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China militariza palco de conflito étnico
Secretário do Partido Comunista promete pena de morte para responsáveis por conflito que matou 156 no domingo
Capital da Província de Xinjiang foi palco ontem de tentativas de linchamento
de muçulmanos por chineses da maioria étnica han
Nir Elias/Reuters
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Militares chineses sobemescadas para desocupar passarela em Urumqi, capital de Xinjiang
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A URUMQI
O secretário-geral do Partido
Comunista de Urumqi, capital
da Província de Xinjiang (extremo oeste da China) prometeu a pena de morte aos responsáveis pelos violentos distúrbios de domingo, que mataram,
segundo o governo, 156 pessoas
na Província de grande população muçulmana.
A violência étnica, que deixou mais de mil feridos, fez o
presidente chinês, Hu Jintao,
que estava em visita oficial à
Itália, cancelar sua participação na Cúpula do G8+5, em comunicado divulgado pela
Chancelaria chinesa.
Apesar de declarações do
prefeito de Urumqi, de que a situação está "sob controle", ontem houve vários episódios de
tentativas de linchamento de
muçulmanos da minoria uigur.
Em um deles, um grupo de 15
chineses da maioria étnica chinesa han surrou um jovem uigur na rua com bastões de metal, a apenas três quarteirões do
hotel onde a Folha se hospeda.
A polícia, que lotava a praça,
demorou para intervir.
Chineses han e uigures repetem histórias escabrosas de
violência gratuita cometida pelo outro lado, mas é difícil separar boatos de fatos. O governo
mantém o mesmo número de
mortos, 156, desde domingo,
sem dizer quantos han e quantos uigures morreram.
O maior confronto étnico na
China da última década começou no domingo à noite, quando 200 estudantes uigures
marcharam para protestar pelo
assassinato de dois operários
uigures no sul da China, mortos por colegas da maioria han.
Após a chegada da polícia, o
protesto cresceu para mil pessoas, que começaram a atacar a
esmo chineses han.
Faltam detalhes de como os
manifestantes conseguiram
matar tanta gente, apesar da
chegada rápida da polícia, em
uma das cidades mais vigiadas
pelo Exército chinês, por seu
histórico de separatismo. Tampouco se sabe se a polícia matou uigures no domingo. Pelo
menos 1.500 uigures foram
presos desde o conflito.
Tropas nas ruas
A capital da Província muçulmana recebeu ontem reforços
de milhares de militares. Não
há uma avenida ou rua importante que não esteja completamente repleta de tanques, caminhões camuflados e colunas
de militares e paramilitares
(que fazem a função da Polícia
Militar na China).
A prefeitura determinou feriado de três dias entre segunda
e ontem e toque de recolher nas
últimas duas noites a partir das
21 horas locais. As mesquitas
permaneceram fechadas ontem durante todo o dia.
Por alto-falantes espalhados
pela cidade, locutores pediam
calma à população e diziam que
"Xinjiang é de todos".
É impossível ligar ou receber
ligações internacionais na Província, e o governo cortou toda
a internet. Apenas em uma sala
de um único hotel há conexões
para a rede.
Ao circular por Urumqi, a
Folha foi seguida por homens à
paisana de óculos escuros, que
tiravam fotos do repórter e dos
entrevistados.
Duas jornalistas das agências
Associated Press e Efe tiveram
de fugir de chineses armados
com paus aos gritos de "estrangeiros, fora daqui!". O cinegrafista de uma TV espanhola foi
agredido por um policial quando filmava num bairro uigur.
Ao redor do Grande Bazar,
onde começaram os protestos
de domingo, "ninguém sabe,
ninguém viu" como a passeata
se transformou em quebra-quebra, com 200 lojas destruídas e 156 pessoas mortas.
Em um hospital visitado pela
Folha, todos os 60 pacientes
são da maioria han. O empresário Wang Wen tinha curativos
pela cabeça, no nariz e no olho
direito e sofreu contusões.
Ele diz que foi arrancado do
carro que dirigia por quatro jovens uigures e começou a ser
agredido. "Não sei por que tanto ódio, tenho amigos uigures."
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