São Paulo, quinta-feira, 09 de agosto de 2007

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análise

Os EUA entre a contenção e a agressão ao Irã

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Num press release Nicholas Burns, subsecretário de Estado americano, reproduziu o que disse depois numa comissão do Congresso sobre o Irã no lugar da ex-União Soviética na Guerra Fria. O regime iraniano representaria hoje o que Moscou foi no passado, o maior desafio aos interesses do Ocidente, sobretudo dos EUA. É adotada a mesma estratégia que derrotou e acabou destruindo a ex-URSS, a da "contenção". Emprego de "diplomacia pesada", com inserções de ameaças militares, como o envio ao golfo Pérsico de um segundo porta-aviões.
A ABC News informou que Bush autorizou a CIA a executar "operações encobertas" que desestabilizem o Irã. É a velha guerra suja, ontem contra a "ameaça comunista", hoje contra a "ameaça islâmica radical". Em 1953, ela ajudou a derrubar o governo nacionalista do mesmo Irã. A "contenção" pode esticar limites, mas a sua essência, como foi feito com a ex-URSS, é alcançar objetivos por meio de pressões e intimidações, sem chegar às vias de fato.
Há riscos; e sérios. Um especialista em Oriente Médio, Roger Hardy, avisou que "tanto em Washington como em Teerã existem diferentes centros de poder com agendas próprias, de pombos a falcões". O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, Mohamed el Baradei, falou da existência de "malucos que gostariam de ir em frente e bombardear o Irã".
O alvo da irritação foi a turma do vice-presidente americano, Dick Cheney. A secretária de Estado, Condoleezza Rice, a cargo da "contenção" junto com o secretário da Defesa, Robert Gates, saiu em campo de imediato. "Nossa opção é a diplomacia", afirmou Rice. Ela e Gates conduzem a montagem de uma frente anti-Irã juntando paises árabes "moderados" e Israel. As promessas de entregas bilionárias de armas são parte do esquema. Nele também se incluem manifestações de "soft power". Washington gasta milhões de dólares em transmissões em farsi. Como não tem relações com o Irã, instalou escutas sobretudo em Dubai, onde é grande a concentração de iranianos.
E se a contenção falhar, não conseguindo isolar o Irã, conter a expansão de sua influência e ambições nucleares? Uma das hipóteses é a de que o caminho ficaria livre para a turma de Cheney, da qual faz parte Elliot Abrams, um dos personagens de ponta da guerra dos anos 80 na América Central. Hoje cuida do Oriente Médio no Conselho de Segurança Nacional.


O jornalista NEWTON CARLOS é especialista em questões internacionais


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