São Paulo, domingo, 09 de abril de 2006

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"EIXO DO MAL"

Em artigo na "New Yorker", premiado repórter escreve que Bush vê presidente iraniano como novo Hitler

EUA preparam ataque ao Irã, diz Hersh

DA REDAÇÃO

O governo americano está aumentando as atividades clandestinas dentro do Irã e intensificando os planos para um possível ataque aéreo ao país, segundo artigo do jornalista Seymour Hersh, publicado na revista "New Yorker".
Vencedor do prêmio Pulitzer, Hersh ficou conhecido ao revelar o massacre executado por soldados americanos em My Lai, durante a Guerra do Vietnã, e, mais recentemente, o escândalo dos maus-tratos na prisão de Abu Ghraib, no Iraque.
Na reportagem, Hersh relata que oficiais de inteligência e militares americanos disseram que grupos da Força Aérea estão estabelecendo listas de alvos e que tropas de combate foram mandadas ao Irã, disfarçadas, para coletar informações e estabelecer contato com minorias étnicas que se opõem ao governo. Segundo os oficiais, o presidente George W. Bush estaria determinado a negar ao regime iraniano a oportunidade de desenvolver seu programa de enriquecimento de urânio.
Órgãos de inteligência dos EUA e de países europeus e a Agência Internacional de Energia Atômica da ONU (AIEA) concordam que o Irã tem intenção de desenvolver uma estrutura para produzir armas nucleares, mas há diferentes opiniões sobre quando isso irá acontecer e qual seria a melhor maneira de deter o programa iraniano. O Irã insiste que as pesquisas são feitas com fins pacíficos.
Segundo o artigo publicado na "New Yorker", militares americanos e membros da comunidade internacional acreditam que a meta de Bush no confronto com o Irã é derrubar o regime do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, que já questionou o Holocausto e disse que Israel deveria ser varrido do mapa.
Bush e membros do governo americano vêem Ahmadinejad como um potencial Adolf Hitler, disse um ex-oficial de inteligência a Hersh. "Esse é o nome que eles estão usando. Eles dizem: "O Irã vai conseguir uma arma estratégica e causar o risco de outra guerra mundial?'".
Segundo o artigo, a teoria da troca de regime no Irã foi articulada em março por Patrick Clawson, diretor de pesquisas do Instituto de Políticas para o Oriente de Washington e apoiador de Bush. "Enquanto o Irã for uma república islâmica, terá um programa de armas nucleares, nem que seja clandestino. A questão, então, é: quanto tempo o atual regime iraniano vai durar?", disse Clawson a membros do Senado.
A Seymour Hersh, Patrick Clawson afirmou que o governo americano se esforça publicamente para exercer a diplomacia, mas que o Irã não tem escolha: ou aceita as exigências de Bush ou enfrenta um ataque militar.
Uma das opções de plano militar, apresentadas pelo Pentágono à Casa Branca, segundo a reportagem, é o uso de armas nucleares capazes de destruir bunkers e outros alvos subterrâneos. Um alvo no Irã seria a usina de Natanz, ao sul de Teerã. Natanz, que já esteve sob a fiscalização da AIEA, tem espaço subterrâneo para abrigar 50 mil centrífugas, além de laboratórios, abaixo da superfície.

Inspeção
Cinco inspetores da AIEA chegaram a Teerã na sexta-feira para uma visita de cinco dias às instalações de enriquecimento e reprocessamento de urânio. Eles visitariam a usina de enriquecimento de urânio de Natanz e a usina de Isfahan ainda ontem.
O chefe da AIEA, Mohamed el Baradei, visitará o país na próxima semana para tentar conseguir concessões do Irã em seu programa atômico.
Os inspetores chegaram ao país no meio do prazo de 30 dias, dado em 29 de março pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, para que Teerã suspenda as atividades de enriquecimento de urânio. Mohammad Saeedi, subchefe do programa nuclear do Irã, disse que a visita estava pré-agendada e faz parte do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. O Irã proibiu inspeções depois que a AIEA enviou o tema ao Conselho de Segurança, em fevereiro.


Com agências internacionais


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