São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

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Obrador reúne 300 mil contra "fraude"

Esquerdista mexicano eleva tom de críticas aos adversários e reitera que vai à Justiça; Calderón defende "reconciliação"

Ex-prefeito é aclamado por multidão, convoca "marcha pela democracia" e diz que esse é apenas o "começo do processo eleitoral" no país


RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

Mais de 300 mil pessoas se reuniram ontem para apoiar o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, que perdeu a disputa para a Presidência do México para o candidato do governo, Felipe Calderón.
Com discurso inflamado, López Obrador acusou o PAN, partido do seu adversário, de orquestrar uma "fraude" na eleição do domingo passado. Os organizadores disseram haver 500 mil pessoas na manifestação, que ocorreu no Zócalo, principal praça da Cidade do México.
Numa mostra de que seu carisma continua intacto, o ex-prefeito da cidade foi recebido aos gritos de "Obrador, Obrador" e "Você não está sozinho". A palavra "fraude" foi repetida diversas vezes pela multidão. A maioria era do sul do país, onde Obrador teve votação maciça. Muitos vestiam amarelo, a cor do PRD.
O esquerdista convocou uma "marcha nacional pela democracia", a partir de todos os Estados, na quarta, em direção à capital e já anunciou uma nova manifestação, também no Zócalo, no próximo domingo. Sem sinal de abatimento, afirmou que vai à Justiça e que "esse é apenas o começo do processo eleitoral".
López Obrador elevou o tom de suas críticas. "Estamos diante de um caso típico de fraude eleitoral no México. O PAN [partido de Calderon] aprendeu rápido as táticas fraudulentas do PRI [que governou o México por sete décadas] e as superou." O presidente Vicente Fox foi chamado de "traidor da democracia", e Calderón, de "marionete dos grupos político-econômicos".
Embora nenhum analista ouvido pela Folha acredite que a Justiça possa tirar a vitória do conservador Calderón, o protesto na capital mostra quão dividido está o país.
Observadores da União Européia afirmaram que não houve sinais de irregularidade na votação ou na apuração. Líderes de posturas ideológicas antagônicas, como o presidente dos EUA, George W. Bush, e o premiê espanhol, José Luís Rodríguez Zapatero, já felicitaram Calderón -que venceu por 0,57 ponto percentual, menos de 250 mil votos num total de 41 milhões.
Horas antes da manifestação, López Obrador falou à imprensa estrangeira. Disse que vai recorrer não só ao Tribunal Federal Eleitoral, para pedir a recontagem de todos os votos, mas também à Corte Suprema, para denunciar suposta intromissão do governo de Vicente Fox na campanha e uso de programas sociais com fins eleitoreiros. "Ainda não há presidente eleito", afirmou.
Antes da manifestação, Calderón afirmou em uma entrevista na TV que pedira a amigos comuns para intermediar um encontro com López Obrador. "É hora de conciliação e de pensar no futuro do país."

Ex-presidente
Ontem o juiz federal mexicano Ranulfo Castillo ordenou a libertação do ex-presidente Luis Echeverría (1970-1976), 84, que estava em prisão domiciliar desde a semana passada, acusado de genocídio pela morte de estudantes em 1968. Segundo a defesa, o juiz considerou que o crime havia prescrito. Muitos haviam criticado a prisão como medida eleitoreira.


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