São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2004

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ANÁLISE

Guerra urbana exigirá mais tropas e matará mais

ROBERT BURNS
DA ASSOCIATED PRESS, EM WASHINGTON

O aumento repentino da violência no Iraque contra as forças de ocupação levanta dúvidas não apenas quanto a se os EUA têm tropas suficientes no local para estabilizar o país, mas também uma dúvida mais ampla, quanto ao custo em vidas humanas que a coalizão liderada pelos americanos terá de pagar para retomar a iniciativa no campo de batalha.
Comandantes americanos já deixaram claro que, para rebater o levante intensificado, vão lançar uma ofensiva, como já fizeram nesta semana na cidade de Fallujah, onde fuzileiros navais travam combates pesados.
A questão é se esse tipo de guerra urbana, com as forças terrestres americanas combatendo praticamente de casa em casa, com o apoio aéreo de helicópteros de ataque, será necessária em outras regiões, como, por exemplo, na cidade de Najaf, no sul do país, parcialmente controlada pelas milícias xiitas.
O general Ricardo Sanchez, o comandante americano de mais alta patente no Iraque, disse ontem que foi lançada uma operação para retomar Najaf, além da cidade de Kut, a leste de Najaf. Tropas ucranianas se retiraram da cidade na quarta-feira, depois de atacadas. Sanchez reconheceu que a ofensiva pode exigir o tipo de guerra urbana que se evitou travar em grande escala durante a captura inicial de Bagdá, em abril do ano passado.
""Sabíamos, antes de iniciar esta campanha, que essa seria uma possibilidade", disse. ""E as forças militares todas, tanto as da coalizão quanto as dos EUA, estavam preparadas para engajar-se nesse tipo de operação, se necessário."
O objetivo imediato, segundo o general, é a destruição da milícia do clérigo radical xiita Muqtada al Sadr, que, acredita-se, inclui alguns milhares de combatentes.
É quase certo que os comandantes americanos ampliem seu poder de combate, ordenando a permanência no Iraque da 1ª Divisão Blindada do Exército por mais algumas semanas ou alguns meses. Ela deveria voltar para casa em maio, após transferir na próxima semana a responsabilidade pela segurança na área de Bagdá à 1ª Divisão da Cavalaria.
Sua permanência por mais tempo significará 20 mil soldados adicionais e centenas de tanques e outros veículos blindados que podem cumprir tarefas importantes não apenas na capital iraquiana, mas também em outras cidades.
Mas prorrogar a estadia da 1ª Divisão Blindada equivale a reconhecer que as forças americanas perderam terreno para os insurgentes, talvez apenas temporariamente, e que a estabilização do país vai exigir uma força maior do que as autoridades americanas haviam previsto poucas semanas atrás.
O secretário da Defesa americano, Donald Rumsfeld, disse a jornalistas, ontem, que existem 135 mil soldados americanos no Iraque e que os comandantes americanos querem manter esse número ""por certo período", em lugar de reduzi-lo para 115 mil, conforme o previsto anteriormente.
Ele não disse que a 1ª Divisão Blindada, cuja base fica na Alemanha, seria mantida, mas isso parece bastante provável.
Uma questão mais ampla é se as autoridades americanas vão ou não tomar medidas urgentes para acelerar o processo de treinar e equipar a polícia, os guardas de fronteira e outras forças de segurança interna iraquianas.
A estratégia americana para, em algum momento, pôr fim a sua presença militar no Iraque consiste em montar uma força iraquiana suficientemente grande e competente para poder garantir a estabilidade do país.



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