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Obrador reúne 300 mil contra "fraude"
Esquerdista mexicano eleva tom de críticas aos adversários e reitera que vai à Justiça; Calderón defende "reconciliação"
Ex-prefeito é aclamado por
multidão, convoca "marcha
pela democracia" e diz que
esse é apenas o "começo do
processo eleitoral" no país
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO
Mais de 300 mil pessoas se
reuniram ontem para apoiar o
esquerdista Andrés Manuel
López Obrador, que perdeu a
disputa para a Presidência do
México para o candidato do
governo, Felipe Calderón.
Com discurso inflamado, López Obrador acusou o PAN,
partido do seu adversário, de
orquestrar uma "fraude" na
eleição do domingo passado.
Os organizadores disseram
haver 500 mil pessoas na manifestação, que ocorreu no Zócalo, principal praça da Cidade
do México.
Numa mostra de que seu carisma continua intacto, o ex-prefeito da cidade foi recebido
aos gritos de "Obrador, Obrador" e "Você não está sozinho". A palavra "fraude" foi repetida diversas vezes pela
multidão. A maioria era do sul
do país, onde Obrador teve votação maciça. Muitos vestiam
amarelo, a cor do PRD.
O esquerdista convocou
uma "marcha nacional pela
democracia", a partir de todos
os Estados, na quarta, em direção à capital e já anunciou
uma nova manifestação, também no Zócalo, no próximo
domingo. Sem sinal de abatimento, afirmou que vai à Justiça e que "esse é apenas o começo do processo eleitoral".
López Obrador elevou o tom
de suas críticas. "Estamos
diante de um caso típico de
fraude eleitoral no México. O
PAN [partido de Calderon]
aprendeu rápido as táticas
fraudulentas do PRI [que governou o México por sete décadas] e as superou." O presidente Vicente Fox foi chamado de "traidor da democracia",
e Calderón, de "marionete dos
grupos político-econômicos".
Embora nenhum analista
ouvido pela Folha acredite
que a Justiça possa tirar a vitória do conservador Calderón, o protesto na capital mostra quão dividido está o país.
Observadores da União Européia afirmaram que não
houve sinais de irregularidade
na votação ou na apuração. Líderes de posturas ideológicas
antagônicas, como o presidente dos EUA, George W. Bush, e
o premiê espanhol, José Luís
Rodríguez Zapatero, já felicitaram Calderón -que venceu
por 0,57 ponto percentual, menos de 250 mil votos num total
de 41 milhões.
Horas antes da manifestação, López Obrador falou à imprensa estrangeira. Disse que
vai recorrer não só ao Tribunal
Federal Eleitoral, para pedir a
recontagem de todos os votos,
mas também à Corte Suprema,
para denunciar suposta intromissão do governo de Vicente
Fox na campanha e uso de programas sociais com fins eleitoreiros. "Ainda não há presidente eleito", afirmou.
Antes da manifestação, Calderón afirmou em uma entrevista na TV que pedira a amigos
comuns para intermediar um
encontro com López Obrador.
"É hora de conciliação e de
pensar no futuro do país."
Ex-presidente
Ontem o juiz federal mexicano Ranulfo Castillo ordenou a
libertação do ex-presidente
Luis Echeverría (1970-1976),
84, que estava em prisão domiciliar desde a semana passada,
acusado de genocídio pela morte de estudantes em 1968. Segundo a defesa, o juiz considerou que o crime havia prescrito.
Muitos haviam criticado a prisão como medida eleitoreira.
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