São Paulo, domingo, 9 de maio de 1999

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"ERRO TRÁGICO'
Após bombardeio da embaixada chinesa, que teria matado 4 pessoas, China e Rússia pedem fim imediato da ofensiva
Otan diz que "tragédia' não pára ataques

das agências internacionais

A Otan anunciou ontem que o ataque contra a Embaixada da China em Belgrado, capital iugoslava, foi um "erro trágico", mas que os bombardeios contra a Iugoslávia não vão parar.
China e Rússia pediram o fim imediato da ofensiva da aliança militar ocidental contra a Iugoslávia. Pelo menos quatro chineses morreram no ataque, segundo o governo iugoslavo.
A China, que critica os bombardeios desde seu início a 24 de março, acusou a aliança militar ocidental e os EUA de "responsáveis por um crime de guerra". A Rússia chamou o bombardeio da embaixada de "uma barbaridade" e, em protesto, cancelou a visita a Londres do seu chanceler, Igor Ivanov, prevista para começar ontem.
O ataque também deixou pelo menos 20 feridos, segundo a Iugoslávia. A China afirmou que, entre as vítimas fatais, havia dois jornalistas.
Na noite de sexta-feira, mísseis da Otan atingiram a embaixada chinesa na capital iugoslava, horas depois de a aliança ocidental ter admitido outro erro responsável pela morte de 15 civis num bombardeio que atingiu uma feira livre e um hospital na cidade de Nis.
O Conselho de Segurança da ONU, reunido na noite de sexta-feira, emitiu um comunicado se dizendo "chocado e preocupado". Mas a China não conseguiu a aprovação de uma moção condenando o ataque e anunciando uma investigação das Nações Unidas sobre as origens do erro.
EUA, Reino Unido e França têm poder de veto nas decisões do Conselho de Segurança da ONU.
A Otan declarou que vai investigar as causas do "erro trágico". Segundo seu porta-voz, Jamie Shea, o ataque tinha como alvo prédios próximos à embaixada, que seriam um depósito de armas e um hotel usado como quartel-general por paramilitares sérvios.
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Diplomacia O presidente russo, Boris Ieltsin, disse que cancelava a visita de Ivanov a Londres também devido à "deterioração da situação nos Bálcãs". Mas seu enviado especial à região, Viktor Tchernomirdin, viajou para Bonn (Alemanha), para continuar negociações de paz.
Na quinta-feira, o G-8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia) lançou um plano de paz, que prevê a manutenção da Província separatista de Kosovo na Iugoslávia, mas com autonomia política, econômica e cultural.
A proposta também prevê o envio de tropas de paz, "a fim de garantir o retorno dos refugiados".
A Iugoslávia ainda não reagiu oficialmente ao plano. O ditador iugoslavo, Slobodan Milosevic, tem se declarado contrário à presença de tropas dos países da Otan num eventual acordo de paz.
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Para entender A Província de Kosovo é parte da Sérvia, uma das duas Repúblicas que formam a Iugoslávia (a outra é Montenegro). No início do conflito, sua população era majoritariamente de origem albanesa e muçulmana (90%).
Em 1989, o governo Milosevic retirou a autonomia da Província, proibindo o uso da língua albanesa e fechando instituições locais. Isso estimulou o separatismo e a criação do Exército de Libertação de Kosovo, pró-independência.
O movimento foi violentamente reprimido pela Sérvia, que considera Kosovo o berço de sua identidade nacional. É o local de batalhas históricas dos sérvios.
O conflito se acirrou em 1998, com choques frequentes entre o ELK e os iugoslavos.
O regime de Milosevic é acusado de "limpeza étnica", isto é, a expulsão ou extermínio da população de origem albanesa de Kosovo.
O governo iugoslavo acusa o ELK de terrorismo e narcotráfico.
Fracassada a tentativa de acordo, a Otan começou a atacar a Iugoslávia no dia 24 de março, na tentativa de impor seu plano de paz.



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