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DIREITOS HUMANOS
Entidade com sede na Suíça diz ter comprado cativos a US$ 50 por pessoa; Unicef critica ação
ONG liberta 2.035 escravos no Sudão
SIMON DENYER
da Reuters, em Yargot (Sudão)
A ONG (organização não-governamental) de defesa dos direitos humanos Solidariedade Cristã
Internacional afirma ter comprado e depois libertado 2.035 escravos no sul do Sudão, durante uma
viagem de sete dias ao país.
A entidade diz ter pago US$ 50
por cabeça, em dinheiro, a um intermediário árabe. A organização, com sede na Suíça, informa
ter libertado mais de 11 mil cativos
desde 1995. Essa última libertação
é recorde, segundo a instituição.
Segundo habitantes do sul do
Sudão, milícias árabes, armadas e
organizadas pelo governo em
Cartum (capital), vêm do norte
do país para sequestrar mulheres
e crianças, que, depois, são usadas
como escravas.
Desde a década de 80, o país vive uma guerra civil entre forças
leais ao governo, que quer impor
a lei islâmica a todo o Sudão, e rebeldes do sul, que seguem o cristianismo e cultos locais, e lutam
por mais autonomia.
Nesta semana, na pequena vila
de Yargot, mais de 600 escravos se
reuniram sob uma árvore para esperar pela libertação. Os meninos
escravizados trabalhavam como
pastores, e as meninas faziam serviços domésticos.
As crianças contaram histórias
de violência, estupro e assassinato
enquanto estiveram em poder
dos árabes que as capturaram.
Ayak, que disse estar perto dos
20 anos, afirmou que estava grávida quando foi capturada há três
anos na vila de Rianwei.
"Quando uma mulher tentava
escapar, todas apanhavam. Eu fiquei inconsciente uma noite inteira. Quando acordei, minha
perna estava paralisada e eu estava sangrando. Então, perdi meu
bebê", relatou.
Ela disse ter ouvido que seu marido ainda está vivo. Mas espera
que ele aceite o bebê que levará
para casa, produto de um estupro. Ela foi violentada por seu senhor árabe no norte do país.
Outra ex-escrava, Amel, passou
seis anos cativa. Ela disse que seu
marido foi morto. Dois de seus
três filhos foram tirados dela
quando chegou ao norte.
Grupos de direitos humanos
afirmam que há dezenas de milhares de escravos capturados no
sul do Sudão, depois levados ao
norte do país, a maioria trabalhando para árabes nas Províncias de Darfur e Kordofan.
Os críticos da prática da Solidariedade Cristã Internacional de
comprar escravos para depois
soltá-los afirmam que ela estimula o comércio de escravos.
Segundo Carol Bellamy, chefe
do Unicef, agência da ONU para a
infância, a organização está entrando em um círculo vicioso.
"Com US$ 50 por escravo em
um país em que a maior parte das
pessoas sobrevive com menos de
US$ 1 por dia, essa prática estimula o tráfico e a criminalidade",
disse, em comunicado.
A Unicef diz ainda ser contra,
por princípio, à compra de escravos, mesmo que com o objetivo
de libertá-los depois.
A organização suíça responde à
acusação afirmando que a escravidão já existia muito tempo antes de que seus membros começassem a libertar escravos.
Segundo a entidade, neste ano,
quando foi libertado um número
recorde de escravos, habitantes
do Sudão afirmaram que houve
menos capturas.
Mas James Jacobson, da dissidência americana da Solidariedade Cristã Internacional, a Liberdade Cristã Internacional, diz ter
encontrado provas de que crianças fingem ser escravas para
atrair os dólares do Ocidente.
"Isso se transformou em um
circo. O dinheiro do Ocidente está fazendo a situação piorar."
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