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PERDIDOS NA GUERRA
Kosovares separados de parentes pedem telefone celular a jornalistas para tentar reunião
Campos de refugiados separam famílias
SYLVIA COLOMBO
enviada especial a Skopje
A procura por
familiares se
tornou ontem o
principal drama
vivido pelos albaneses de Kosovo refugiados
no campo de
Brazda (o nome quer dizer fosso),
em Skopje, capital da Macedônia.
A Macedônia, país vizinho à Iugoslávia, recebeu entre 130 mil e
150 mil refugiados vindos de Kosovo, a maior parte após o início dos
bombardeios da Otan à Iugoslávia.
O país já avisou que não tem condições de receber mais refugiados.
Na madrugada de quarta-feira,
as autoridades macedônias transferiram milhares de refugiados
que se encontravam na fronteira
com Kosovo para campos no interior do país ou para outros países,
como a Albânia e a Turquia.
Como resultado da operação,
muitas pessoas afirmam ter sido
separadas de seus parentes.
Ada Khan, da ONG (organização
não-governamental) britânica
"Convoy of Mercy", diz que encontrou vários casos de separação
de famílias nos campos de refugiados macedônios.
"Minha mulher está aí fora tentando entrar para me levar para a
casa de meus cunhados em Struga
(sudoeste do país). Mas a polícia
não a deixa entrar", disse à Folha
Iramani Tefil, 54, ex-morador de
Pristina (capital de Kosovo).
Tefil afirma ter sido separado da
mulher e do filho adolescente durante a transferência da fronteira
há cerca de dois dias.
"Sei que eles querem me mandar
para a Albânia, mas eu não vou de
jeito nenhum", disse.
Do lado de fora do campo, Sveruvska, sua mulher, tentava convencer um dos policiais a deixá-la
ver o marido.
"Eles reclamam, mas muitos
querem tirar vantagem da situação. Inventam que são parentes de
gente que está aí, querem levar coisas. Se não controlamos o fluxo, o
campo vira uma bagunça", afirmou um policial.
Logo após a transferência dos refugiados anteontem, surgiram rumores de que milhares deles -entre 10 mil e 30 mil- teriam desaparecido, o que foi negado ontem
pelo governo macedônio.
"É completamente errôneo dizer
que 30 mil pessoas tenham desaparecido. Todos os refugiados que
chegaram a nossas fronteiras, legalmente ou não, foram acolhidos", afirmou o ministro do Interior da Macedônia, Pavle Trajavanoc.
Segundo Trajavanoc, a Macedônia está abrigando cerca de 150 mil
kosovares, 120 mil deles oficialmente registrados.
O governo afirma ter tirado 48
mil refugiados da região da fronteira com Kosovo: 40 mil teriam sido distribuídos por vários campos
no próprio país e 8.000 teriam sido
levados para a Albânia e para outros países, como Turquia, Alemanha etc.
Ontem, uma alta funcionária do
Acnur (Alto Comissariado da
ONU para Refugiados), Sadako
Ogata, chegou ao país para verificar a situação dos refugiados de
origem albanesa no país.
No campo de Brazda, os refugiados abordavam os jornalistas portadores de telefones celulares com
o objetivo de tentar localizar parentes.
"Consegui falar com meu marido depois de três dias, ele foi levado para a Turquia", comemorava
uma mulher.
No centro do acampamento, há
dois grupos de grandes cabanas,
um deles reservado à Cruz Vermelha e outro às tendas de militares
da Otan, que cuidam do campo
junto com a polícia da Macedônia.
Ao redor, espalham-se as tendas
ocupadas pelos refugiados. Cartazes colocados na entrada permitem identificar as famílias que ocupam as barracas.
Várias filas se espalham pelo local. Há a fila da água, distribuída
duas vezes por dia pelos soldados
da Otan. Há ainda um barbeiro improvisado.
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