|
Próximo Texto | Índice
EUA matam líder da Al Qaeda no Iraque
Esconderijo de Abu Musab al Zarqawi é bombardeado; para seguidores, ele foi "compensado com o martírio por combater ocupação"
Anunciada ontem, operação ocorreu na quarta a 70 km de Bagdá; Bush fala em "vitória", mas alerta para novas ações terroristas
Khalid Mohammed/Associated Press
|
Soldado americano exibe foto do cadáver de Abu Musab al Zarqawi durante entrevista coletiva em Bagdá que anunciou sua morte |
DA REDAÇÃO
Abu Musab al Zarqawi, o homem mais procurado do Iraque
e autodesignado líder da rede
terrorista Al Qaeda no país, foi
morto numa operação conjunta de forças americanas e iraquianas. Dois caças F-16 despejaram 225 kg de bombas sobre
o esconderijo onde ele estava,
num vilarejo 75 km a noroeste
de Bagdá, perto de Baquba.
A ação -iniciada às 10h15 de
quarta-feira (hora de Brasília)
mas anunciada apenas ontem-
é a primeira grande notícia do
Iraque para os EUA desde a prisão do ex-ditador Saddam Hussein, no fim de 2003.
O jordaniano é considerado o
mentor de dezenas de atentados com carros-bomba e terroristas suicidas que mataram
centenas de iraquianos, o autor
de seqüestros e decapitações de
prisioneiros e o mais notório
responsável por fomentar a
violência sectária no país. Esteve por trás do ataque à base da
ONU em Bagdá, em 2003, que
matou 22 pessoas -inclusive o
chefe da missão, o brasileiro
Sérgio Vieira de Mello.
Com a escalada de seus ataques, recebeu de Osama bin Laden, líder foragido do grupo, o
epíteto de "príncipe da Al Qaeda no Iraque". O site operado
por seu grupo confirmou a
morte "com muita alegria",
pois Zarqawi "foi recompensado com o martírio por resistir
aos americanos".
Em entrevista conjunta, o
premiê iraquiano, Nuri Al Maliki, e o comandante das forças
americanas no país, general
George Casey, afirmaram que o
corpo do terrorista teve sua
identidade confirmada por impressões digitais e cicatrizes.
Para Maliki, a morte do líder
terrorista "é uma advertência"
aos demais insurgentes. Imagens mostraram a casa onde ele
estava totalmente destruída,
num local repleto de palmeiras,
onde havia outras residências.
Seis outras pessoas morreram no bombardeio, entre elas
o conselheiro espiritual de Zarqawi, Abdul Rahman -que, ao
ser seguido, sem querer revelou
a localização do esconderijo.
Segundo Maliki, as informações que permitiram localizar
Zarqawi foram fornecidas por
civis daquela região. Autoridades americanas disseram que
ninguém receberá o prêmio de
US$ 25 milhões prometido pelo governo dos EUA a quem
ajudasse a localizar o terrorista.
Luto e festa
Em Gaza, o Hamas, grupo
terrorista cuja ala política controla o Parlamento palestino,
disse estar "enlutado" pelo
"mártir da nação" islâmica.
Já o presidente dos EUA,
George W. Bush, fez uma declaração oficial contida em Washington. "A ideologia do terror
perdeu um de seus líderes mais
visíveis e agressivos. A morte de
Zarqawi é um golpe forte na Al
Qaeda. É uma vitória na guerra
global contra o terror", afirmou, para depois relativizar. "A
difícil e necessária missão no
Iraque continua. Podemos esperar que os terroristas e insurgentes sigam sem ele, e que a
violência sectária continue."
Em Nova York, principal alvo
dos atentados de 11 de setembro de 2001, a polícia disse que
a cidade continua no nível de
"alerta elevado", mesmo com a
morte de Zarqawi, pois o terrorista não tinha "grande influência sobre as células dos EUA".
Tom mais entusiasta -e de
certa maneira previsível- teve
a Fox News, emissora de notícias que é uma espécie de porta-voz não-oficial do atual governo. Além de mostrar à
exaustão imagens de uma dezena de policiais iraquianos dançando e cantando em comemoração à morte, os títulos ao longo do dia eram francamente positivos, na linha "Bush se beneficiará com o fim de Zarqawi".
Em Londres, o premiê Tony
Blair homenageou os serviços
de inteligência que permitiram
a ação, mas advertiu que os
membros da Al Qaeda cometerão atentados em retaliação.
Em declarações escritas e vídeos divulgados nos últimos
meses, Zarqawi e seus aliados
prometiam instalar no Iraque
"um novo califado" e exortavam a minoria árabe-sunita a
matar "convertidos" -menção
pejorativa à maioria árabe xiita.
Por duas vezes nos últimos 18
meses, Zarqawi escapou por
pouco do cerco americano.
Nos bairros pobres de Bagdá,
habitados por xiitas, o anúncio
de sua morte foi comemorado
com rajadas de balas. Entre alguns sunitas, no entanto, a reação era oposta. "Se eles mataram Zarqawi, muitos outros
Zarqawi aparecerão", disse à
Associated Press Abid Duleimi.
Com SÉRGIO DÁVILA, de Washington, e agências internacionais
Próximo Texto: Frases Índice
|