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"Farc não têm mais lugar na América Latina", diz Chávez
Venezuelano pede que guerrilha colombiana solte reféns sem precondições
Declarações marcam virada na retórica do presidente, que já manifestou simpatia ideológica pelo grupo, mas vê pressão sobre si crescer
Palácio Miraflores-7.jun.08/Reuters
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Chávez acena a simpatizantes durante encontro de seu partido, o PSUV, em Maracaíbo; eleições serão em novembro próximo
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Depois de declarar sua simpatia ideológica pelas Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no início do
ano, o presidente venezuelano,
Hugo Chávez, afirmou ontem
que "a guerra de guerrilhas está
fora de lugar" na América Latina e exortou o novo líder máximo da organização colombiana,
Alfonso Cano, a libertar todos
os reféns sem precondições.
"Não justifica ter [refém] na
montanha um grupo de gente,
sobretudo civis e também militares. Uma montanha não é o
mesmo que estar num presídio
(...). Chegou a hora de as Farc libertarem a todos, seria um
grande gesto humanitário, sem
nada em troca. Assim proponho, agora que há um novo chefe à frente do secretariado das
Farc", disse Chávez, em seu
programa "Alô, Presidente".
"A esta altura, na América
Latina, está fora de lugar um
movimento guerrilheiro, e isso
tem de ser dito às Farc. Queria
dizer a [Manuel] Marulanda",
afirmou, em alusão ao fundador das Farc, morto em março.
De acordo com o venezuelano, a guerrilha tem servido até
de estratégia para os EUA
ameaçarem Caracas: "Os guerrilheiros das Farc devem saber
uma coisa: se converteram numa desculpa do império para
ameaçar a todos nós. No dia em
que se fizer a paz na Colômbia,
acabará a desculpa do império".
Mediação e reação
Chávez voltou a se oferecer
como facilitador das libertações e propôs criar um grupo de
países -citou Brasil e Argentina, entre outros- e a Organização dos Estados Americanos
para negociar um acordo de
paz. "Chegou a hora, Cano."
O tom adotado por Chávez
ontem é bastante diferente de
seu discurso em 11 de janeiro,
logo após ter conseguido a liberação das reféns Clara Rojas e
Consuelo González. Na época,
ele pediu que as Farc deixassem de ser classificadas de terroristas "porque são forças insurgentes que têm um projeto
político bolivariano que aqui é
respeitado". A proposta foi rejeitada pelo presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, e criticada até por setores da oposição
mais simpáticos a Caracas.
Ontem, o governo colombiano se mostrou surpreso com as
declarações de Chávez. O ministro do Interior e Justiça,
Carlos Holguín, disse que o venezuelano é "um grande defensor e aliado [das Farc], por isso
é tão surpreendente que tenha
agido dessa maneira". "Mas tomara que as Farc lhe ouçam."
Em março, com a divulgação
de relatos que Bogotá diz ter
achado nos computadores do
líder das Farc Raúl Reyes, morto no início daquele mês, aumentaram as suspeitas sobre a
aproximação de Chávez com a
guerrilha. Uma das mensagens
cita negociações para que a Venezuela emprestasse US$ 300
milhões à guerrilha. Outros
textos mencionam reuniões
com militares venezuelanos.
Em maio, a Interpol (polícia
internacional) constatou que
os relatos atribuídos a Reyes
não foram adulterados após 1º
de março. A perícia não aborda
a procedência dos computadores. Pressionado, o presidente
venezuelano procurou desqualificar a Interpol, chamando o
seu relatório de "palhaçada" e
acusando Bogotá e Washington
de estarem por trás dos documentos, todos negados por ele.
Desde então, Chávez tem tido mais cuidado ao falar da
guerrilha. Quando a morte de
Marulanda foi confirmada só
comentou brevemente após
dois dias, sem elogiá-lo. Finalmente, na cúpula da Unasul
(União das Nações Sul-Americanas) em Brasília, em maio,
Chávez se aproximou de Uribe,
com quem havia prometido
nunca mais conversar. Conciliador, assegurou ao colega que
nunca dera dinheiro às Farc.
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