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MEMÓRIA
Recém-descoberto, relato foi escrito por jovem judia não-identificada e está em museu do Holocausto em Israel
Diário relata drama no gueto de Varsóvia
DA ASSOCIATED PRESS
Nos últimos dias da resistência
judaica contra os nazistas no gueto de Varsóvia, em 1943, uma jovem judia manteve um diário em
que relatou sua luta por sobrevivência num porão lotado.
O diário de seis páginas, aparentemente o único relato escrito durante a resistência que sobreviveu
à batalha, foi encontrado em um
museu do Holocausto em Israel.
A autora, cujos nome e destino
são desconhecidos, descreveu um
período de dez dias durante o mês
de levante, em que centenas de judeus resistiram contra o extermínio pelos nazistas.
Ela conta que sobrevivia com
uma tigela de sopa e uma caneca
de café por dia. Do lado de fora, os
nazistas incendiavam casas.
"O gueto está queimando pelo
quarto dia", escreveu a jovem.
"Você vê apenas as chaminés de
pé e os esqueletos das casas incendiadas. Num primeiro momento,
essas visões provocam um terrível
calafrio."
Escrevendo em polonês, a moça
nunca mencionou seu nome.
Apenas disse que formava parte
de um grupo juvenil judaico, indicando que estaria no final da adolescência ou no início dos 20 anos.
O diário faz parte de uma coleção de cartas, anotações e páginas
coletadas depois da Segunda
Guerra por Adolf-Abraham Berman, um sobrevivente do gueto.
Berman doou seu acervo nos
anos 70 à Casa dos Lutadores do
Gueto, no kibutz (fazenda coletiva) Lochamei Haglettaot, no norte de Israel. Especialistas do museu se deram conta da importância do acervo apenas recentemente, enquanto organizavam o arquivo para divulgação ao público.
"A raridade desse diário é que é
o único encontrado no mundo,
pelo que sabemos, que foi escrito
justamente no momento da luta",
disse Yossit Shavit, diretor dos arquivos do museu. "Os outros diários foram escritos depois."
Segundo Shavit, a autora provavelmente morreu na demolição
do gueto. "Mas ela pode muito
bem estar em um asilo nos EUA."
O gueto de Varsóvia foi criado
na Polônia ocupada pelos nazistas
em 1939. Judeus das redondezas
foram forçados a se aglomerar no
bairro. Em seu ápice, em 1941, cerca de 450 mil judeus viviam nos
300 hectares do gueto. A maioria
morreu de fome e frio ou pelas câmaras de gás nazistas.
Quando os alemães começaram
a derrubar o gueto, em 1943, 60
mil judeus ainda viviam lá. Centenas deles revidaram ao ataque
com poucas armas, munição, comida ou bebida. Eles resistiram
por 27 dias, até que os nazistas incendiaram o local por completo.
"Estamos dentro de um abrigo", começa o diário no sexto dia
da resistência, em 24 de abril de
1943. "Olhamos pela janela e vimos o gueto incendiado, completamente tomado pelas chamas",
conta, segundo trechos publicados pelo jornal "Jerusalem Post".
Em outro momento, um abrigo
vizinho é incendiado e os ocupantes tentam se refugiar no esconderijo da autora. Os novatos não
têm comida e são barulhentos,
aumentando as chances de descoberta pelos nazistas.
"O abrigo está muito lotado por
causa do grande número de pessoas e do número ainda maior
que quer entrar no esconderijo.
As pessoas estão batendo para entrar. Todo mundo quer entrar."
"O ar no bunker é horrível, muitos perdem a consciência. Dormir
está fora de questão devido ao perigo de sufocamento", diz, ainda
segundo o jornal israelense.
O último relato, no dia 2 de
maio, é o mais longo. "A única
coisa que temos é nosso esconderijo. Claro que não será um lugar
seguro por muito tempo." Suas
últimas palavras escritas são: "Estamos vivendo pelo dia, pela hora,
pelo momento".
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