São Paulo, sábado, 09 de julho de 2011

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ANÁLISE/CHÁVEZ

Vácuo de poder na Venezuela não ameaçaria toda a região

MONICA HIRST
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se bem este não seja um momento de balanços definitivos, não há dúvida de que a gravidade da doença de Hugo Chávez estimula reflexões.
Há cinco anos, esse cenário teria consequências mais dramáticas, tanto para a política regional como nacional.
Naquele momento, a liderança chavista foi essencial para levar adiante mudanças no âmbito sul-americano.
Destaca-se aqui seu papel em: fomentar capacidade regional de reação aos impactos econômicos e sociais do Consenso de Washington, promover a implosão bombástica da Alca e aglutinar países que buscavam construir governos mais ancorados em bandeiras alçadas por movimentos sociais de base popular que em modelos institucionais inspirados por receitas de social-democracia.
Dois pontos devem ser sublinhados aqui. O primeiro, que não seria correto atribuir única e exclusivamente a Chávez a responsabilidade pelos feitos. Foram obra de vários, entre os quais, Lula.
O segundo, na mesma direção, de que as mudanças observadas na região nos últimos anos são de natureza abrangente e estrutural.
A presença do governo chavista integra essas transformações, mas não é uma encarnação das mesmas.
O projeto venezuelano sofre de excessiva juventude, insuficiências técnicas e burocráticas e demasiadas contradições econômicas.
Mas são inegáveis os dois sólidos alicerces do regime: um segmento militar ampliado e fortalecido materialmente e uma base social produzida por uma inédita política de inclusão social.
Trata-se, portanto, de uma experiência que espelha velhas e novas contradições, tão particulares da realidade venezuelana que se projetam regionalmente apenas no plano da retórica.
De fato, a influência política do chavismo na região tem sido exagerada por interpretações ideológicas mais do que por um processo de construção política.
Dito de outra forma, os problemas a serem criados por um vazio de poder serão sofridos essencialmente pela nação venezuelana. Neste quadro, o tempo tornou-se um recurso de extremo valor.
Para o atual governo, o desafio maior será de assegurar a continuidade de projeto marcadamente personalista que conta com uma institucionalidade "revolucionária" precária conduzido por uma hierarquia com capacidade limitada de voo próprio.
Já a oposição precisa de tempo para construir uma opção política viável que mostre capacidade de responder por via do diálogo às pressões e frustrações de expressiva parte da sociedade identificada com o atual regime.
Externamente, pesarão as reações de dois atores: EUA e Brasil. Washington deve rapidamente "desvilanizar" sua relação com Chávez de forma a não contribuir para uma nova onda de polarização que lhe será profundamente contraproducente. Já o Brasil deverá preparar-se para um novo teste de suas capacidades de mediação prudente.

MONICA HIRST é professora de politica internacional da Universidade Torcuato di Tella, em Buenos Aires


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