São Paulo, terça, 9 de setembro de 1997.



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Conheça a história do ditador africano

JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

Mobutu Sese Seko Kuku Ngben du Wa Za Banga morreu como tantos ditadores no exílio. Em lu gar de compaixão, inspira curiosi dade sobre o destino de sua fortu na pessoal, que o governo da Bélgi ca chegou a estimar oficiosamente em US$ 3,5 bilhões.
Algo notável para um homem de origem modesta, que só teve em pregos públicos ao longo de sua carreira. Foi nos anos 50 oficial de uma espécie de polícia militar que os colonizadores belgas criaram para impedir conflitos entre as cerca de 300 etnias do Congo.
Não estava, com a independên cia, em 1960, entre as lideranças de primeira linha. Crescia na época como líder tribal dos Gbandi.
Eclodiu uma guerra civil. O pre sidente Kazavubu e o primei ro-ministro deram uma orienta ção pró-soviética ao novo regime.
O Ocidente (EUA, Bélgica, Fran ça) reagiu. Alimentou a secessão, comandada por Moisés Tchombé, na Província rica em minerais de Katanga. E estimulou uma rebe lião militar comandada por um homem providencial. Que foi jus tamente Mobutu Sese Seko.
Ele governou o ex-Zaire por qua se 32 anos, a partir de novembro de 1965. Foi deposto em maio últi mo por um movimento militar eclético, de inspiração étnica e po lítica, sob o comando de Lau rent-Désiré Kabila.
Deixou seu país falido. Com o fi nal da Guerra Fria, os EUA sus penderam seus programas de aju da. Mobutu não era mais o aliado que impedia a suposta expansão regional soviética. E ainda: eram por demais evidentes as provas de desvio do dinheiro para os cofres pessoais do ditador.
Para um país sentado sobre as mais ricas reservas minerais não-petrolíferas da África Negra, o Zaire possui hoje pouco mais de US$ 100 de renda média anual. Metade das crianças sofre de palu dismo. A saúde pública está em co lapso.
Quase nada foi feito em termos de escolas e estradas. Mobutu dei xou um orçamento anual de US$ 672 milhões, dos quais reservou mais da metade para os 25 homens de sua hoje extinta guarda pessoal.
Ele não foi convencional em seu pró-ocidentalismo. Adotou uma retórica e um estilo socializantes. Aboliu as palavras "senhor" ou "excelência" na administração pública. Todos se tratavam por "cidadão". Africanizou os preno mes cristãos. Nacionalizou as grandes empresas em 1973, no que recuaria em seguida.
Em termos regionais, deu apoio logístico à guerrilha pró-EUA na guerra civil de Angola. Apoiou, na África do Sul, os adversários do CNA (Congresso Nacional Africa no), partido de Nelson Mandela.
Tentou uma abertura democrá tica, interrompida pateticamente pela dissolução, em 1992 e em 1994, de organismos representati vos que chegou a tolerar por pres são ocidental.
O "mobutismo" era incompatí vel com a democracia. Fundamen tava-se na ausência de controles sociais que inevitavelmente coibi riam a corrupção.



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