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GUERRA SEM LIMITES
Americanos torturam e usam força excessiva, afirma Human Rights; país diz respeitar "leis de combate"
EUA são acusados de abuso no Afeganistão
MIKE COLLETT-WHITE
DA REUTERS, EM CABUL
A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights
Watch declarou ontem que as forças americanas no Afeganistão
usaram força excessiva ao prender supostos terroristas islâmicos,
resultando na morte evitável de
civis e em possíveis violações das
leis internacionais.
Um relatório do grupo, sediado
nos EUA, diz que, desde 2002, as
forças lideradas pelos americanos
já detiveram pelo menos mil pessoas no Afeganistão e que algumas foram torturadas e não puderam questionar sua detenção.
Um porta-voz militar americano no Afeganistão disse que o relatório trai uma "falta de compreensão" das leis para conflitos
armados. "Tomamos cuidado extremo com o uso da força", disse o
tenente-coronel Bryan Hilferty.
"Obedecemos a regras de combate muito rígidas e respeitamos as
leis da guerra. O Afeganistão é,
neste momento, uma zona de
combate, e as forças aqui presentes estão engajadas em operações
de combate contra forças inimigas. Aplicamos as regras de combate apropriadas e respeitamos as
leis do conflito armado."
O relatório diz que os prisioneiros nos centros de detenção dos
EUA na base aérea de Bagram e
em outros locais do Afeganistão
não têm acesso a seus familiares, a
advogados e a jornalistas. Além
disso, o relatório diz que três pessoas morreram sob custódia americana no Afeganistão e acusa as
forças dos EUA por não terem investigado as mortes de maneira
adequada. Hilferty disse que as
mortes estão sendo investigadas.
Cerca de 13 mil soldados liderados pelos EUA estão no Afeganistão, buscando os remanescentes
do Taleban e da Al Qaeda. Os afegãos os acusam de agir com brutalidade. As forças americanas admitem ter causado a morte de civis em operações mal conduzidas,
mas rejeitam algumas das alegações feitas por afegãos.
Pouca coisa é sabida sobre os
centros de detenção que os EUA
mantêm no país, que, segundo o
relatório, os americanos operam
"em um clima de impunidade
quase total". Hilferty disse que
existem vários centros de detenção temporária espalhados pelo
país, mas que o principal fica em
Bagram, ao norte de Cabul, onde
são mantidas 150 pessoas.
A Human Rights Watch reproduziu as palavras de um funcionário da ONU que compilou
queixas sobre as operações americanas em 2002 e que teria dito que
os EUA utilizam "força excessiva"
contra os afegãos, agindo "como
caubóis", e que a maioria dos afegãos detidos acabam revelando
ser cidadãos respeitadores da lei.
O relatório criticou a chamada
"supressão", ou uso de fogo indiscriminado durante operações de
prisão, para imobilizar possíveis
forças inimigas. Disse, também,
que os soldados americanos às vezes prendem todos os homens em
idade militar encontrados nas
proximidades de uma operação.
Ex-detentos se queixam de ter
sido fotografados nus, impedidos
de dormir por várias semanas, espancados até perderem a consciência, mantidos em solitária e
acorrentados. Cinco homens que
ficaram detidos por 16 dias e depois foram libertados receberam
o equivalente a US$ 0,70 cada um
de um intérprete local, depois que
um americano lhes pediu desculpas e prometeu compensação.
A Human Rights Watch pediu
aos EUA que informassem onde
as Forças Armadas e a CIA mantêm suspeitos presos e que assegurassem aos detidos um tratamento de acordo com as leis internacionais.
Hilferty declarou que, embora
os detidos no Afeganistão não sejam cobertos pelas Convenções
de Genebra, já que não são combatentes uniformizados e não representam um Estado, eles são
tratados com respeito. "Permitimos que sejam vistos pela Cruz
Vermelha, eles recebem três refeições por dia, têm oportunidades
para orar e recebem assistência
médica", disse.
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