São Paulo, sábado, 09 de julho de 2005

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TERROR EM LONDRES

Não podemos excluir nenhuma possibilidade até termos certeza. Nesse momento, é preciso manter a mente aberta

Inteligência mostrou preparo, diz especialista

DE LONDRES

Em cinco de maio deste ano, uma bomba de fabricação caseira estourou em frente ao consulado britânico em Nova York. A explosão (às 8h da manhã do Reino Unido) coincidiu com o horário da abertura das votações que conduziriam o primeiro-ministro, Tony Blair, ao seu terceiro mandato consecutivo.
Nesse dia, Sandra Bell, respeitada especialista em segurança, disse à Folha, no entanto, que as eleição parlamentares britânicas não eram consideras "data-alvo" de um grande atentado. Os terroristas estariam de olho mesmo, segundo ela, no encontro do G8, dois meses mais tarde.
Não deu outra. Ontem, ao falar com a Folha novamente, Sandra -que passou a última quinta-feira fazendo comentários ao vivo na televisão britânica- se lembrava da entrevista. Voltou a pedir desculpas, aliás, por ter mencionado a previsão lá atrás, sem se dar conta de que a repórter, possivelmente, cobriria a cúpula do grupo que reúne sete países desenvolvidos e a Rússia.
Ela confirmou que os institutos especializados em segurança, como o Rusi, onde trabalha, e o serviço de inteligência britânica contavam com a hipótese de tentativas de atentado entre os últimos dias 6 e 8, durante a reunião do G8, presidido este ano por Blair.
Indagada se Londres estaria desguarnecida e se o atentado poderia ter sido evitado, Sandra respondeu um firme "não". "O problema está na natureza dos ataques terroristas de hoje", diz ela.
"Nós temos uma máquina de inteligência histórica, muito estruturada para lidar com um tipo de ameaça bem diferente, de quando estávamos lidando com um tipo de terrorismo muito mais estruturado, hierarquizado", afirma. "Hoje, estamos lidando com uma federação solta, uma rede que se junta para um propósito específico, depois se desvincula. Obviamente, a capacidade de penetrar em algo assim é mais difícil", diz Sandra, que é diretora do Departamento de Segurança Doméstica e de Resistência do Rusi.
Apesar disso, a inteligência britânica evoluiu muito, segundo Sandra. Ela cita dois sinais disso: a reação da polícia aos atentados de quinta-feira -que demonstrou a existência de um rápido e eficiente plano de ação emergencial-foi considerada exemplar; outras tentativas de ataques foram impedidas no Reino Unido nos últimos quatro anos.
Agora, diz Sandra, a tendência é que o governo britânico centralize todos os esforços estratégicos em melhorar ainda mais seus mecanismos de detecção e prevenção a atos terroristas.
Para a especialista, ainda é muito cedo para fazer suposições de quem estaria por trás dos atentados em Londres.
Pode ser, segundo ela, desde um indivíduo isolado até uma grande rede como a Al Qaeda, passando pelo IRA (Exército Republicano Irlandês). "Não podemos excluir nenhuma possibilidade até termos certeza. Nesse momento, é preciso manter a mente aberta e investigar todas as possibilidades."
Questionada se sente medo de seguir sua rotina normal depois que o "terror" atingiu Londres, ela chegou a reagir com surpresa. Racional, como a maioria dos britânicos, já tinha na cabeça a idéia de que a vida segue em frente:
"Não, não, não. Eu peguei meu trem normalmente nesta manhã, com todas as outras pessoas. Todo mundo estava agindo normalmente, lendo seus jornais", afirmou. (ÉRICA FRAGA)


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