São Paulo, quinta-feira, 09 de julho de 2009

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China militariza palco de conflito étnico

Secretário do Partido Comunista promete pena de morte para responsáveis por conflito que matou 156 no domingo

Capital da Província de Xinjiang foi palco ontem de tentativas de linchamento de muçulmanos por chineses da maioria étnica han

Nir Elias/Reuters
Militares chineses sobemescadas para desocupar passarela em Urumqi, capital de Xinjiang

RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A URUMQI

O secretário-geral do Partido Comunista de Urumqi, capital da Província de Xinjiang (extremo oeste da China) prometeu a pena de morte aos responsáveis pelos violentos distúrbios de domingo, que mataram, segundo o governo, 156 pessoas na Província de grande população muçulmana.
A violência étnica, que deixou mais de mil feridos, fez o presidente chinês, Hu Jintao, que estava em visita oficial à Itália, cancelar sua participação na Cúpula do G8+5, em comunicado divulgado pela Chancelaria chinesa.
Apesar de declarações do prefeito de Urumqi, de que a situação está "sob controle", ontem houve vários episódios de tentativas de linchamento de muçulmanos da minoria uigur.
Em um deles, um grupo de 15 chineses da maioria étnica chinesa han surrou um jovem uigur na rua com bastões de metal, a apenas três quarteirões do hotel onde a Folha se hospeda. A polícia, que lotava a praça, demorou para intervir.
Chineses han e uigures repetem histórias escabrosas de violência gratuita cometida pelo outro lado, mas é difícil separar boatos de fatos. O governo mantém o mesmo número de mortos, 156, desde domingo, sem dizer quantos han e quantos uigures morreram.
O maior confronto étnico na China da última década começou no domingo à noite, quando 200 estudantes uigures marcharam para protestar pelo assassinato de dois operários uigures no sul da China, mortos por colegas da maioria han.
Após a chegada da polícia, o protesto cresceu para mil pessoas, que começaram a atacar a esmo chineses han.
Faltam detalhes de como os manifestantes conseguiram matar tanta gente, apesar da chegada rápida da polícia, em uma das cidades mais vigiadas pelo Exército chinês, por seu histórico de separatismo. Tampouco se sabe se a polícia matou uigures no domingo. Pelo menos 1.500 uigures foram presos desde o conflito.

Tropas nas ruas
A capital da Província muçulmana recebeu ontem reforços de milhares de militares. Não há uma avenida ou rua importante que não esteja completamente repleta de tanques, caminhões camuflados e colunas de militares e paramilitares (que fazem a função da Polícia Militar na China).
A prefeitura determinou feriado de três dias entre segunda e ontem e toque de recolher nas últimas duas noites a partir das 21 horas locais. As mesquitas permaneceram fechadas ontem durante todo o dia.
Por alto-falantes espalhados pela cidade, locutores pediam calma à população e diziam que "Xinjiang é de todos".
É impossível ligar ou receber ligações internacionais na Província, e o governo cortou toda a internet. Apenas em uma sala de um único hotel há conexões para a rede.
Ao circular por Urumqi, a Folha foi seguida por homens à paisana de óculos escuros, que tiravam fotos do repórter e dos entrevistados.
Duas jornalistas das agências Associated Press e Efe tiveram de fugir de chineses armados com paus aos gritos de "estrangeiros, fora daqui!". O cinegrafista de uma TV espanhola foi agredido por um policial quando filmava num bairro uigur.
Ao redor do Grande Bazar, onde começaram os protestos de domingo, "ninguém sabe, ninguém viu" como a passeata se transformou em quebra-quebra, com 200 lojas destruídas e 156 pessoas mortas.
Em um hospital visitado pela Folha, todos os 60 pacientes são da maioria han. O empresário Wang Wen tinha curativos pela cabeça, no nariz e no olho direito e sofreu contusões.
Ele diz que foi arrancado do carro que dirigia por quatro jovens uigures e começou a ser agredido. "Não sei por que tanto ódio, tenho amigos uigures."


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