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MISSÃO NO CARIBE
Necropsia feita no corpo do general Urano Bacellar indica que tiro que o matou é de sua própria arma
Exame reforça hipótese de suicídio de militar
IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma análise preliminar realizada por investigadores da ONU indica que o general Urano Bacellar,
comandante militar das forças de
paz das Nações Unidas no Haiti,
foi morto por um tiro provavelmente de sua própria pistola.
Bacellar, 58, foi achado morto
na manhã de anteontem na varanda do apartamento que ocupava no hotel Montana, em Porto
Príncipe, capital do Haiti. Seu corpo deve chegar ao Brasil amanhã,
trazido por um avião da FAB
(Força Aérea Brasileira).
A indicação da origem do tiro
que matou o general se baseia em
uma necropsia do corpo do militar, cujos resultados a Folha apurou. Para confirmação, precisa ser
feita ainda a perícia do projétil.
Oficialmente, porém, uma conclusão prematura sobre suicídio
foi classificada pelo chefe diplomático da Missão de Estabilização
da ONU no Haiti (Minustah),
Juan Valdés, como "rumor".
"Não houve nenhuma declaração
oficial da ONU, ninguém falou
oficialmente sobre suicídio, tudo
o que existe são rumores", disse
ele em entrevista.
Um dos motivos para evitar a
divulgação desta hipótese é de
que ela poderia afetar a opinião de
pessoas próximas a Bacellar que
serão entrevistadas durante a investigação por uma equipe da Polícia Internacional da ONU nomeada por Valdés. Elas tenderiam, por exemplo, a ressaltar
eventuais tristezas do general.
O comando do Exército brasileiro resiste a aceitar a idéia de suicídio e trabalha para aprofundar
as investigações. Apesar de remota, não descarta nem mesmo a hipótese um atentado.
Nessa hipótese, a cena do suposto assassinato teria sido montada para parecer suicídio, conforme avaliação obtida pela Folha
entre os integrantes do governo
que discutiram o assunto. Outra
possibilidade é a de que morte tenha sido provocada por um acidente no manuseio da arma.
Entretanto, falando à Folha por
telefone de Porto Príncipe, o chefe
do Departamento da América do
Norte e do Caribe do Itamaraty,
embaixador Gonçalo de Mello
Mourão, disse que nada indica
nenhuma dessas hipóteses.
"A morte do general foi uma
surpresa geral, pois nada no comportamento dele indicava uma
tragédia assim. Isso, porém, não
significa que se desconfie de algo
diferente do suicídio. A versão
mais aceita é, de fato, essa", disse
o diplomata, ressalvando que a
orientação é de aguardar o laudo
da autópsia e os demais exames.
O embaixador foi enviado pelo
chanceler Celso Amorim e chegou ontem à tarde a Porto Príncipe, por avião de carreira, antes
mesmo do Hércules da FAB que
levou uma equipe de oito pessoas.
Viajaram um general e um coronel do Exército, um delegado e
dois peritos da Polícia Federal,
um analista da Abin (Agência
Brasileira de Inteligência), um
médico legista e um procurador
do Ministério Público Militar.
Haverá hoje cerimônia fúnebre
em Porto Príncipe.
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