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LONGE DE CASA
Ex-presidente paraguaio chegou a ficar 20 dias sem deixar seu apartamento em Camboriú e só sai com escolta
Cubas vive isolado em exílio brasileiro
Em imagem mostrada na TV, Lino Oviedo (à dir.) chega à Argentina
LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Camboriú
O ex-presidente paraguaio Raúl
Cubas Grau, asilado no Brasil desde o dia 30 de março, vive um exílio dentro do seu próprio apartamento de 300 metros quadrados
na avenida Atlântica, o ponto mais
valorizado do município de Camboriú (SC), à beira-mar.
Junto com seu mentor político, o
general Lino Oviedo, Cubas teve
de renunciar e abandonar o Paraguai após distúrbios desencadeados pelo assassinato de seu vice,
Luis María Argaña. Oviedo, asilado na Argentina, e Cubas são acusados de envolvimento no crime.
Em mais de um mês, Cubas, que
chegou a ficar 20 dias seguidos sem
sair, foi só duas vezes à praia. Nas
duas ocasiões, só deixou sua casa
cercado de policiais federais.
As poucas outras ocasiões em
que saiu de casa (a média é de duas
ou três vezes por semana), ele próprio dirigiu em alta velocidade sua
camionete Nissan vermelha, com
placas do Paraguai, até pontos definidos previamente.
Mesmo estando dentro do seu
carro, Raúl Cubas sempre está
acompanhado de uma escolta à
paisana.
A opção pela clausura partiu dele
e de recomendações policiais. A liberdade fica por conta da sua mulher, Mirta, e das duas filhas, Cecilia, 23, e Silvia, 18. As três costumam passear sem seguranças.
Diferentemente de Mirta, que
percorre o centro da cidade fazendo compras, o ex-presidente paraguaio é econômico.
Pela manhã, alguém lhe compra
a Folha ou o "Diário Catarinense".
Quando termina de ler um, ele troca pelo outro.
Além dos jornais, Cubas acompanha o mundo pela TV a cabo e
pela revista "Veja".
Os passeios de Mirta não são vistos com bons olhos pela segurança
da família. Na última terça-feira, a
mulher de Cubas saiu quatro vezes
apenas pela manhã e à tarde. Em
uma delas, usando um vestido tigrado e acompanhada de Silvia e
de uma amiga paraguaia, comprou
roupas íntimas.
Ao sair de casa, nem olhou para
outras vitrines existentes no percurso. Foi direto à loja Romântica.
Ao ser abordada pela Agência
Folha, Silvia disse que ninguém na
família (incluindo Cubas) iria falar. "Nós queremos levar uma vida
normal", afirmou.
A busca da normalidade pode ser
constatada pelo fato de Cecilia ter
feito reserva no 3º ano do ensino
médio do curso Positivo, localizado no centro da cidade.
O isolamento de Cubas já levou o
prefeito da cidade, Leonel Pavan
(PDT), a achar que o ex-presidente
paraguaio havia viajado para outra
cidade brasileira.
"Ele está completamente recolhido. Que eu saiba, não vê nem os
amigos", disse Pavan.
Os únicos amigos que frequentam regularmente a casa do ex-presidente são uma família paraguaia, que entra pela garagem, onde deixa sua Cherokee branca.
Até dias atrás, a alimentação da
família era sustentada por comida
pedida pelo telefone. A predileção
recaía nas pizzas de queijo e calabresa.
Ultimamente, as compras em supermercado e padaria indicam
uma adesão à comida caseira. Na
padaria, pães de queijo, frios, pizzas e tortas de maracujá são as preferências da família.
Os vizinhos raramente vêem Cubas, nem aqueles que em verões
passados costumavam ir à praia
com a família ou partilhar com o
ex-presidente uma caipirinha.
Um deles se queixa da segurança,
pois o corredor que dá acesso à garagem estaria vulnerável.
No final do corredor, há o elevador de serviço, que leva aos fundos
dos apartamentos.
Em cada andar, o espaço entre o
elevador e a porta do apartamento
tem apenas dois metros, o que impede a presença de policiais.
De acordo com o vizinho, os policiais não têm como conhecer a fisionomia dos moradores, pois
apenas quatro ou cinco famílias
são proprietárias de apartamentos
no prédio onde vive Cubas.
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