São Paulo, domingo, 09 de abril de 2000


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Conheça a trajetória do governo de Alberto Fujimori

do enviado especial

Nos dez anos de seu governo, Fujimori se transformou numa lenda viva mundial. Agora, caso seja "re-reeleito", irá se tornar o chefe de Estado escolhido pelo voto popular que por mais tempo governou na América Latina.
Este engenheiro agrônomo e matemático de 61 anos, filho de imigrantes japoneses, anunciou que, caso seja eleito novamente, não pretende promover outras mudanças na Constituição para tentar um quarto mandato em 2005. Porém prepara as bases para seu filho Kenyi, que em breve completará 20 anos.
Nos últimos dias de campanha por bairros pobres em Lima, questionou eleitores se votariam em seu filho em 2005. Num dos comícios, aconselhou Kenyi a aprender com ele como se dirigir ao povo. "Assim, você receberá beijos por todas as partes", disse, diante do encabulado filho.
Professor universitário e político estreante, "El Chino" (apelido que ganhou por causa de seus traços orientais) se lançou candidato à Presidência pela primeira vez em 90.
Depois de ocupar os últimos lugares nas pesquisas de intenção de voto, acabou por derrotar o consagrado escritor Mario Vargas Llosa.
Eleito, promoveu o chamado "Fujichoque" -pacote de medidas econômicas que visavam estabilizar uma das economias mais confusas do planeta.
Cortou subsídios, aumentou os impostos e achatou os salários. Dessa forma, conseguiu acabar com a hiperinflação de 7.000% ao ano que assolava o Peru (a maior do mundo), recebendo elogios da comunidade econômica internacional.
Como efeito colateral, o "Fujichoque" provocou os maiores índices de desemprego do país. As cifras oficiais têm variado nos últimos anos entre 11% e 16%, mas calcula-se que o emprego informal atinja quase metade da população economicamente ativa peruana.
Em 92, Fujimori trouxe de volta à América Latina o fantasma das ditaduras. Sob o argumento de que não podia levar a cabo seu projeto de mudança do Estado sem o apoio dos outros Poderes, fechou o Congresso, submeteu o Judiciário ao seu comando e suspendeu as garantias constitucionais.
No mesmo ano, convocou eleições para o Parlamento, que, segundo denúncias de organismos de direitos humanos, foram manipuladas para que obtivesse maioria.

Terrorismo
O maior tento do presidente foi ter reduzido drasticamente o terrorismo no país, que matou mais de 25 mil pessoas entre 80 e 90.
No mesmo ano do autogolpe, conseguiu um feito histórico: a prisão de Abimael Guzmán, o número um do temido grupo Sendero Luminoso. Com poderes especiais conseguidos do Congresso, Fujimori foi derrotando, um a um, os terroristas mais procurados do Peru.
Entidades de direitos humanos, como a Anistia Internacional, afirmam que Fujimori utilizou os instrumentos legais que lhe foram concedidos para perseguir, torturar e matar adversários.
Num dos espetaculares lances do seu governo, Fujimori comandou pessoalmente, em abril de 97, a invasão à Embaixada do Japão em Lima, tomada por 14 terroristas do MRTA durante uma recepção para mais de 400 convidados -entre eles, ministros de Estado e da Suprema Corte, generais e diplomatas estrangeiros.
Na ação de resgate, transmitida ao vivo para vários países, um dos 72 reféns que sobraram do grupo inicial foi morto, além de dois soldados e todos os terroristas.
Depois da vitória, o MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru) e o Sendero Luminoso perderam força, ficando reduzidos a algumas poucas células.
Embalado pelo sucesso no combate ao terrorismo e à hiperinflação e por uma campanha de guerra contra o Equador por disputas territoriais, Fujimori se candidatou à reeleição em 95, derrotando dessa vez Javier Pérez de Cuellar, ex-secretário-geral da ONU.
Poucos dias antes daquelas eleições, foram descobertas urnas com cédulas preenchidas em favor da coligação que apoiava Fujimori (Cambio 90/Nova Mayoría). Ninguém do governo foi punido, apesar dos protestos da comunidade internacional.
Em 98, Peru e Equador chegaram a um acordo de paz. No ano seguinte, Fujimori alterou a Constituição novamente, fazendo passar uma lei que lhe permitia uma nova candidatura.
Pela Constituição vigente, há somente a possibilidade de dois mandatos consecutivos. Porém, a lei patrocinada por Fujimori interpreta que seu primeiro mandato não é válido para essa contagem, já que ocorreu antes das alterações na Constituição. (LF)


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