São Paulo, sexta-feira, 09 de junho de 2006

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EUA matam líder da Al Qaeda no Iraque

Esconderijo de Abu Musab al Zarqawi é bombardeado; para seguidores, ele foi "compensado com o martírio por combater ocupação"

Anunciada ontem, operação ocorreu na quarta a 70 km de Bagdá; Bush fala em "vitória", mas alerta para novas ações terroristas


Khalid Mohammed/Associated Press
Soldado americano exibe foto do cadáver de Abu Musab al Zarqawi durante entrevista coletiva em Bagdá que anunciou sua morte


DA REDAÇÃO

Abu Musab al Zarqawi, o homem mais procurado do Iraque e autodesignado líder da rede terrorista Al Qaeda no país, foi morto numa operação conjunta de forças americanas e iraquianas. Dois caças F-16 despejaram 225 kg de bombas sobre o esconderijo onde ele estava, num vilarejo 75 km a noroeste de Bagdá, perto de Baquba.
A ação -iniciada às 10h15 de quarta-feira (hora de Brasília) mas anunciada apenas ontem- é a primeira grande notícia do Iraque para os EUA desde a prisão do ex-ditador Saddam Hussein, no fim de 2003. O jordaniano é considerado o mentor de dezenas de atentados com carros-bomba e terroristas suicidas que mataram centenas de iraquianos, o autor de seqüestros e decapitações de prisioneiros e o mais notório responsável por fomentar a violência sectária no país. Esteve por trás do ataque à base da ONU em Bagdá, em 2003, que matou 22 pessoas -inclusive o chefe da missão, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello.
Com a escalada de seus ataques, recebeu de Osama bin Laden, líder foragido do grupo, o epíteto de "príncipe da Al Qaeda no Iraque". O site operado por seu grupo confirmou a morte "com muita alegria", pois Zarqawi "foi recompensado com o martírio por resistir aos americanos". Em entrevista conjunta, o premiê iraquiano, Nuri Al Maliki, e o comandante das forças americanas no país, general George Casey, afirmaram que o corpo do terrorista teve sua identidade confirmada por impressões digitais e cicatrizes.
Para Maliki, a morte do líder terrorista "é uma advertência" aos demais insurgentes. Imagens mostraram a casa onde ele estava totalmente destruída, num local repleto de palmeiras, onde havia outras residências.
Seis outras pessoas morreram no bombardeio, entre elas o conselheiro espiritual de Zarqawi, Abdul Rahman -que, ao ser seguido, sem querer revelou a localização do esconderijo.
Segundo Maliki, as informações que permitiram localizar Zarqawi foram fornecidas por civis daquela região. Autoridades americanas disseram que ninguém receberá o prêmio de US$ 25 milhões prometido pelo governo dos EUA a quem ajudasse a localizar o terrorista.

Luto e festa
Em Gaza, o Hamas, grupo terrorista cuja ala política controla o Parlamento palestino, disse estar "enlutado" pelo "mártir da nação" islâmica.
Já o presidente dos EUA, George W. Bush, fez uma declaração oficial contida em Washington. "A ideologia do terror perdeu um de seus líderes mais visíveis e agressivos. A morte de Zarqawi é um golpe forte na Al Qaeda. É uma vitória na guerra global contra o terror", afirmou, para depois relativizar. "A difícil e necessária missão no Iraque continua. Podemos esperar que os terroristas e insurgentes sigam sem ele, e que a violência sectária continue."
Em Nova York, principal alvo dos atentados de 11 de setembro de 2001, a polícia disse que a cidade continua no nível de "alerta elevado", mesmo com a morte de Zarqawi, pois o terrorista não tinha "grande influência sobre as células dos EUA".
Tom mais entusiasta -e de certa maneira previsível- teve a Fox News, emissora de notícias que é uma espécie de porta-voz não-oficial do atual governo. Além de mostrar à exaustão imagens de uma dezena de policiais iraquianos dançando e cantando em comemoração à morte, os títulos ao longo do dia eram francamente positivos, na linha "Bush se beneficiará com o fim de Zarqawi".
Em Londres, o premiê Tony Blair homenageou os serviços de inteligência que permitiram a ação, mas advertiu que os membros da Al Qaeda cometerão atentados em retaliação. Em declarações escritas e vídeos divulgados nos últimos meses, Zarqawi e seus aliados prometiam instalar no Iraque "um novo califado" e exortavam a minoria árabe-sunita a matar "convertidos" -menção pejorativa à maioria árabe xiita.
Por duas vezes nos últimos 18 meses, Zarqawi escapou por pouco do cerco americano. Nos bairros pobres de Bagdá, habitados por xiitas, o anúncio de sua morte foi comemorado com rajadas de balas. Entre alguns sunitas, no entanto, a reação era oposta. "Se eles mataram Zarqawi, muitos outros Zarqawi aparecerão", disse à Associated Press Abid Duleimi.


Com SÉRGIO DÁVILA, de Washington, e agências internacionais

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