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ÁFRICA
Proprietários de boa parte das terras férteis, eles acreditam que a invasão de suas fazendas seja uma forma de "limpeza étnica"
Brancos do Zimbábue se dizem perseguidos
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
Os fazendeiros brancos do Zimbábue patrulham em grupos pequenos, geralmente em duplas, as
estradas próximas a suas propriedades, mantendo contato permanente pelo rádio a fim de evitar
novas invasões de terra. Pelo menos nove brancos já morreram
devido à crise fundiária.
"É uma verdadeira tentativa de
limpeza étnica", acusa Vernon
Nicolle, fazendeiro atacado recentemente. "Não há dúvida alguma
de que esta campanha é orquestrada e tem como objetivo expulsar os brancos. Não é uma ação
organizada por agricultores pobres, como alega o governo. Esse
idiota do Mugabe [o presidente
Robert Mugabe, no poder desde a
independência do país, em 1980"
está por trás disso tudo. Na Europa, isso se chama limpeza étnica."
Para os brancos, a intenção não
é redistribuir a terra -cuja repartição, herança britânica, é totalmente desigual-, mas expulsá-los do Zimbábue. Os brancos representam 1% da população (de
11 milhões) e são proprietários da
maior parte das terras férteis.
Mugabe declarou diversas vezes
que a guerra de libertação dos
anos 1970 contra os brancos continua e que eles ainda são "inimigos". No mês passado, o vice-presidente zimbabuano, Joseph Msika, chegou a afirmar que "os
brancos não são seres humanos".
Os ataques mais recentes, desde
15 de agosto, concentram-se em
uma área de 260 km2 ao norte da
cidade de Chinoyi. O alvo principal são as fazendas em Doma, onde um terço das casas pertencentes a brancos foi saqueado.
Zimbabuanos negros que se dizem veteranos de guerra -apesar da pouca idade- ordenaram
aos brancos que nunca mais pusessem os pés na região.
As mulheres e as crianças abandonaram 90 fazendas e foram sobretudo para a capital, Harare, e
para a África do Sul. "Mandamos
todo mundo embora: mulheres,
crianças, idosos, doentes. Não sabíamos se os comboios conseguiriam sair por causa dos problemas... Só sobramos nós", afirma
Anthony Manning, que coordena
a segurança em Doma.
Atualmente há apenas 34 brancos na região. "Não vamos nos
render, não importa o que aconteça. Podem destruir nossas casas
à vontade, não vamos partir", diz
Manning. "Temos entre nós pessoas experientes. Sabemos como
lidar com esse tipo de problema.
Possuímos armas para isso."
As patrulhas costumam notificar a polícia sobre ataques contra
casas ou sobre a passagem de um
comboio de saqueadores. Os fazendeiros utilizam palavras irônicas para elogiar a "rapidez" com
que a polícia interveio para prender 21 brancos acusados de incitação à violência e ataque a negros,
o que desencadeou a onda de violência em agosto, alega o governo.
Os brancos dizem que é quase
impossível encontrar policiais
quando são atacados. "A polícia
se retirou da área para permitir a
pilhagem", afirma Manning.
"Atacaram uma fazenda situada a
5 km da delegacia. Quando chamamos os policiais, eles disseram
que estavam sem carro. E, quando lhes propusemos trazê-los,
disseram que não estavam autorizados a andar em veículos civis."
A propriedade de Manning já
foi atacada. "Cerca de 250 pessoas
chegaram em sete tratores e reboques", afirma. "Carregavam machados e tacos, e um deles quebrou o braço de meu contramestre com uma barra de ferro. Se tivéssemos ficado, também teríamos sido mortos com ele."
Em outra fazenda, a Dawn, um
dos funcionários contou que saqueadores levaram cortinas, tapetes e objetos de decoração. Em seguida, roubaram aparelhos eletrônicos. Depois, retiraram camas, armários e louças sanitárias.
Esvaziada a casa, levaram as ferramentas agrícolas que acharam.
Na fazenda de Stirling Vale, destruíram a cozinha industrial. A intenção não era roubar, mas impossibilitar sua reutilização, acusa
o proprietário. Para os fazendeiros, esse tipo de ação mostra que o
objetivo é expulsá-los do país.
"Por que eles destruiriam um forno ou uma geladeira se não fosse
para isso? Eles querem impedir
que nós fiquemos. Isso pode até
acontecer em alguns casos, mas a
maior parte de nós não vai ceder.
Vamos aguentar a pressão até que
esse idiota do Mugabe vá embora", promete um fazendeiro.
O governo diz que as invasões
são operações espontâneas que
contam com a presença de funcionários de fazendas cujos patrões cometem abusos. O ressentimento em relação às condições
de trabalho os impulsionaria.
"Nossos funcionários estão em
uma situação extremamente difícil. Esses idiotas [do governo" disseram que eles não tinham terras
e que foi por isso que eles fizeram
isso. É mentira. Temos uma aldeia
correta, com água, eletricidade e
uma escola. Não são eles que ocupam nossas terras. Eles ficaram
no meio do fogo", alega Manning.
Com a crescente pressão internacional e a intervenção de países
africanos, é possível que, após ter
soprado a brasa, o governo tente
acalmar a situação e se apresente
como um mediador entre negros
sedentos de terras e brancos nostálgicos da Rodésia do Sul.
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