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RELIGIÃO
Santa Sé identifica aumento do ódio aos cristãos e quer que ONU inclua o tema nos debates sobre preconceito religioso
Vaticano vê avanço da "cristianofobia"
TOM HENEGHAN
DA REUTERS, EM PARIS
Uma campanha diplomática
lançada pelo Vaticano para que a
"cristianofobia" seja reconhecida
como mal equivalente ao ódio a
judeus e muçulmanos está causando preocupação entre ativistas
cristãos e diplomatas que redigem
novas regras referentes aos direitos humanos. A campanha discreta, que a Igreja Católica mencionou publicamente pela primeira vez na última sexta-feira,
busca o reconhecimento oficial
pela ONU e outras organizações
internacionais da discriminação e
perseguição de cristãos.
A Santa Sé resolveu levar a campanha adiante apesar de ter sofrido dois reveses este ano, quando a
União Européia se recusou a fazer
referência ao legado cristão do
continente em sua nova Constituição e quando a mesma UE rejeitou o nome de um católico tradicionalista, Rocco Butiglione,
para ser um de seus comissários.
Quando discute o preconceito
religioso, a Comissão de Direitos
Humanos da ONU, em Genebra,
agora fala em "anti-semitismo, islamofobia e cristianofobia", termos que a Assembléia Geral reunida em Nova York deve aprovar
ainda este mês.
"Evidentemente já vimos muitos países em que as minorias
cristãs correm perigo, mas não
achamos que essa seja realmente
a maneira apropriada de garantir
proteção para elas", disse Alessandra Aula, do grupo de lobby
católico Franciscans International. "O que tememos é que este
seja um caminho que conduza à
erosão dos direitos humanos universais", disse ela desde seu escritório em Genebra. "Então haverá
sikhs, budistas e todos os outros
vindo reclamar seus direitos. Onde isso vai terminar?"
A campanha vem sendo tão discreta que o termo "cristianofobia" praticamente não era conhecido até que o ministro das Relações Exteriores do Vaticano, o arcebispo Giovanni Lajolo, declarou, na sexta-feira passada, que a
Santa Sé fazia questão de que a
ONU colocasse o termo ao lado
do anti-semitismo e da islamofobia. "É preciso reconhecer que a
guerra contra o terrorismo, embora necessária, teve como um de
seus efeitos colaterais a expansão
da "cristianofobia" por áreas extensas do planeta", disse Lajolo
em uma conferência sobre liberdade religiosa que teve lugar em
Roma, organizada pelos EUA.
O Conselho Mundial de Igrejas
(CMI), sediado em Genebra e que
reúne mais de 340 igrejas protestantes e ortodoxas de todo o mundo, informou não ter sido consultado sobre a adoção do novo termo. "Sempre existe um risco com
rótulos desse tipo", disse seu diretor de assuntos internacionais,
Peter Weiderud. "Não ajuda
olhar para o problema sob a ótica
de uma religião contra outra."
Nos EUA, uma grande editora
evangélica e um conhecido ativista dos direitos religiosos também
disseram à Reuters nunca terem
ouvido o termo "cristianofobia".
O relator especial da ONU sobre
racismo e xenofobia, Doudou
Diene, disse que especificar certas
religiões é aceitável desde que seja
observada a natureza universal da
discriminação religiosa. Ele disse
que o problema surge porque alguns países "procuram criar uma
hierarquia das diferentes formas
de discriminação".
Representantes do Vaticano
disseram sob a condição de anonimato que não podiam ficar de
lado, vendo o judaísmo e o islamismo receber atenção especial
na ONU, que exige de seus países-membros relatórios regulares sobre questões oficialmente reconhecidas como sendo motivos de
preocupação internacional.
Um especialista americano em
liberdade religiosa, jesuíta, observou que as minorias cristãs são
perseguidas em países como a Índia e o Paquistão. "Acho que existe cristianofobia nesses lugares, e
ela não é reconhecida", disse
Drew Christiansen, subeditor da
revista "America", em Nova
York. "Os cristãos têm o sentimento de serem uma maioria privilegiada. Por isso não nos enxergamos como vítimas."
Mas mesmo ele teve de admitir
que não ouvira o termo "cristianofobia" até a Comissão de Direitos Humanos convidá-lo para
discutir a questão, em reunião
realizada no mês passado.
Tradução de Clara Allain
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