Pérsico recentemente, disse que muitas pessoas nesses países se disseram frustradas com a falta de apoio de Washington à democracia local.
Ele admitiu que a democracia poderá ter como consequência a eleição de líderes antipáticos a Washington. "Os EUA apoiarão processos democráticos mesmo se os eleitos não seguirem políticas que apoiamos. Os EUA não se opõem a partidos políticos islâmicos", disse.


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