São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Assessora de Bush diz que não havia forma mágica de impedir os atentados; Clinton também depõe

Rice admite falha, mas defende Bush no 11/9

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

A assessora de Segurança Nacional dos EUA, Condoleezza Rice, reconheceu ontem, diante da comissão independente do Congresso que investiga os ataques do 11 de Setembro, que o governo de George W. Bush -bem como administrações anteriores- não havia conseguido responder adequadamente às ameaças anteriores aos ataques.
Mas Rice responsabilizou a falta de comunicação e de troca de informações entre as duas principais agências de inteligência americanas -o FBI, responsável pela segurança interna, e a CIA, que lida com ameaças externas- pelas falhas, segundo ela, "estruturais". O presidente Bush, ela disse, estava ciente das ameaças e "compreendia sua importância".
Segundo Rice, os EUA sempre tiveram uma histórica "alergia à noção de inteligência interna".
"Os terroristas estavam em guerra conosco, mas nós não estávamos ainda em guerra contra eles. Por mais de 20 anos, a ameaça terrorista aumentou, e a resposta da América ao longo de várias administrações, de ambos os partidos, foi insuficiente", declarou a assessora. Para concluir: "Não havia uma "bala de prata" [um tiro certeiro, uma maneira mágica] que pudesse impedir os ataques do 11 de Setembro".
Rice já havia falado aos integrantes da comissão a portas fechadas, mas foi pressionada a depor em público e sob juramento depois que o ex-chefe de contraterrorismo da Casa Branca Richard Clarke acusou, ante a mesma comissão, o governo Bush de ter subestimado as ameaças terroristas pré-setembro de 2001 e de ter enfraquecido a luta antiterror ao focar esforços no Iraque.
O depoimento de Rice, tratado como "histórico" pela imprensa, foi transmitido ao vivo pelas principais redes de TV americanas. O depoimento da assessora de Segurança Nacional é considerado essencial para a defesa do, até recentemente, mais valioso atributo do presidente e candidato Bush -a luta contra o terrorismo.
De seu rancho no Texas, ele acompanhou o depoimento e, segundo uma porta-voz, ligou de sua caminhonete para dizer a Rice que ela fizera "um grande trabalho" na comissão.
Em seu depoimento, Rice afirmou que o presidente tinha reuniões freqüentes com o chefe da CIA sobre o assunto e ordenou a montagem de uma grande estratégia de combate à organização.
Sobre os avisos recebidos em meados de 2001, ela disse que as informações eram imprecisas, reportando a possibilidade de "ataques no futuro" e de "um grande acontecimento".
Algumas das perguntas mais duras para a assessora de Segurança Nacional vieram do democrata Richard Benveniste, pedindo que ela dissesse o nome de um relatório sigiloso recebido pelo presidente em agosto de 2001.
Rice respondeu: "Acredito que o título era "Bin Laden decidido a atacar dentro dos EUA'".
Mas ela acrescentou que, apesar do título, o documento não continha ameaças específicas. "Tratava-se de informação histórica, baseada em relatos passados."

Clinton depõe
O ex-presidente democrata Bill Clinton (1993-2001) também foi ouvido ontem pela comissão durante mais de três horas, mas seu depoimento foi fechado ao público e à imprensa. No seu governo, as embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia foram atacadas pela Al Qaeda, em 1998. Ao menos 224 pessoas morreram.
Familiares de mortos nos ataques de setembro de 2001, presentes ao depoimento de Rice, se mostraram irritados, argumentando que ela não reconheceu a responsabilidade da administração Bush pelo ocorrido.
"Ninguém quer se responsabilizar. Três mil pessoas morreram, e tudo que eles querem dizer é que houve problemas estruturais", disse Bob McIlvaine, que perdeu o filho no ataque ao World Trade Center, em Nova York. "Eles deviam se sentir envergonhados", completou.


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