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COMENTÁRIO
Otan ataca um Estado soberano sob a acusação de ele ter cometido atrocidades contra sua própria população
Guerra põe em xeque conceito de soberania
HUMBERTO SACCOMANDI
Editor-adjunto de Mundo
O ataque da
Otan à Iugoslávia coloca em
xeque um conceito fundamental do Estado
moderno: a soberania sobre o
território.
A Iugoslávia está sendo bombardeada sob a acusação de o Estado
ter cometido atrocidades contra
seus cidadãos dentro de suas próprias fronteiras (até agora nem a
ONU nem a Otan questionaram a
soberania iugoslava em Kosovo).
Fazendo uma analogia simples, é
como se o Chile de Augusto Pinochet tivesse sido alvo de represálias
durante a ditadura devido às atrocidades cometidas pelo regime.
O regime do ditador Slobodan
Milosevic se defende dizendo que
combate, como ocorre em outros
países, um movimento separatista
armado, o ELK (Exército de Libertação de Kosovo), sempre qualificado pelas autoridades iugoslavas
de grupo terrorista.
Essa nova situação foi definida
recentemente pelo presidente
tcheco, o dramaturgo Vaclav Havel: "Esta guerra dá precedência
aos direitos humanos em relação
ao direito das nações. Vejo isso como um importante precedente para o futuro". A República Tcheca
faz parte da Otan e apóia o ataque.
Do ponto de vista dos direitos
humanos, certamente o separatismo não justifica a repressão desencadeada pelo governo iugoslavo
em Kosovo. Outros países (leia
texto abaixo) buscaram soluções
de conciliação com minorias separatistas.
Mas é questionável se os direitos
humanos foram o fator preponderante na decisão da aliança militar
ocidental de atacar a Iugoslávia.
As principais potências ocidentais pouco ou nada fizeram em casos recentes de repressão violenta
a movimentos separatistas. Mesmo onde havia analogias evidentes, do ponto de vista dos direitos
humanos, com Kosovo (leia texto
abaixo).
A decisão da Otan de questionar
a soberania da Iugoslávia na crise
de Kosovo abre a discussão sobre
quem e com base em que argumentos pode tomar tal atitude.
A Otan, na cúpula de 50 anos celebrada há duas semanas em Washington, decidiu que suas ações
não necessariamente precisam ser
submetidas ao Conselho de Segurança da ONU.
Isto é, o órgão com poder de polícia (mesmo se não mundial) se outorgou também o direito de julgar
e ordenar a punição.
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