São Paulo, segunda-feira, 09 de janeiro de 2006

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MISSÃO NO CARIBE

Necropsia feita no corpo do general Urano Bacellar indica que tiro que o matou é de sua própria arma

Exame reforça hipótese de suicídio de militar

IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma análise preliminar realizada por investigadores da ONU indica que o general Urano Bacellar, comandante militar das forças de paz das Nações Unidas no Haiti, foi morto por um tiro provavelmente de sua própria pistola.
Bacellar, 58, foi achado morto na manhã de anteontem na varanda do apartamento que ocupava no hotel Montana, em Porto Príncipe, capital do Haiti. Seu corpo deve chegar ao Brasil amanhã, trazido por um avião da FAB (Força Aérea Brasileira).
A indicação da origem do tiro que matou o general se baseia em uma necropsia do corpo do militar, cujos resultados a Folha apurou. Para confirmação, precisa ser feita ainda a perícia do projétil.
Oficialmente, porém, uma conclusão prematura sobre suicídio foi classificada pelo chefe diplomático da Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah), Juan Valdés, como "rumor". "Não houve nenhuma declaração oficial da ONU, ninguém falou oficialmente sobre suicídio, tudo o que existe são rumores", disse ele em entrevista.
Um dos motivos para evitar a divulgação desta hipótese é de que ela poderia afetar a opinião de pessoas próximas a Bacellar que serão entrevistadas durante a investigação por uma equipe da Polícia Internacional da ONU nomeada por Valdés. Elas tenderiam, por exemplo, a ressaltar eventuais tristezas do general.
O comando do Exército brasileiro resiste a aceitar a idéia de suicídio e trabalha para aprofundar as investigações. Apesar de remota, não descarta nem mesmo a hipótese um atentado.
Nessa hipótese, a cena do suposto assassinato teria sido montada para parecer suicídio, conforme avaliação obtida pela Folha entre os integrantes do governo que discutiram o assunto. Outra possibilidade é a de que morte tenha sido provocada por um acidente no manuseio da arma.
Entretanto, falando à Folha por telefone de Porto Príncipe, o chefe do Departamento da América do Norte e do Caribe do Itamaraty, embaixador Gonçalo de Mello Mourão, disse que nada indica nenhuma dessas hipóteses.
"A morte do general foi uma surpresa geral, pois nada no comportamento dele indicava uma tragédia assim. Isso, porém, não significa que se desconfie de algo diferente do suicídio. A versão mais aceita é, de fato, essa", disse o diplomata, ressalvando que a orientação é de aguardar o laudo da autópsia e os demais exames.
O embaixador foi enviado pelo chanceler Celso Amorim e chegou ontem à tarde a Porto Príncipe, por avião de carreira, antes mesmo do Hércules da FAB que levou uma equipe de oito pessoas. Viajaram um general e um coronel do Exército, um delegado e dois peritos da Polícia Federal, um analista da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), um médico legista e um procurador do Ministério Público Militar.
Haverá hoje cerimônia fúnebre em Porto Príncipe.


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