São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2010

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Dissidente cubano encerra seu jejum

Guillermo Fariñas estava em greve de fome desde fevereiro último, em protesto pelos presos políticos da ilha

Fim de ato ocorre um dia após promessa de Havana de soltar 52 detentos; desses, cinco sairão imediatamente


FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

O dissidente cubano Guillermo Fariñas anunciou ontem o fim da greve de fome que mantinha havia mais de quatro meses em reação a anúncio feito por Havana de que libertará 52 dos 167 presos políticos até outubro.
"Essa confrontação entre democratas e antidemocratas não tem vencedores nem vencidos. Quem ganhou foi Cuba", diz texto assinado por Fariñas, 48, no qual explica que o protesto será "adiado" até que o governo cumpra a promessa feita à igreja.
Fariñas começou a greve de fome em 24 de fevereiro em solidariedade a Orlando Zapata Tamayo, que morreu na cadeia após 85 dias de jejum. Ele exigia a soltura de 23 presos políticos doentes.
"Estou mais tranquila, mas ainda muito preocupada, porque ele está muito mal. Tem uma infecção bacteriana", disse à Folha a mãe de Fariñas, Alicia Fernández, em sua casa em Santa Clara.
Fernández contou que, anteontem, o bispo Marcelo Arturo González entregou pessoalmente a Fariñas a nota da igreja sobre as libertações.
A cúpula católica cubana dialoga com os Castro desde maio em busca da libertação de presos políticos. A gestão começou após atos de intimidação às Damas de Branco, mulheres e parentes de 75 dissidentes presos em 2003, na Primavera Negra.
As 52 pessoas que Havana promete libertar até outubro são justamente os últimos do grupo ainda na cadeia.

PÚBLICO INTERNO
Ontem, a igreja se comunicou com familiares dos cinco dissidentes que serão libertados imediatamente -Léster González Pentón, José Luis García Paneque, Pablo Pacheco Ávila, Antonio Villarreal e Luis Milán Fernández.
Eles cumpriam pena de 15 anos a 24 anos de cadeia e, segundo as Damas de Branco, estão doentes. Todos devem deixar Cuba rumo à Espanha, parceira no diálogo.
O exílio é criticado por ativistas, que acusam Havana de trocar prisão por deportação. Os atores do diálogo negam que os ex-presos sejam obrigados a deixar o país.
"Foi uma conquista de Fariñas, de Zapata e das Damas de Branco. Por isso acho que essas vozes da sociedade civil têm de ser ouvidas", disse à Folha a blogueira Yoani Sánchez, antes de visitar Fariñas. Do hospital, ela postou via Twitter uma foto dele e a nota do fim do protesto.
"O governo cedeu, e isso demonstra fraqueza. Mas ficaria ainda mais frágil se não fizesse", continua Sánchez.

Leia repercussão mundial ao anúncio cubano

folha.com.br/mu764235


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