São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2010

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ANÁLISE CONSELHO DE SEGURANÇA

Sanções só protelam decisão quanto ao Irã

Mesmo diluído para não minar interesses de russos e chineses, novo pacote deve endurecer posição iraniana

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

A votação no Conselho de Segurança da ONU de mais sanções apenas adia a decisão de negociar seriamente com o Irã ou confrontá-lo -pelas armas ou a sabotagem-, com as consequências explosivas que esta última opção acarretaria.
O novo pacote foi diluído para preservar os negócios russos e chineses com Teerã, e seu resultado mais provável será endurecer a posição iraniana.
As sanções vieram sobretudo porque os EUA precisam aplacar seu público interno e o aliado Israel.
Chegaram a termo porque não interessa nem à Rússia nem à China um embate direto com os americanos.
Moscou, sem dinheiro de sobra para armas, acaba de renovar com Washington acordo de redução de mísseis de longo alcance.
Pequim conseguiu jogar água fria na crise que se anunciava acerca do seu superavit no comércio bilateral.
O impasse é tão evidente que, nos últimos dias, os analistas com um mínimo de sangue-frio sugeriram que fosse aceito o acordo de troca de urânio enriquecido negociado no mês passado por Brasil e Turquia.
Apresentado como um possível primeiro passo para a normalização da relação entre o Irã e a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), o acordo teve apoio do ex-subsecretário de Estado americano Thomas Pickering e do ex-diretor da AIEA Mohamed El Baradei, entre outros.

BRASIL
É duvidosa a previsão de que a mediação trará danos ao prestígio internacional do Brasil -pode ser o contrário, dado o desgaste dos americanos, principalmente após o episódio do ataque israelense ao navio turco que navegava rumo à faixa de Gaza.
Haverá, naturalmente, um custo na relação com a superpotência, cujo alcance deve demorar a ficar claro.
Mas também é parcial dizer que o Brasil não tinha por que se envolver no caso.
Interessa o fortalecimento do Tratado de Não Proliferação, que ocorrerá se a questão for resolvida de modo negociado, preservando o direito de exploração do átomo para fins pacíficos.
O governo Lula fez uma jogada de risco.
Mas, no balanço possível, está claro que a mediação, ao lado da Turquia, foi positiva.
O erro que o presidente cometeu foi ter dado apoio público à reeleição de Ahmadinejad, quando nem resultado oficial havia.
Ao fazer pouco da oposição que protestava, sob repressão, Lula permitiu que se embaralhasse seu movimento diplomático legítimo com endosso ao governo autoritário do iraniano.


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