São Paulo, quarta-feira, 08 de dezembro de 2010

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Conversa com Irã deve ter Brasil, diz analista

Para Graham Allison, de Harvard, proposta turco-brasileira deve ser ponto de partida

LUCIANA COELHO
EM BOSTON

Apesar da retomada das negociações sobre o programa nuclear iraniano anteontem e ontem em Genebra, após um hiato de um ano e meio, cresce nos EUA a aposta em um desfecho sombrio.
"Fizemos uma simulação há um ano aqui em Harvard, e a pergunta era onde estaríamos hoje. Bom, estamos no mesmo lugar", disse à Folha Graham Allison, ex-consultor do Pentágono e autor de "Nuclear Terrorism" (terrorismo nuclear). "O tempo favorece os iranianos."
Após as negociações, o único avanço anunciado ontem pelo Irã e pelo P5+1 (EUA, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha) é uma nova reunião em janeiro, na Turquia. Teerã diz que quer energia; seus interlocutores temem que queira uma bomba.
Allison vê como irrealista a exigência do P5+1 pela suspensão total do enriquecimento de urânio.
E defende como um começo a proposta feita por Brasil e Turquia. O plano, de maio, se amparou em pontos dados pelo governo Barack Obama, mas foi rechaçado.
Para o professor, que dirige em Harvard o Centro Belfer para Ciências e Questões Internacionais, Luiz Inácio Lula da Silva e o turco Taiyyp Erdorgan teriam um papel na negociação por contarem com a credibilidade de ambos os lados -como defende o Itamaraty.

 


Folha - Como o sr. vê a retomada das negociações? Graham Allison - Nenhuma das partes parece cair na real.

A proposta do Brasil e da Turquia foi vista como um empecilho aqui. O sr. concorda?
Não. [A carta de Obama a Lula] mostra que eles agiram pensando estar em consonância com os EUA. Creio que os iranianos estivessem preparados para aceitar.
Mas aí o governo dos EUA já havia concluído que era melhor avançar para as sanções. Eu era a favor das sanções, mas também não via problema na proposta turco-brasileira. Ela era um bom começo.

O anúncio recente do Irã de que obteve um concentrado de urânio pesa?
Ressalta o compromisso deles em obter uma infraestrutura nuclear completa. Eles terão a opção de fazer a bomba, e só uma decisão política os impedirá. O desafio dos EUA é achar uma combinação de incentivos e de pressão que os leve a essa decisão.

Qual? Há sinais de racha no regime iraniano, e, nos EUA, Obama não tem margem com um Congresso opositor.
De fato. Repete-se que negociar é a melhor opção só porque as alternativas são piores -uma guerra ou uma bomba iraniana.
Não consigo pensar em uma fórmula que faça um país retroceder em algo que já obteve.
A esperança é que a soma das sanções à má gestão econômica, mais o alinhamento dos reformistas e eleições, abrissem uma janela. Isso é possível, mas é uma loteria.

Sanções não poderá unir o país diante de um inimigo comum?
É difícil medir o impacto em todos os grupos. Elas pesam mais sobre os mais pobres e servem como bode expiatório para os erros econômicos do governo. Mas também podem levar parte da população a defender o retorno à comunidade internacional. Lula e Erdogan podem ser muito persuasivos aí.


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