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Veterano russo foi salvo por bala perdida
DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
Uma bala perdida salvou a vida
de Efim Kopaigorodski, 81, na
Grande Guerra Patriótica -ou
Segunda Guerra Mundial (1939-45), como o conflito é conhecido
na maior parte do planeta.
Afinal, no momento em que um
soldado alemão se preparava para
esfaqueá-lo na nuca, numa região
próxima a Stalingrado (hoje Volvogrado) -"golpe que, certamente, seria fatal"-, a bala atingiu o inimigo. Este, "enfraquecido, não conseguiu realizar o movimento com a precisão e a potência desejadas, provocando apenas
um ferimento grave".
Essa não foi a primeira vez em
que o veterano russo foi ferido
durante a guerra. Anteriormente,
fora atingido por duas balas "do
inimigo nazista, uma na mão, outra no ombro". O primeiro ferimento o deixou fora de operações
de combate temporariamente,
enquanto o segundo o tirou dessas ações definitivamente.
"Quando me recuperei da facada na nuca, passei a participar somente de missões de apoio às tropas soviéticas", explicou Kopaigorodski em entrevista à Folha,
concedida em seu escritório no
Instituto de Direito Internacional
e de Economia A. S. Griboedov,
entidade que ajudou a fundar na
década passada e da qual é atualmente reitor emérito.
O veterano russo ainda se lembra de detalhes do conflito e afirma ter três lembranças mais fortes daquele tempo. "A primeira é
o dia em que o início da guerra foi
anunciado no rádio. Estava em
Odessa [hoje na Ucrânia] e jogava
vôlei com meus amigos. Sendo jovens despreocupados, não ficamos tão inquietos e achamos que
fosse apenas uma aventura rápida", afirmou Kopaigorodski.
"Tinha a impressão de que as
hostilidades fossem passageiras.
Ninguém entre meus conhecidos
pensava que a guerra pudesse durar tanto tempo nem ser tão sangrenta. A segunda lembrança forte é a participação em minha primeira missão de ataque. Eu queria só que aquela bagunça acabasse de uma vez, mesmo que o desfecho fosse trágico, e eu morresse
ou ficasse ferido gravemente."
"A terceira lembrança marcante
ocorreu no dia da vitória. Estava
perto de Kiev [capital da Ucrânia,
que pertencia à URSS], e o trem
em que eu me encontrava estava
se preparando para deixar uma
pequena cidade quando ouvimos
a incrível notícia da capitulação
dos nazistas. As pessoas ficaram
exultantes e começaram a trocar
abraços e beijos e a atirar para cima mesmo dentro da bela estação
ferroviária em que estávamos, o
que deixou marcas em seu valioso
teto de gesso", contou.
Não houve um só momento
mais duro na guerra, pois "o cotidiano de um conflito do gênero é
uma provação terrível", segundo
o veterano. "Poderia dizer que
passei dias de um inverno rigoroso ao ar livre ou dentro de um rio
cuja água estava quase congelada
porque precisava me proteger dos
ataques inimigos, mas isso foi
apenas parte de algo muito maior
e mais aterrorizador."
Ele admite que, durante o conflito e talvez por conta do aparato
de propaganda soviético, não
conseguia compreender a diferença entre os soldados alemães e
a cúpula nazista, comandada por
Adolf Hitler. ""Papai, mate o
Fritz", diziam cartazes que víamos
em toda parte durante a guerra",
contou, aludindo a um nome alemão comum.
"Só mais tarde, viemos a notar a
diferença entre os comandantes e
os comandados. Hoje tenho um
grande amigo alemão, que também combateu durante a guerra.
Porém, à época, eles eram todos
iguais. Ou seja, inimigos."
Também em razão da propaganda soviética, Kopaigorodski
disse que, nos anos em que esteve
na ativa, tinha noção das atrocidades cometidas pelos nazistas.
"Assistíamos a documentários
que nos falavam dos campos de
concentração e da intenção de Hitler de dizimar uma parte considerável da população mundial."
Quanto aos aliados ocidentais,
que também combateram os nazistas, foi breve. "É claro que os
respeitávamos, pois eles também
eram contrários aos nazistas. Mas
fazíamos piadas, já que eles demoraram demais para entrar realmente no conflito. Se isso tivesse
ocorrido antes, a guerra teria terminado mais cedo, e milhares, talvez milhões, de vidas pudessem
ter sido salvas."
(MSM)
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