São Paulo, domingo, 9 de março de 1997.

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Primeira comunidade tem museu

do enviado especial

O primeiro kibutz de Israel, o Degania, próximo ao rio Jordão, tem um velho tanque sírio estacionado na entrada principal.
A preservação da memória é uma característica facilmente identificada em Israel (os israelenses conservam nas margens das rodovias esqueletos de blindados e restos de veículos de combate).
O tanque do Degania é um souvenir da Guerra de Independência (1948), quando o kibutz combateu colunas sírias apenas com coquetéis molotov e rifles.
A terceira geração do Degania mantém um museu dedicado a A. D. Gordon, pai do movimento dos kibutzim, e estimula a prática de relembrar os velhos tempos e discutir abertamente os conflitos de adaptação aos novos dias.
Antes do jantar, no refeitório coletivo, os convidados são recebidos na biblioteca pelo secretário do kibutz e por sua mulher (uma gaúcha há 34 anos em Israel).
A conversa gira em torno da ideologia que motivou os pioneiros e da vida moderna que hoje afasta os jovens dos kibutzim.
O Degania foi fundado em 1910 por um pequeno grupo de imigrantes russos. A história desses dias está narrada em "A Village by the Jordan'' ("Um Vilarejo Junto ao Jordão"), espécie de autobiografia de Joseph Baratz, que liderava os pioneiros do Degania.
Mesmo na Rússia, diz Baratz, teria sido difícil aos judeus, com sua longa tradição de vida urbana, transformarem-se em agricultores; na Palestina, isso ainda era mais difícil, devido ao clima e ao desconhecimento do solo.
Apesar das adversidades, o kibutz cresceu. ``Mais do que nós imaginávamos'', escreveu Baratz em 1960. O país precisava absorver mais pessoas.
Segundo Baratz, as necessidades do país impuseram duas coisas que eles não pretendiam: indústrias (``que não são para judeus, nós queremos ser agricultores'') e empregar mão-de-obra.
O primeiro kibutz de Israel não possui uma fábrica. Mas investiu em uma unidade no vale do Jordão, na qual sete outros kibutzim também têm participação. Metade do capital foi integralizada pelos kibutzim, e alguns americanos colocaram a outra metade.
"Devido ao fluxo de imigrantes que têm dificuldades para se instalar, fomos solicitados a empregar trabalhadores, pessoas que trabalham por salário e que não se sentem atraídas pela vida do kibutz'', escreveu Baratz há 37 anos. (FV)

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