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HISTÓRIA
Documentário alemão diz que o ditador era zeloso em relação a direitos sobre seu livro "Minha Luta" e outras fontes de riqueza
TV revela obsessão de Hitler por dinheiro
STEVEN ERLANGER
DO ""THE NEW YORK TIMES", EM BERLIM
Hitler morreu rico. De acordo
com um documentário que será
transmitido pela televisão alemã,
Hitler gostava de dinheiro -tanto pelo luxo que lhe proporcionava quanto pelas lealdades que lhe
garantia- e acumulou muito durante sua vida.
Apesar do fascínio despertado
pela figura de Hitler desde seu suicídio, em 30 de abril de 1945 em
seu bunker de Berlim, enquanto o
Exército soviético o cercava, pouca atenção foi dada até agora a
suas finanças pessoais.
Embora sua imagem pública
fosse a de um homem avesso a luxos, Hitler gostava de viver em estilo grandioso. O jornalista e cineasta free-lancer Ingo Helm, 47,
que passou mais de um ano produzindo o documentário ""Hitler's Money" ("O Dinheiro de Hitler"), a ser exibido neste mês pela
TV estatal ARD, revela que ele tomava grande cuidado com a renda que recebia de seus escritos e
dos direitos sobre suas fotos.
""Hitler se enxergava como um
gênio não reconhecido, e, para
poder mudar essa situação, estava
muito interessado em conseguir
poder, dinheiro e ascensão social", afirma o jornalista.
O próprio Hitler descreveu em
grandes detalhes a pobreza e as
dificuldades pelas quais passou,
apesar de dispor de uma pequena
herança, quando era artista desconhecido em Viena antes da Primeira Guerra Mundial. Sua pobreza era motivo de profundo
constrangimento para ele.
Em ""Mein Kampf" ("Minha Luta"), com o qual ganharia milhões, ele enfatizou a dura luta pela sobrevivência travada pelo ""homem pobre e desconhecido", que,
""por seus próprios esforços, ascende para uma posição superior
na vida", dizendo que essa luta
""acaba com toda compaixão" e
elimina ""o sentimento de empatia
pela miséria daqueles que ficaram
para trás".
Segundo Helm, Hitler também
gastou milhões em dinheiro e presentes caros para comprar a lealdade de políticos e empresários e
mantê-los dependentes dele.
Hitler traçava poucas distinções
entre seu próprio dinheiro e o dinheiro do Partido Nazista ou até
mesmo do Estado. "Era tudo misturado", diz Helm. Além disso, ele
não pagava impostos.
Boa parte de sua fortuna vinha
dos direitos autorais sobre o best-seller ""Minha Luta", misto de autobiografia e tratado político. O livro é proibido na Alemanha até
hoje. Mas, na época, cada casal
que se casava recebia de sua comunidade local uma cópia.
De acordo com Helm, Hitler ganhou cerca de 7,8 milhões de
reichsmarks só de direitos autorais sobre o livro. É difícil fazer
uma avaliação precisa do valor
em moeda de hoje, mas, segundo
Helm, o reichsmark provavelmente valia o equivalente a entre
US$ 5 e US$ 8 hoje.
Além disso, o fotógrafo Heinrich Hoffman, amigo de Hitler e
em cuja loja o líder nazista conheceu Eva Braun, com quem se casaria logo antes de morrer, detinha
os direitos autorais exclusivos sobre os retratos oficiais de Hitler
usados em selos postais e escritórios do governo.
Helm diz que não pode provar
que Hitler recebesse alguma porcentagem sobre esses direitos,
mas que acredita que sim. A lei limitava a duração dos direitos autorais a dez anos, mas Hitler autorizou a extensão para 25 anos dos
direitos sobre o que Hoffmann
chamava de seu ""trabalho de arte
fotográfico" sobre o führer.
Hitler também se beneficiou
muito de contribuições feitas por
empresários individuais e por
grandes empresas -muito mais
depois de chegar ao poder do que
antes. Entre o momento em que
se tornou chanceler, em 1933, e
sua morte, Hitler recebeu cerca de
700 milhões de reichsmarks de
empresas, disse Helm -um valor
bastante superior a US$ 3 bilhões.
Em troca, os empresários ganharam muito mais sobre seus investimentos e seu trabalho de guerra.
Após a guerra, os bens de Hitler,
incluindo uma casa em Munique
que ele construíra para Eva
Braun, foram entregues ao Estado
da Bavária pela Comissão de Controle dos Aliados. Hitler não deixou filhos ou herdeiros diretos,
mas sua meia-irmã, Angela Raubal, tinha filhos, e há outros descendentes de sua mãe que hoje vivem no norte da Áustria.
Os herdeiros pediram a Werner
Maser, conhecido historiador alemão da era do nazismo, que pesquisasse seus direitos. Eles argumentaram que os direitos autorais não podem ser desapropriados, como podem os bens físicos.
Queriam a renda dos direitos autorais. Mas, segundo Helm, os
herdeiros entraram em desacordo entre eles, e não foi aberto nenhum processo na Justiça para pedir os direitos autorais.
Tradução de Clara Allain
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