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EUA
Estudo em escolas públicas de Minnesota indica que quase 9% das garotas e 6% dos rapazes já sofreram abusos de colegas
Violência e estupro entre jovens alarma americanos
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Quase 9% das garotas e exatos
6% dos rapazes da oitava série do
ensino fundamental e da terceira
série do ensino médio de escolas
públicas do Estado americano de
Minnesota já foram vítimas de
violência ou de estupro em encontros com pessoas que conheciam, segundo um estudo exposto há duas semanas na Associação
Americana de Psicologia.
As responsáveis pela pesquisa,
realizada em 1998, também descobriram que as vítimas de ambos
os sexos tinham mais chances de
apresentar problemas emocionais, incluindo inclinação ao suicídio e distúrbios alimentares, do
que os outros jovens.
Com quase 6% dos estudantes
de ambos os sexos relatando alguma forma de violência relacionada a encontros já na oitava série
do ensino fundamental, existe a
necessidade de iniciar os esforços
preventivos antes do ensino médio, segundo a principal autora
do estudo, a doutora em psicologia Diann Ackard.
"Medidas preventivas têm de
ser tomadas antes de os adolescentes chegarem ao ensino médio. Isso porque os pais podem
desempenhar um papel crucial na
prevenção desse tipo de violência", declarou Ackard à Folha.
"Afinal, eles podem conversar
sobre relações afetivas com seus
filhos e funcionam como modelo
de conduta para os adolescentes
no que se refere a relações verbais,
físicas e sexuais entre duas pessoas. As autoridades também deveriam participar desse esforço,
pois podem deter os jovens infratores, fazendo com que os níveis
de reincidência sejam mais baixos", acrescentou.
Enquanto estudos similares
precedentes chegaram a conclusões parecidas no que concerne às
adolescentes, o trabalho de Ackard e da doutora em nutrição e
saúde pública Dianne Neumark-Sztainer, da Universidade de Minnesota, mostrou originalidade ao
examinar as experiências de jovens do sexo masculino. Contudo
ele não esclarece se os adolescentes sofreram abusos de pessoas do
mesmo sexo ou não.
"Os rapazes tendem a falar mais
em violência física em encontros,
não em estupro. Na verdade, a
possibilidade de que as jovens
agridam seus parceiros não nos
surpreende. Entretanto também é
possível que os jovens tenham sofrido abusos quando estavam
com outros rapazes. Nossa pesquisa não tem dados apropriados
para responder a essa questão",
explicou a psicóloga, que tem um
consultório particular em Golden
Valley, a leste de Minneapolis.
Amostra significativa
A pesquisa é ainda mais importante em razão do tamanho da
amostra utilizada por Ackard e
Neumark-Sztainer: 81.247 estudantes. O grupo não é perfeitamente ilustrativo da diversidade
da população americana, porém,
graças ao tamanho da amostra,
pode ser transposto para Estados
americanos com populações similares. Estudos precedentes utilizaram amostras que não passavam de 5.000 adolescentes.
"A amostra é enorme, no entanto quase 95% dos entrevistados
eram brancos. Assim, os resultados só podem ser estendidos a Estados americanos que têm uma
composição demográfica similar,
como outros do Meio-Oeste. Indiana e Iowa são dois bons exemplos", afirmou Ackard.
No início de agosto, Jay Silverman, da Escola de Saúde Pública
da Universidade Harvard, publicou um estudo no "Journal of the
American Medical Association"
em que afirmava que cerca de
20% das estudantes do ensino
médio do Estado de Massachusetts tinham sofrido abusos físicos ou sexuais em encontros. Ele
utilizou como amostra 4.163 estudantes de escolas públicas.
"O estudo de Silverman chegou
a conclusões similares às de nosso
estudo no que diz respeito a garotas que sofreram abuso sexual em
encontros, pois as jovens entrevistadas por ele também demonstraram ter tendência a distúrbios
alimentares e a pensamentos suicidas", explicou Ackard.
"Entretanto a pesquisa dele não
incluiu rapazes. Além disso, os níveis de violência em encontros
são substancialmente mais altos
em seu estudo do que no nosso,
20% contra 10%. Isso se deve a
dois fatores. Primeiro, à forma como as questões foram formuladas. Segundo, às diferenças demográficas existentes entre Minnesota e Massachusetts."
Na pesquisa realizada em Minnesota, não havia uma definição
dos termos "violência em encontros" e "estupro em encontros".
"Isso significa que os estudantes
tinham o direito de interpretar os
termos. Pesquisas futuras deverão incluir as definições objetivas
de cada termo. Com isso, poderemos ter uma noção mais clara do
problema", disse Ackard.
Consequências graves
A relação existente entre abusos
em encontros e distúrbios alimentares ou tendências suicidas é
muito preocupante, de acordo
com a psicóloga. Afinal, mais de
50% dos jovens que disseram ter
sido vítimas tanto de violência
quanto de estupro em encontros
(3% das garotas entrevistadas e
2,2% dos rapazes) também afirmaram já ter tentado suicidar-se.
"A natureza de nosso estudo
não era longitudinal. Assim, não
podemos relacionar com certeza
as causas e os efeitos. Contudo,
entre as pessoas que relataram
violência e estupro em encontros,
os índices de distúrbios alimentares, como sintomas de bulimia ou
de anorexia, foram bastante altos", apontou Ackard.
"Ademais, as tentativas de suicídio foram muito mais frequentes
entre os jovens desse grupo. Eles
também apresentaram problemas relacionados à auto-estima e
ao bem-estar emocional. Tudo isso é bastante preocupante."
Ackard e Neumark-Sztainer
concluíram que experiências
traumáticas durante encontros
com pessoas conhecidas podem
provocar o rompimento de processos de desenvolvimento normais dos adolescentes. De acordo
com elas, esse rompimento se
manifesta em pensamentos, sentimentos e comportamentos. Elas
exortam outros pesquisadores a
conduzir estudos que explorem
os efeitos das experiências traumáticas nos adolescentes.
A pesquisa foi muito bem acolhida pela Associação Americana
de Psicologia após a apresentação
feita por Ackard, em 26 de agosto.
"A maioria dos psicólogos que me
procuraram expressou preocupação quanto à saúde e ao bem-estar
dos jovens. Buscamos reduzir o
problema", concluiu a psicóloga.
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