São Paulo, segunda-feira, 09 de janeiro de 2006

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ORIENTE MÉDIO

Ao deixar o coma induzido, o premiê israelense poderá mostrar quais as seqüelas deixadas pelos derrames

Médicos tentam hoje despertar Sharon

Brian Hendler/France Presse
Soldados israelenses rezam pelo restabelecimento de Ariel Sharon diante do Muro das Lamentações, local sagrado do judaísmo


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

A equipe médica responsável por Ariel Sharon começará hoje a reduzir a anestesia que colocou o primeiro-ministro israelense em coma induzido, após o derrame maciço que o deixou à beira da morte na última quarta-feira.
Após a realização de mais uma tomografia, os médicos concluíram ontem que o estado de saúde de Sharon, 77, apresentou pequena melhora, mas continua crítico. Ele começa a ser despertado hoje, mas suas chances de voltar ao cargo são ínfimas.
Enquanto o país acompanha em suspense a evolução do quadro clínico, com apresentadores de TV usando cérebros de plástico para especular sobre os danos sofridos, e uma infinidade de especialistas opinando a todo momento, jornalistas de todo o mundo se aglomeram no hospital Hadassa, em Jerusalém.
O último boletim, divulgado ontem, indica ligeira melhora na situação. "Seu estado ainda é crítico, mas estável, e há melhora da imagem da tomografia de seu cérebro", disse o diretor do hospital, Shlomo Mor Yossef. Os sinais positivos são a pressão intracraniana, a tensão arterial e o pulso nos níveis normais, assim como sua temperatura.
No entanto, somente quando Sharon despertar do coma poderão ser avaliadas as seqüelas do derrame. "É o que estamos esperando desde quarta-feira, saber como o cérebro do premiê está funcionando. Espero poder informar-lhes sobre isso amanhã (hoje)", disse Mor Yossef. "Se não houver reação (quando ele sair do coma), isso será uma má notícia."
Tudo indica que Sharon não poderá retomar a política. Depois de demonstrar otimismo no sábado, ao dizer que Sharon tinha boas chances de sobreviver, ontem o médico argentino José Cohen, da equipe que operou o premiê, foi enfático: "Ele não voltará a ser primeiro-ministro, mas talvez seja capaz de compreender e falar."
Ao abrir a reunião semanal do gabinete, o premiê interino, Ehud Olmert, afirmou que o governo continua funcionando normalmente. "A democracia em Israel é forte, e suas instituições funcionam seriamente", disse um abatido Olmert às câmeras de TV, acrescentando que este certamente seria o desejo de "Arik", como Sharon é conhecido em Israel.
Olmert é o favorito para suceder Sharon na liderança do Kadima, partido recém-criado que reúne dissidentes dos dois principais partidos de Israel, o Trabalhista e o Likud, e que encabeça as pesquisas para a eleição de março.
Aos poucos, os israelenses se acostumam ao fim da vida política de Sharon, embora mantenham uma esperança quase irracional. "Ele é um touro, se tem alguém que pode sair dessa é ele", afirma o taxista Yaniv Cohen, numa chuvosa e fria Jerusalém. A seu lado, outro taxista duvida com um gesto de incredulidade, mas também manifesta otimismo. "Sharon é imprevisível. Se voltar a si farei o que nunca fiz: votarei nele", diz Kobi Mazuz.
Outra eleição crucial para a estabilidade da região, a legislativa palestina marcada para 25 de março, também foi posta em dúvida. Mas, em carta aberta, o influente líder Marwan Barghouti, que cumpre cinco sentenças de prisão perpétua em Israel por envolvimento em atos de terror, defendeu sua manutenção. "A Autoridade Palestina deve evitar fazer ligação da saúde de Sharon com a data da eleição", disse Barghouti, que encabeça a lista do Fatah. Ontem, um porta-voz da polícia israelense disse que os candidatos palestinos poderão fazer campanha em Jerusalém oriental.
Em Brasília, o chanceler Celso Amorim transmitiu votos de "pronto restabelecimento" ao premiê, a quem elogiou "por sua atuação pessoal decisiva" para avanços no processo de paz.

Com a Sucursal de Brasília

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