São Paulo, sexta-feira, 09 de fevereiro de 2007

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Palestinos selam pacto de união em Meca

Após meses de tentativas frustradas e sob o risco de guerra civil, Fatah e Hamas assinam acordo para criar governo de união

Ausência de compromisso em reconhecer Israel pode impedir o fim do boicote internacional imposto após a vitória do grupo islâmico

Suhaib Salem/Associated Press/Pool)
Meshal, Abbas e Haniyeh rezam antes da assinatura do acordo


DA REDAÇÃO

As duas principais facções palestinas, Hamas e Fatah, assinaram um acordo ontem em Meca para a formação de um governo de união. O entendimento foi movido pela urgência em pôr um fim a meses de confrontos armados, que deixaram dezenas de mortos na faixa de Gaza e aproximaram os palestinos de uma guerra civil.
O novo governo será formado pelo premiê Ismail Haniyeh, do Hamas, vencedor das últimas eleições palestinas. Terá nove ministros do islâmico Hamas e sete do secular Fatah. Numa manobra conciliatória, ficou decidido que três pastas serão chefiadas por ministros independentes: Finanças, Relações Exteriores e Interior.
O acordo foi obtido ao fim do segundo dia da cúpula de emergência realizada em Meca sob o patrocínio da Arábia Saudita, que agora terá a tarefa de convencer os aliados americanos e europeus de que o Hamas pretende respeitar os acordos já assinados com Israel. O governo palestino sofre um embargo financeiro liderado pelos EUA desde que passou a ser controlado pelo grupo fundamentalista, cuja Constituição prega a destruição do Estado judeu.
Não há menção ao reconhecimento de Israel no entendimento firmado ontem, o que pode dificultar a suspensão do boicote. Mas em uma carta lida por seu porta-voz antes da assinatura do documento, no Palácio dos Convidados de Meca, o presidente palestino e líder do Fatah, Mahmoud Abbas, disse que o novo governo deve agir de acordo com a "lei internacional" e respeitar os acordos firmados com Israel.
Na carta, Abbas encarregou o premiê Ismail Haniyeh de formar a coalizão num prazo de cinco semanas e agradeceu a intervenção do governo saudita na missão urgente de conter o ciclo de violência palestina.

Derrota de Abbas
Mas a ausência de uma menção explícita aos acordos já assinados com Israel pode ser interpretada como uma derrota para o moderado Abbas, que tentará retomar o processo de paz em encontro com o premiê israelense, Ehud Olmert, no próximo dia 19.
Khaled Meshal, líder supremo do Hamas que vive exilado na Síria, disse esperar que o acordo ponha fim à violência que derrubou uma série de tréguas estabelecidas entre os palestinos nos últimos meses.
"Aos que temem que o destino deste acordo será o mesmo dos anteriores, digo que reforçamos nossa aliança com Deus neste lugar sagrado e voltaremos a nosso país totalmente comprometidos com ela", disse Meshal no palácio com vista para a Kaaba, mesquita considerada o lugar mais sagrado do mundo para os muçulmanos.
O primeiro teste do acordo será a formação do governo de união, principalmente a nomeação do ministro do Interior, cargo responsável pelo controle dos serviços de segurança. Pelo acordo, a pasta ficará nas mãos de um ministro independente nomeado por Haniyeh, mas que precisa ser aprovado por Abbas.
"Há muitos detalhes a serem trabalhados, principalmente o Ministério do Interior e a promoção do acordo na comunidade internacional", disse Abdel-Rahman Zaydan, membro da delegação do Hamas, em Meca.

Festa e ceticismo
O acordo foi recebido com festa entre os palestinos e ceticismo entre os israelenses. Na faixa de Gaza, fogos de artifício iluminaram os céus, enquanto milhares de pessoas saíam às ruas para comemorar dando tiros para o alto.
O governo israelense reagiu com prudência. "Israel espera que o novo governo palestino respeite os três princípios da comunidade internacional, que são o reconhecimento de Israel, a aceitação dos acordos [assinados entre Israel e os palestinos] e a renúncia ao terrorismo e à violência", disse Miri Eisen, porta-voz do primeiro-ministro Ehud Olmert.


Com agências internacionais


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